sábado, 26 de novembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011


17º Goiânia Noise

02 e 03 de Dezembro - 2011-  Programação
























Do site da Monstro Discos: "17 anos. Música independente de verdade. O mais profundo raio-x da cultura alternativa brasileira. Novas experiências. O tesão de sempre.


Em sua 17ª edição seguida, o Goiânia Noise sai da zona de conforto e inova mais uma vez. Uma programação condensada em duas noitadas de rock sem parar! Trinta e três bandas de todo o País e ainda três atrações internacionais de peso! Nomes como The BellRays, Gerson King Combo, Raimundos, Siba, Cidadão Instigado, DeFalla, Delinquent Habits e muito mais.

Diferentes estilos, linguagens e sotaques. Menos nhém-nhém-nhém e mais rock! Um apavorante e inusitado Museu dos Monstros. A participação mais do que especial de Gil Brother, o Away de Petrópolis. HQs, livros, design, cinema, moda, tecnologia... artes integradas. Tudo reunido num dos lugares mais tradicionais de shows de Goiânia: o Sol Music Hall, no Jaó.

Goiânia Noise Festival, a maior festa do rock independente brasileiro!

Cai dentro!!!

Dia 2/12 – Sexta-feira

18h – Chacina (GO)

18h30 – Black Queen (GO)
19h – Atomic Winter (GO)
19h30 – Lady Lanne (GO)
20h – The Neves (DF)
20h30 – FireFriend (SP)
21h – Peixoto e Maxado (SP)
21h30 – Space Truck (GO)
22h – Oitão (SP)
22h30 – BigBang (Noruega)
23h – Hellbenders (GO)
23h30 – Bang Bang Babies (GO)
00h – Delinquent Habits (EUA)
00h30 – Os Haxixins (SP)
01h – Raimundos (DF)
01h50 – Cidadão Instigado (SP)
02h40 – The BellRays (EUA)

Dia 3/12 –
Sábado

17h – Doentes do Amor (GO)

17h30 – Seletiva DF (vencedor: DARSHAN)
18h – Kamura (GO)
18h30 – Dry (GO)
19h – The Galo Power (GO)
19h30 – The Pro (DF)
20h – Vida Seca (GO)
20h30 – Diablo Motor (PE)
21h – Bambinos Selvagens (RS)
21h30 – Beach Combers (RJ)
22h – Kães Vadius (SP)
22h30 – Cassim & Barbária (SC)
23h – Mechanics (GO)
23h30 – Brollies and Apples (SP)
00h00 – Claustrofobia (SP)
00h30 – Violins (GO)
01h00 – DeFalla (RS)
01h50 – Siba (PE)
02h40 – Gerson King Combo (RJ)

17 de novembro de 2011

Em dezembro

17º Goiânia Noise será no Sol Music Hall


Além de Raimundos, o pernambucano Siba também integra o line-up do festival (Foto: reprodução)

Raisa Ramos

Todo bom goianiense que se preze, quando novembro se aproxima, fica ansioso em saber quais são as grandes atrações de um dos maiores festivais de música independente do País, o Goiânia Noise, que este ano chega a sua 17ª edição. Desta vez, a ansiedade do público é ainda maior, porque, pela primeira vez, o evento é organizado sem a pitaco de Fabrício Nobre, que, em abril deste ano, saiu da Monstro Discos para se dedicar ao seu novo projeto, a Construtora Música e Cultura. O resultado prático disso: um festival mais enxuto, com apenas dois dias de programação, concentrado em uma única coisa: música de qualidade. Mas não é apenas essa a novidade. O Noise, como é carinhosamente chamado pelo público fiel, será realizado no primeiro fim de semana de dezembro, nos dias 2 e 3. Além disso, o local também mudou: será no Sol Music Hall, no clube Jaó.

Antes de atirarem pedra, Leo Razuk, um dos organizadores, explica: "Tínhamos agendado no [Centro Cultural] Oscar Niemeyer, mas recebemos um comunicado do [Nasr] Chaul [gestor do local], na semana passada, falando que as reformas não ficarão prontas a tempo". Com a bomba na mão, o trio responsável pelo evento - Razuk, Leo Bigode e Márcio Jr. - tiveram que correr contra o tempo e atrás de um novo lugar para abrigar o festival grandioso. Eles pensaram, pensaram e pensaram mais um pouco até escolherem o Sol Music Hall como substituto. "É diferente, mas vai ser legal. Fizemos algumas visitas e constatamos que é a melhor opção", diz Razuk. Mas e o Martim Cererê, que é o lugar mais procurado quando o assunto é festival de música independente? Antes mesmo de ser questionado sobre isso, o sócio da Monstro continua: "Não queríamos o Cererê porque acreditamos que o Noise é maior do que o lugar pode oferecer. Buscamos um local grande, que desse conforto e qualidade, por isso escolhemos o Sol".

Confirmações
Há algumas semanas, os amantes do rock ficaram extasiados com uma notícia boa: o festival estava negociando trazer a Sofly, banda de Max Cavalera, para Goiânia. Como quem conta um conto aumenta um ponto, logo já se escutava "Você viu? Sofly está confirmado no line-up do Noise!". Mas não estava. Márcio Jr. esclarece as coisas: "Os boatos ficaram muito fortes, mas nunca chegamos a confirmar. Não deu certo de trazer a banda". Pois é, não vai ser dessa vez que os goianienses vão ver o grupo de metal. Para compensar, a Monstro confirmou em seu Twitter oficial alguns nomes de peso, garantidíssimos na programação: o pernambucano Siba, a lenda viva da black music Gerson King Combo e os rappers estadunidenses do Delinquent Habits.

Em conversa com A Redação, Leo Razuk divulgou outros nomes que ainda não foram jogados nas redes sociais: o conhecido Raimundos, o pesado Claustrofobia e o catarinense Cassim & Barbária. "Este ano, buscamos colocar na programação bandas diferentes, bandas que gostaríamos de ver tocar. Nas últimas edições, o Noise se desvirtuou um pouco da música, mas voltamos a focar nos grupos", comenta Razuk. Ele ainda atiça a curisidade do público: "Nossa programação vai ser diversa, com bandas diferentes, algumas consagradas, outras novas, algumas apostas... O Noise sempre foi uma vitrine, sempre pautou outros festivais. Queremos resgatar isso".

Preços
A organização ainda não sabe dizer quanto os ingressos vão custar. Por conta da mudança de lugar, outros gastos devem ser levado em consideração, como o aluguel do local, por isso essa questão ainda está indefinida. Outro agravante é o patrocínio, escasso este ano, feito apenas pela Petrobrás e pela Lei Municipal de Cultura. Como Márcio Jr. trabalha atualmente na Agepel, o festival não pode participar da seleção para a Lei Goyazes. "O maior patrocinador do evento, na verdade, é o público. Procuramos estabelecer um preço honesto, mas que, ao mesmo tempo, dê para cobrir os gastos. A verba da Petrobrás, por exemplo, é de R$ 250 mil, mas o festival custa o dobro disso", conta Razuk.

Fonte: A Redação

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Baú das Séries: 

Buffy The Vampire Slayer



Uma das séries da minha vida. Eu poderia encerrar o texto aqui e muitos entenderiam esse sentimento.

No texto sobre Firefly, eu disse “entre as sete temporadas da história da caçadora de vampiros e as cinco de seu spin off, eu prefiro os 14 episódios (e o filme) de Firefly. Algumas pessoas pensaram que eu não fã da obra-prima que revelou o gênio Joss Whedon, certo que tenho uma preferência pela tripulação da Serenity, mas seria estúpido em não reconhecer a qualidade dessa sensacional série que é até hoje cultuada ao redor do mundo.

Buffy é uma daquelas séries em que você vê e revê aos episódios sem parar porque é como uma droga. Vicia e não te larga, uma companhia perfeita nas tardes chuvosas, onde a única coisa necessária para fazer seu dia é um pouco de pipoca e uma lata de coca-cola para assistir aos episódios mais criativos que a televisão já proporcionou. Essa série marcou minha adolescência e é a série que me iniciou ao maravilhoso mundo das séries, graças a Rede Globo que transmitiu na TV aberta por aqui. Ela me deu o meu personagem preferido do mundo das séries (você descobre qual clicando aqui e me seguindo no twitter), apenas UM episódio musical, mas um musical tão brega que consegue ser melhor que as duas temporadas de Glee JUNTAS. Inúmeras referências de coisas que eu nunca tinha ouvido falar, na verdade, as referências são tantas, que até na última temporada da série, o Andrew faz uma a Dragon Ball, além de ter a melhor referência ao massacre de Columbine já feita na TV. Essa é uma série, que mesmo tendo os chamados “casos da semana”, deixa você grudado do início ao fim e não lhe permite se levantar nem na hora de sua magnífica abertura. Eu até gostava de algumas das músicas emos que tomavam conta do Bronze quando a Scooby Gang ia se divertir depois de uma boa noite matando demônios, vampiros, deuses, etc.

Essa série não é apenas uma que foi tão boa que merece uma homenagem em um blog sobre séries, ela é uma daquelas que você TEM que ver. Se você chegar ao último dia de sua vida sem ver um episódio de Buffy, você não vai morrer em paz.

Toda a história começou assim: a mente genial de Joss Whedon decidiu tirar onda com o estigma dos filmes “da garotinha loira que entra em um beco escuro e é morta em cada filme de terror”. Ele então escreveu um roteiro para um filme, que acabou se tornando uma bela de uma porcaria – se você não viu a série, não precisa ver o filme. CORRAM do filme. Whedon disse que, “Eu tinha escrito este filme assustador sobre uma mulher com poderes, e eles transformaram em uma grande comédia. Foi esmagador”. A série que veio em seguida foi genial, então acho que a culpa do filme ter saído uma porcaria não foi dele.

Whedon utilizou muito bem o clima high school para expor as angústias das pessoas utilizando-se de estudantes de uma cidadezinha do interior, esta cidade chama-se Sunnydale e é o local ideal para indicar àquele amigo que você não vai com a cara para passar as férias. Lá temos uma linda e bela hellmouth que atrai todo tipo de coisa ruim que existe nesse mundo, além de deuses de outras dimensões, lógico.

Muitas pessoas não gostam do início de Buffy, mais exatamente a primeira temporada, e eu sou uma delas. Minha diva Sarah Michelle Gellar tinha um carisma enorme, mas atuar não era o negócio dela, e Buffy não conseguiu vencer em seus 12 primeiros episódios os estigmas que tentava bater. Buffy Summers era uma adolescente super poderosa, mas que não passava a segurança de uma heroína. Seus amigos tinham apenas função de realizar sacadas sarcásticas extremamente superficiais. Willow (Alyson Hannigan) tinha rostinho fofo e voz calma, mas não passava de uma nerd sem graça, que chegava a ser irritante; Xander (Nicholas Brendon) era um patético personagem que não me arrancou uma risada se quer e que em TODA a série só serviu para: 1) falar com Buffy sobre seu medo de relacionamentos no episódio em que o Riley vai embora na quinta temporada. 2) Ter um relacionamento com a Anya e nos agraciar com um dos melhores episódios de casamento que já vimos. 3) Salvar o mundo no Season Finale da 6ª temporada. 4) Ter um diálogo muito bom com a Dawn sobre o fato de eles serem os únicos da gangue que não possuem poderes na última temporada. Pode parecer muita coisa, mas não foi… Sim, eu não fui com a cara do Xander se você ainda não percebeu! Os únicos com quem eu me importava era o Angel (David Boreanaz), um vampiro que tocou o terror séculos atrás e acabou sendo amaldiçoado por ciganos e o Giles (Anthony Stewart Head), nosso estranho britânico tentando se adaptar aos EUA com a missão de ser o guardião da caçadora.

Outro problema da série na primeira temporada foi a caracterização superficial dos vampiros, a ausência da crítica social que a série prometia e a maneira com que a narrativa encerrava alguns episódios. Buffy matava o monstro, mas só descobríamos o que ele era nos 10 segundos finais do episódio (literalmente).

Isso tudo não quis dizer nada para a série, tanto é que na quase perfeita segunda temporada, o Messias dos vampiros foi tirado de cena o mais rápido possível. Whedon sabia que a história não ia dar certo e seguiu em frente, trazendo o melhor plot que uma série vampiresca já fez: Angel voltando a ser mal e se aliando com o recém-chegado Spike (interpretado pelo SENSACIONAL James Marsters) e Drusilla (Juliet Landau). Esse é outro trunfo da série: ter um showrunner que sabe o que faz e que não tem medo de arriscar. Joss Whedon cresceu junto com Buffy durante as sete temporadas da série, adicionou e se livrou de personagens sem medo do que o público pensaria, chegando ao ponto de adicionar uma irmã para a protagonista que não foi nem mencionada nas quatro primeiras temporadas da série para depois transforma-la no ponto chave da melhor temporada da série (estou me referindo a 5ª) e pegar a Anya, que era apenas uma vilã de um episódio de caso da semana, e fazer dela uma personagem coadjuvante muito carismática que fala o que lhe vem à cabeça, na maioria das vezes colocando a gangue em uma saia justa. Escreveu episódios que nunca caberiam em outro universo de outro seriado que até hoje são IMITADOS por outras séries, tornando tudo aquilo em um universo próprio, que poucas séries conseguem ter e desafiou aos críticos que marcaram o ponto alto da série como seus diálogos, Whedon olhou para as letras desse herege, sentou-se à mesa dos roteiristas e escreveu “O” melhor episódio da série: 4×10 – Hush. Uma das mais aterrorizantes horas de TV que já foram escritas, com apenas 17 minutos de diálogos, Whedon passou toda angústia de uma Sunnydale sem voz e estabeleceu que mesmo uma série tendo uma vasta mitologia, ela pode transformar um simples “caso da semana” em algo completamente memorável.

Buffy foi uma série ótima também por não ter pena em gastar dinheiro, a cada vampiro morto a produção gastava cerca de cinco mil dólares para fazer do nosso entretenimento o melhor possível com efeitos de alta qualidade para a época e muito melhor do que os de muitas séries em exibição atualmente. Agora, imaginem se eles tivessem matado todos os vampiros do jeito convencional no Series Finale da série? Daria mais dinheiro que o Pilot de Lost. O interessante é que mesmo assim, a produção peca por não utilizar sangue falso suficiente nas mordidas dos vampiros e por proporcionarem a cena de bala perdida mais estranha da história (quem viu a sexta temporada sabe do que eu falo).

O que era apenas uma série bobinha cresceu e tornou-se cruel, tanto com seus personagens como com seu público, às vezes alternando suas histórias sobre amor, traição, confiança, homossexualidade e morte em um mesmo episódio e outras vezes dedicando a cada um desses temas um episódio temático, como no caso da morte em The Body, que é por merecimento a Emmy Tape do Emmy que a Sarah não ganhou por sua atuação, trabalhos como o que ela fez aqui merecem ser reverenciados por passarem ao espectador, o que é a morte, uma dor crua, passada através de uma interpretação espetacular, a ausência de trilha sonora e um mix perfeito de direção e roteiro de Joss Whedon. Eu poderia, modéstia à parte, escrever centenas de palavras só para falar da cena em que Buffy entra em sua casa e encontra sua mãe morta, mas temos que continuar…

A Scooby Gang é uma daquelas turmas que acabam se unindo e nunca se desgrudando ao ponto de retirar um de seus membros do paraíso e trazê-lo de volta a terra utilizando magia negra, mesmo sabendo dos perigos posteriores, essa gangue está no hall daquelas turmas como os 6 amigos de Friends, os bêbados de Cheers e a família Bundy que normalmente são características de sitcoms de sucesso. Essa é outra característica de Buffy The Vampire Slayer, a conciliação entre ação e comédia que parte das vezes falha por causa por causa do Xander, mas é compensada pelos vilões das temporadas, que é algo marcante de cada temporada da série, o Trio, o amado prefeito de Sunydale, Caleb e o Primeiro, Adam e a Iniciativa, cada temporada teve seu vilão especifico que acaba sendo derrotado no Season Finale, com exceção da sexta, onde o vilão propriamente dito foi a Willow, que se viciou em magia negra e tentou destruir o mundo em busca de vingança pela morte da Tara.

A partir da quarta temporada, tudo muda no universo da série, a escola é destruída depois da épica batalha contra o Prefeito e o foco da série é no desenvolvimento dos personagens fora de casa, um dilema que todos eventualmente têm que enfrentar, daqui para frente, não são mais crianças lutando contra as forças do mal, eles tem que se preocupar também com suas vidas pessoais, a história de Buffy é mal entendida pelas pessoas, não é uma garota que ganha poderes e luta contra o mal, se você tem esse pensamento, é uma pena porque Buffy fala de uma pessoa que não pode se afastar de seu destino, ela é escolhida e ela acaba abraçando seu destino de proteger os outros, o que a fez jogar fora todos os seus relacionamentos desenvolvidos no decorrer da série (uma pena porque eu queria ver ela e o Spike juntos), às vezes de forma tão forte que a acusam de ela se declarar superior aos outros e é nisso que se baseia a última temporada da série, enquanto em outros momentos, como na quinta temporada, temos um grupo coeso e unido, mesmo sem esperança, mas com um motivo para lutar, na última também temos essa falta de esperança, mas a gangue já sofre por não ter motivos para ir a luta, durante muito tempo sempre houve confiança na figura da caçadora para inspirar todos a irem a luta, mas Caleb e o Primeiro acabaram com esses motivos, ao contrário de Glory, não se tinha mais um plano, nem uma saída e as mesmas pessoas que a abraçaram na vitória, a expulsaram do grupo no momento em que ela mais precisava de apoio.

Buffy é também uma das séries mais subestimadas da história nas premiações, a indicação de Joss por melhor roteiro em Hush não é suficiente para um seriado que fez tanto pela TV, Alyson Hannigan também merecia por seu trabalho em episódios fantásticos como Doppelgangland e Wrecked, Sarah Michelle Gellar e James Marters a partir da segunda temporada deveriam ser figurinhas carimbadas na premiação, mas acabaram sendo deixados de lado. Uma pena que uma das melhores séries da história não tenha sido reconhecida, enquanto até True Blood já recebeu indicação, mas se eu tivesse que escolher entre ela, The Vampire Diaries, Being Human, Angel, Moonlight e Buffy, eu escolheria a última. Não estou desmerecendo nem trollando as outras, mas Buffy The Vampire Slayer é melhor série vampiresca já criada e vai ficar com esse título por muito tempo.

P.S¹: O Spike é mais foda que o Damon, o Stefan, o Bill e o Eric juntos e multiplicados por mil.

P.S²: Joss Whedon, quando é que sai o filme?

Baú das Séries:

Eli Stone



Música, advogados e fé.

Embora essas três palavras pareçam completamente aleatórias e fora de contexto, elas fazem perfeito sentido para descrever, de forma simplificada, o que você vai encontrar ao assistir Eli Stone, série que originalmente foi ar pela ABC, entre 2008 e 2009.

A produção, que tem apenas 26 episódios divididos em duas temporadas, é bastante carismática e divertida. Sem demora você se apega aos personagens e fica doido querendo saber mais sobre eles.

O fato de a série ter sido cancelada bem cedo não quer dizer que não tenham conseguido desenvolver o que pretendiam, pelo contrário. O que surpreende em Eli Stone é a capacidade dos roteiristas em apresentar duas temporadas curtas (para os padrões americanos tradicionais, é claro), bastante complexas em dramas pessoais e construção da narrativa. Para melhorar, a série tem um bom final, que fecha a contento e dentro da proposta original.

Mesmo assim, é uma pena. Impossível não lamentar o cancelamento de uma série tão gostosa de ver e que tinha excelentes caminhos a seguir, mas como sempre, quem manda são os índices de audiência e por isso, Eli Stone é uma dessas séries de vida curta que deixou fãs pelo caminho e que poderia ter tido um futuro muito legal se continuasse no ar.

A premissa é bem interessante. Um jovem advogado de sucesso e com uma vida praticamente perfeita começa a ter alucinações sobre os casos em trabalha (ou deverá trabalhar), causados por um aneurisma cerebral hereditário, já que seu pai, morto há alguns anos, sofria com algo parecido, jamais tendo sido compreendido pelos filhos na época.

Agora, Eli Stone (Jonny Lee Miller) precisa conviver com essa nova e atrapalhada realidade e começar a compreender o que as visões que tem significam. Lógico que isso começa a afetar profundamente sua vida pessoal, sacrificando o noivado com Taylor Wethersby (Natasha Henstridge), a filha de seu chefe, que acaba afastada pelo próprio Eli, que pensava em protegê-la de toda essa loucura generalizada.

Na WPK, a poderosa firma de advocacia onde Eli trabalha, as coisas também começam a mudar. Assim que ele descobre ser uma espécie de “profeta” dos tempos modernos e que deve advogar as causas de Deus a postura profissional que sempre manteve muda radicalmente. Eli sempre defendera grandes corporações e gente poderosa, mas agora ele sente que as causa nobres (e que nem devem render muito financeiramente) merecem toda sua atenção.

Aos poucos, Jordan Wethersby, o manda-chuva da WPK começa a compreender a nova realidade de seu associado e se junta a essa corrente, irritando muito os demais sócios e criando uma verdadeira guerra de poder.

Enquanto isso, Eli conta com a ajuda de preciosos aliados, como seu irmão Nate (Matt Letsher), um médico sempre disposto a desafiar os próprios limites para ajudar Eli; Dr. Chen, acupunturista e espécie de guia para Eli, que conhece modos de transportá-lo para o passado em busca de respostas; Patti (Loretta Devine), a secretária mais abusada do mundo e Maggie (Julie Gonzalo) uma advogada iniciante e cheia de princípios morais, que se transforma numa das poucas aliadas de Eli no trabalho.

A cada episódio, Eli enfrenta um novo caso e passa pelas mais variadas alucinações, seja em campos de guerra, em aviões, em praias paradisíacas… A mais recorrente, no entanto, tem sempre a ver com George Michael e suas canções. Vale lembrar também que o cantor participa da série, assim como Katie Holmes, que faz uma aparição bastante significativa.

A música, aliás, é um elemento muito forte na série, aparecendo não apenas na trilha sonora, mas em grandes números musicais envolvendo os personagens. É quase uma versão de Ally McBeal com calças e acreditem: isso é um baita elogio, porque eu geralmente abomino séries jurídicas.

Por tudo isso, vale a pena investir um tempinho em Eli Stone. A série traz essa mistura bacana de drama, musical e comédia, sem deixar de debater temas existenciais. O legal é que como é tudo tratado de forma muito leve, você nem nota esse tipo de coisa. O assunto está ali e cabe somente a você pensar nisso ou não, após um episódio.

Baú das Séries:

Alias



A verdadeira obra-prima de J.J. Abrams não foi Lost

Lost foi uma delas, entretanto a série que deu início a J.J. Abrams ser venerado pela indústria do entretenimento como um dos maiores produtores de ação da atualidade foi, sem dúvida, a melhor série de espionagem da década 2001-2010, Alias.

Jennifer Garner imortalizou a personagem Sydney Bristow por cinco temporadas, recebendo quatro indicações ao Emmy Awards como melhor atriz principal e levando o Globo de Ouro em 2002 na mesma categoria com apenas a primeira temporada. Outros atores também contribuíram para Alias se tornar a referência que é hoje: Victor Garber foi um deles, Lena Olin deu vida a maior vilã da televisão americana (A Nazaré dos Estados Unidos), Irina Derevko. Sua atuação lhe rendeu uma indicação ao Emmy Award em 2003 como melhor atriz coadjuvante e uma proposta de salário de cem mil dólares por episódio na temporada seguinte, que infelizmente Lena recusou. Em muitas cenas, vi Garner sendo ofuscada pelo imenso talento de Olin, que cai entre nós, Alias não teria sido o mesmo sem Irina Derevko. Notáveis também as participações de Melissa George, Angela Bassett, Mía Maestro, Kevin Weisman, Carl Lumbly e o vilão que sempre batia ponto na série, Julian Sark, vivido por David Anders. Além de a série ter sido o trampolim para a carreira cinematográfica de Bradley Cooper. Até Sônia Braga entrou no meio e interpretou a irmã de Irina, Elena Derevko.

Ao longo das temporadas, podemos ver diferentes storylines bem criadas e amarradas com os personagens deixando o telespectador boquiaberto sempre querendo mais ao final dos episódios. Alias soube administrar muito bem essa fusão e acredito que isso que a fez conquistar uma boa audiência no começo. A série sempre mostrou criatividade, entretanto reciclava alguns aspectos, mas muito bem contados e produzidos, dando uma nova versão. Acredito que o elo fraco (ou forte para os fãs assíduos) da série foi a sua complexidade. Perder um episódio significa poder perder uma informação importante que fará diferença lá na season finale, e o telespectador “aleatório” deixa de assistir por não entender. As cenas de ação também fizeram a série ser aclamada pela notoriedade da bela produção, sem mencionar o impacto na cultura americana que as perucas e os disfarces de Garner fez!

Alias deixa muitos filmes hollywoodianos com enormes orçamentos comendo poeira. Sua qualidade foi vista em todos os episódios, e posso falar com a certeza de um telespectador que assistiu todos os 105 episódios: NÃO EXISTE EPISÓDIO RUIM. É a única série que já assisti que conseguiu mostrar o brilhantismo e destreza nas suas storylines, nos personagens, atores e direção durante todas as temporadas. Poderia fazer a analogia de que o que Friends representa para as séries de comédia, Alias representa para as séries de ação. PERFEIÇÃO!

Muito tem se falado sobre a versão cinematográfica da série. Infelizmente acredito que ela nunca saíra dos rumores já que Alias viu a sua audiência despencar no series finale com o último episódio registrando apenas 6.68 milhões de telespectadores, induzindo a pensar que a bilheteria não iria corresponder ao enorme orçamento que um filme de Alias requisitaria. Garner também em entrevistas apontou que se recusa a voltar a interpretar Sydney Bristow, aconselhando os fãs para rever a série caso eles estejam com saudades. Apesar da carreira no cinema de Jennifer Garner ser estável, a atriz ainda não consegue carregar um filme sozinha com apenas o seu nome. Talvez em alguns anos caso Garner não se torne um nome comercial de peso ou uma atriz “papa-premiações”, ela poderá reavaliar a sua carreira e dar uma chance para Alias provar que consegue conquistar as bilheterias também.

Em um comentário ainda mais pessoal, vejo o filme estrelado por Angelina Jolie, Salt, como o roteiro perfeito para um filme de Alias. Sombrio, misturado com suspense e cenas de ação. Todos os aspectos da série.


Nem Jason Bourne, James Bond, Ethan Hunt, Evelyn Salt . Caso me perguntem qual é a melhor agente secreta/espiã de ação, sem dúvida, o primeiro nome que vem é Sydney Bristow, e confirmo: Alias é a melhor série que eu já assisti!

Baú das Séries: Joan Of Arcadia



E se Deus fosse um de nós?

Se você já assistiu Joan Of Arcadia, série exibida pela CBS entre os anos de 2003 e 2005, sabe bem o significado da frase que abre esse texto. Fiz questão de aproveitar esse pedacinho do refrão de “One Of Us” (by Joan Osborne) simplesmente porque ele é perfeito para descrever a produção, que foi sucesso de crítica na época, sendo um dos poucos programas indicados ao Emmy de ‘Melhor Série Dramática’ por sua primeira temporada.

Só isso já deve “vender” bem Joan Of Arcadia para aqueles que ainda não tiveram o prazer de conhecê-la e saibam de antemão: uma maratona com as duas temporadas e 45 episódios da série vale completamente seu tempo.

Infelizmente, como quase tudo o que é bom na TV americana, Joan Of Arcadia não durou muito. A audiência durante o primeiro ano bateu os 10 milhões, mas segundo consta, a queda para oito milhões durante a segunda temporada foi motivo suficiente para que a história ficasse por isso mesmo, o que é frustrante.

Não vou mentir. Dá gosto acompanhar cada episódio, mas quando você chega a Series Finale e enxerga as possibilidades não exploradas na possível 3ª temporada, a vontade de matar os executivos da CBS é inevitável.

Ao final da 2ª temporada é possível ver a convergência total de todas as intenções dos criadores e roteiristas, o “plano maior” deles, por assim dizer. É ali que se percebe que cada trama, cada história, cada pensamento, filosofia e discussão levantadas, cada problema entre os personagens havia sido trabalhado para aquela nova etapa.

Talvez seja apenas minha “ira de fã” falando mais alto, mas o que eu imagino que teria sido o 3º ano de Joan Of Arcadia é algo tão fenomenal que a decepção pelo fim precoce aumenta ainda mais.
Para quem não faz ideia do que se trata a série, a proposta é simples. Uma garota de 16 anos, Joan Girardi (Amber Tamblyn) começa a ter conversas com Deus, que não aparece como uma figura mítica envolta em luz e rodeada por anjos, mas apenas como um ser humano normal, que poderia ser seu vizinho ou o vendedor de enciclopédias mala sem-alça.

No começo tudo pode parecer aleatório nesses encontros entre eles, mas a verdade é que cada passo que Joan dá guiada por esse novo amigo, tem relevância e causa impacto, não apenas na vida das pessoas que a cercam, mas em todos os lugares.

O interessante é que essa premissa serve para a própria série. Nós talvez não enxerguemos logo de cara onde isso vai dar, mas em algum ponto, tudo fará sentido. Esse é um dos primeiros conselhos que Joan recebe de Deus, que aparece nas mais variadas formas.

Foram 57 atores escalados para o papel, todos impressionantemente coerentes com a “personalidade” dada ao Todo Poderoso. Depois de um tempo era fácil identificar Deus na multidão pelos simples gestos e olhares, pelo jeito de falar e também porque encaramos algumas formas mais comuns, como a menininha do parque, o bonitão, o gótico, a servente da escola ou o homem com os cachorros, curiosamente interpretado pelo pai de Amber Tamblyn.

A história é obviamente baseada nos relatos sobre Joana D’Arc (Joan Of Arc), a jovem heroína francesa que foi queimada como bruxa após vencer o exército inglês durante a Guerra dos Cem Anos. A série se aproveita da mitologia em volta dessa figura que, dizem, tinham conversas justamente com Deus.

A ideia toda de Barbara Hall, criadora da série, era trazer um pouco disso para o universo familiar e escolar da fictícia Cidade de Arcadia, local em que a família Girardi está começando vida nova depois de uma grande tragédia que fez Kevin (Jason Ritter) seu filho mais velho se tornar paraplégico.

Enquanto Joan vê sua vida de adolescente virar uma loucura de experiências variadas (todas gentilmente sugeridas por Deus) vamos conhecendo melhor cada personagem dessa trama e o resultado é um apego surpreendente à maioria deles. Se eu tivesse que apontar o que menos gosto diria que são os pais de Joan, Will (Joe Mantegna) e Helen (Mary Steenburgen). Os dois têm até bons momentos, mas em algum ponto o foco nos casos policiais e no trabalho de Will e os probleminhas domésticos do casal acabam cansando um pouco.

Fora isso, não sei apontar um favorito. Gosto bastante das nerdices de Luke (Mike Welch) o irmão mais novo de Joan; Grace (Becky Wahlstrom) com sua anarquia raivosa, assim a doçura de Adam (Christopher Marquette) que é simplesmente contagiante.

Sem dúvida o elenco todo tem bastante qualidade, mas o principal é que não estamos lidando com aqueles rostinhos bonitos que estão ali somente por isso. O esforço da produção para fazer essas pessoas “reais de verdade” é notável e faz a diferença.

Outro ponto importante está nas discussões levantadas pela produção. Não é preciso ser religioso ou acreditar em Deus para assistir, gostar e se divertir. A questão da fé é tratada com bastante delicadeza e bom humor, sempre impondo diversas visões sobre o assunto, questionando pontos chave, como a difícil união entre ciência e crença.

Por todos esses elementos Joan Of Arcadia deve ser tratada como uma jóia rara da TV. Infelizmente não foi possível vermos concretizadas todas as intenções da série, mas de forma alguma isso deve ser visto como demérito. O que foi produzido e levado ao ar é exemplo de entretenimento inteligente.

Primeiras Impressões

Man Up!



Mais uma boa surpresa da ABC.

Spoilers Abaixo:
Até que para a emissora que mais apresentou projetos absurdos nessa Fall Season a ABC está acertando. Pelo menos nas comédias. Depois de surpreender com Suburgatory, eis que a estréia de Man Up! Fica no mesmo patamar.

A Series Premiere foi boa e mostrou que a comédia tem potencial para se desenvolver com solidez, apostando numa temática bastante comum em outras produções do tipo para esse ano.

Além da obsessão das emissoras com contos de fada, o homem moderno, a masculinidade e essa retomada do poder do espécime masculino têm sido um assunto comum para comédias. Das que já estrearam, somente Man Up! conseguiu fazer um Piloto bacana e que desperta o interesse em continuar apostando nossos valiosos minutos na produção.

Senti ali um clima remotamente parecido com Modern Family, apesar da estrutura completamente díspar. É alguma coisa no texto e no jeito de levar a história, sempre com um enfoque ridículo e atrapalhado das situações. Sendo bem honesta, senti mesmo o maior climão de família Dunphy, com direito até mesmo a um clone do Phil.

O dito cujo é Will (Mather Zickel). Um cara sensível e tranquilo, pai e marido dedicado, ele carrega o peso por não ser como seu avô, que lutou na Segunda Guerra Mundial, ou seu pai, que deu o sangue no Vietnam. Já que a esposa Theresa (Teri Polo) é do tipo que dá a última palavra, o resta para Will é liberar toda sua macheza em jogos violentos de videogame, em companhia de seus dois melhores amigos.

Kenny (Dan Folger) é um deles. Recém divorciado, precisa lidar com a ex-esposa e o novo namorado dela, utilizando uma tática milenar para conter seus momentos de raiva, perguntando-se: “O que Tobey Maguire faria?”.

Craig (Christopher Moynihan) é o (mais) loser de todos, também muito sensível e completamente apaixonado pela namorada de faculdade, que está justamente se casando. Lógico que essa é uma das situações exploradas nesse primeiro episódio, com direito a cantoria na igreja e briga com noivo e os padrinhos, para provar que esse três amigos estão tomando uma atitude e voltando a ser “homens de verdade”.

A coisa toda tem a pretensão de ser uma comédia “viril”, ao estilo de “Se beber não case” e realmente acredito que vale a pena dar uma olhada nos próximos episódios para garantir que a série irá engrenar de vez. É notável que o trio principal tem boa dinâmica estabelecida e as personalidades deles combinadas rendem boas situações nesse Piloto.

Man Up! foi escrita e produzida pelo ator Christopher Moynihan (100 Questions). A produção executiva é responsabilidade de Victor Fresco (Better off Ted), com direção de Beth McCarthy-Miller (SNL, 30 Rock).

The Lying GameSeason 1 (Parte 1)


Eu disse que não passaria do Piloto de The Lying Game. Pois bem. Eu menti para vocês.

Spoilers Abaixo:
Quando assisti a Series Premiere de The Lying Game, pela CBC Family, eu já sabia que não iria gostar. Proposta boba e previsível, com a história das gêmeas separadas ao nascer e que, mais tarde trocam de lugar, enquanto buscam pela mãe verdadeira.

Era tão ridículo que eu nem cogitei me torturar com mais de um episódio e o fato de a série ser baseada em livros da mesma autora de Pretty Little Liars, me deixava com mais vontade de fugir. Indo contra minha própria vontade – e talvez porque eu estava com poucas séries para ver naquela época – assisti ao segundo episódio, ao terceiro e assim, devorei a temporada inteira. Gostei muito. The Lying Game era a série teen cretina e crocante que eu estava procurando.

Como tudo feito pela ABC Family, a série é puro entretenimento. Sei que muitos acham que The Lying Game é terrível, mas garanto que em comparação com outras produções do mesmo canal, o roteiro é bem amarrado (na medida do possível). Tem lá seus absurdos, mas honestamente? Se eu continuei a ver The Lying Game é porque a parte ridícula e impossível dessa trama INÉDITA na TV mundial me divertiu horrores.

Não é uma série para se levar a sério. Quem fizer isso com certeza vai se decepcionar e se aborrecer. Como resolvi levar na brincadeira, sem que me desse conta, estava esperando ansiosa pelo próximo episódio. Viciei de verdade e comemorei a renovação. Mal posso esperar para ver o desenrolar dos acontecimentos deixados em aberto na Season Finale. E não é coisa pouca.

Algo que de certa forma impressiona na série é que o elenco. Apesar de não contar com grandes talentos da teledramaturgia,  o grupo é carismático. Alexandra Chando, que interpreta as gêmeas Sutton e Emma cumpre bem sua função. Faz a mocinha em busca de uma família para chamar de sua  e convence como a patricinha megaevil que só pensa em si mesma.

Blair Redford, que já havia conquistado as menininhas em Switched At Birth, é outro que consegue destaque como Ethan, o par romântico das meninas, trazendo aquela boa (e tradicional) briga de irmãs por  um único macho. Isso, é claro, sem contar com o grande destaque do núcleo adulto da série: Alec Ryback, interpretado por Adrian Pasdar.

Alec tem função importantíssima na série porque vive uma espécie de Super-Promotor. Sério. O cara voa e tem o pode de aparecer em qualquer vidraça de qualquer cidade do mundo em questão de minutos, só para concluir suas espionagens muito astutas. Ele é o grande vilão dessa história, manipulando, mentindo e enganando tão bem, que até ele mesmo cai em suas mentiras. O cara usa adolescentes para roubar laptops, tenta matar professores de balé e mantém uma amiga de colégio trancada num hospício. Ele é, por assim dizer, o grão-mestre do jogo da mentira, tendo Sutton como sua afilhada e maior aprendiz.

Lógico que não posso esquecer de mencionar que a adoção de Sutton e Emma é cheia de mistérios estranhos e segredos que destruiriam o mundo se fossem revelados. A mãe delas, por exemplo, além de talentosa pintora de tetos, é tia de Charlotte, uma das melhores amigas de Sutton, mostrando como a trama é bem amarrada e bem pensada. No fim, vamos descobrir que são todos parentes, pelo visto.

Há muitas outras delícias nesse roteiro, como Thayer, o garoto que foge da vida boa na casa de papai para jogar videogame em Los Angeles ou a busca interminável de Charlotte por um namorado de sovaco extremamente peludo e que seja um clone mal feito de Robert Pattinson. Não posso deixar de lado o drama de Madie, a garota que sonha em ser bailarina e ter um caso com o professor.

Laurel, a irmã de Sutton é outra com plot avantajado. Arrumou um namorado sem teto e órfão, que sabe coisas terríveis sobre Ted, o sogrão. Já Kristin, a mãe (adotiva) é aquela que não sabe de nada (será?) e que nem imagina que o marido médico esconde um monte de trapaças em seu passado.

Além do mais, há aquela pegada sobrenatural e até de ciência, com uma gêmea sonhando o sonho da outra, sentindo a dor da outra… Coisa linda de se acompanhar. Com tantos pontos positivos, não vejo alternativa a não ser aguardar o retorno dessa série tão crocante e tão cheia de suspense, que sabe como ninguém, honrar o nome que carrega.

The Lying Game (também conhecida pelos fãs como ‘Trocadas na Rodoviária’) cumpre tão bem sua função social e política que me fez entrar no jogo e ver uma temporada inteira. Eu tentei me enganar e fingir que ela não era feita para mim, mas mesmo quando jogamos com a mentira (tudumpá!) a verdade, cedo ou tarde, acaba aparecendo.

Primeiras Impressões 

Once Upon a Time


“Era uma vez, numa terra muito, muito distante, uma menina viciada em séries que riu muito quando um grilo falante lhe disse que ABC lançaria uma série recheada de contos de fadas. Um dia, passeando pela floresta e levando doces para a vovozinha, ela encontrou sete anões, amantes vorazes da Bruxa megaevil, que lhe ofereceram uma série envenenada. Ela não pôde resistir e assistiu. Não morreu e nem despertou com o beijo de um príncipe para se tornar o primeiro zumbi do reino encantado, mas dizem por aí que ela caiu no feitiço de Once Upon a Time.”

Spoilers Abaixo:
Indo contra minha própria razão e questionando minha sanidade, sou obrigada a dizer que vi Once Upon a Time e gostei. É muito estranho dizer isso assim, à queima roupa, mas sou sincera. Eu queria escrever esse texto despejando todo meu ódio gratuito por essa proposta bizarra e descabida? Sim, eu queria com todas as minhas forças. Eu vou fazer isso em vez de admitir que conseguiram fazer um Piloto interessante? Não, definitivamente. Mas é só porque não quero que meu nariz cresça igual ao do Pinóquio.

Eu ainda não sei exatamente porque essa Series Premiere adiantada me agradou em vez de me irritar, mas estou realmente inclinada a acreditar que caí na magia de uma série envenenada, porque só isso poderia justificar. O engraçado é que eu tinha certeza absoluta de que Once Upon a Time seria o tipo de produção “amor ou ódio”, sendo o ódio minha única escolha.

Apesar de tudo que afirmei até aqui, vale lembrar que esse também não aquele Piloto de série que vai mudar sua vida e transgredir os limites da linguagem televisa. Acho até que é ousado apresentar uma história desse tipo na TV, mas é só. Já vimos mistura de personagens em filmes do ‘Shrek’e o encontro do mundo de ficção infantil com a realidade em ‘Encantada’. Sem dúvida, toda a desconfiança do público, fã resoluto de seriados, acerca desse lançamento não era descabida. Once Upon a Time é o tipo de série que exige nosso questionamento, porque toda a ideia em que se apóia parece muito boba e errada.

Deve ser por essa releitura de histórias que rechearam nossa infância. A minha, pelo menos, tinha doses diárias de princesas que enfrentam sozinhas bruxas malvadas, só para ganharem de brinde um príncipe em cima do cavalo branco no final.

Sempre fui fã de contos de fadas em todas as formas: livros, série (eu via um troço chamado Contos de Fada, na TV Cultura), filmes e até aquele LP (sim, LP. Vinil. Bolachão azul. Não me julguem) maroto com a história de Chapeuzinho Vermelho e Os três Porquinhos eu tinha. Devorei a obra completa dos irmãos Grimm, aterrorizada, na maioria das vezes e hoje estou aqui, mais do que pronta para mergulhar na salada que Once Upon a Time preparou, com muitos dos ingredientes que já citei até aqui.

A ideia da série é mais ou menos essa: misturar elementos e personagens das histórias mais famosas e mostrar o que acontece depois do “… E viveram felizes para sempre”. Na verdade, em Once Upon a Time, esse momento ainda não chegou, porque uma maldição assola o reino que chamarei de “Far, far away”. Essa maldição foi espalhada pela Rainha Má, produtora agrícola de maçãs e inimiga número um de Branca de Neve, numa vingança pela felicidade alheia.

Com Branca de Neve casada e grávida do Príncipe Encantado, era só o que restava para quebrar o tédio e assim aconteceu. Rainha Má megaevil lançou uma maldição de infelicidade, parou o tempo e mandou todo mundo para o pior lugar do mundo: a realidade.

Porém, há um twist na história. Branca de Neve e Príncipe Encantado (que aparentemente é polígamo e se casou com múltiplas princesas) conseguem mandar a filha recém nascida, Emma, para um lugar na realidade longe dessa maldição e assim, 28 anos depois, ela deve retornar para sua família, lutar contra a Rainha Má megaevil, colorindo novamente a vida das pessoas de “Far, far away”, que sequer são capazes de lembrar de suas verdadeiras identidades.

Nesse primeiro episódio a trama é muito bem apresentada e, apesar de muitas vezes eu ter ficado boquiaberta com detalhes sutis como cestas de maçãs vermelhinhas e a aparição do Lobo Mau no meio da estrada, eu acho que a série tem potencial, nem que seja para apenas uma temporada. Aliás, todas essas referências são legais de procurar e Once Upon a Time não se faz de rogada ao colocar na tela clichês, como o príncipe no cavalo branco e a bruxa sempre vestida de preto.

Toda a construção de “Far, far away” segue bem a linha clássica dos livros e por lá vemos os Sete Anões, Gepeto, Pinóquio e o Grilo Falante, Chapeuzinho e sua avó, além, é claro, de outro vilão de nome difícil de adivinhar: Rumpelstiltskin.

Na realidade, eles também aparecem como carpinteiros, psicólogos, donos de pensão, empresários… Branca de neve é professora primária, a Rainha Má megaevil é prefeita da cidade e o Príncipe Encantado, ferido durante uma luta, é um desconhecido num leito de hospital.

Vale lembrar que a personagem principal, no entanto, é Emma Swan, a filha perdida desse reino mágico, que também tem um filho, que ela deu para adoção, 10 anos antes. Henry, que foi criado pela Rainha Má megaevil, é aquele que vai tentar provar para sua mãe que existe um mundo de fantasia além das páginas dos livros.

No elenco estão Jennifer Morrison (Emma), Ginnifer Goodwin (Mary/Snow White), Robert Carlisle (Mr.Gold/Rumpelstiltskin), Lana Parilla (Evil Queen megaevil), Jared Gilmore (Henry), Josh Dallas (John Doe/Prince Charming), Raphael Sbarge (Archie Hopper), Meghan Ory (Red Riding Hood), Jamie Dornam (Sheriff Graham) e Beverly Elliott (Granny).

Once Upon a Time, como todos sabem e como o material promocional faz questão de frisar é criação de Edward Kitsis e Adam Horowitz, duas das mentes por trás de Lost e Tron: Legacy.

E, sim. Eu ainda acho que estamos diante do plot roubado de “Cavalo de Fogo”, mas resolvi entrar na dança e ver no que dá, mesmo que com essa escolha eu não seja feliz para todo o sempre.

PS- Série feita por gente de Lost SEMPRE faz referência a Lost. Once Upon a Time tem as suas, é claro, trazendo à baila os números malditos no relógio parado e no número da casa da prefeita Rainha Má megaevil, mas honestamente? Em Lost eles já eram números inúteis e aleatórios, em Once Upon a Time, não passam de curiosidade para se colocar num mísero PS.

Novo longa da franquia

Arquivo X 

pode ser lançado em 2012

Apesar de David Duchovny e Gillian Anderson confirmarem, a FOX ainda não deu sinal verde para a produção.


 

Mesmo com o fracasso de bilheteria de “Arquivo X – Eu Quero Acreditar” em 2008, continua firme e forte a ideia de dar continuidade no cinema para uma das séries de ficção científica mais famosas do século passado.

David Duchovny (da série “Californication”) falou no final do ano passado que um novo filme para a franquia deveria ser lançado em dezembro de 2012 e iria combinar com o fim do mundo. Agora é sua parceira da finada série, Gillian Anderson (“O Último Rei da Escócia”), que aparece para confirmar os planos para a continuação, conforme informou o site Moviehole.

Durante a divulgação de seu novo filme, “O Retorno de Johnny English”, a atriz afirmou que a produção estará pronta no final do ano que vem. “Chris Carter e David Duchovny estão à bordo. Todos nós amamos o seriado e queremos que ele continue vivo. Somos amigos,e sentimos falta de trabalhar juntos”, disse a intérprete da investigadora do FBI, agente Scully.

Apesar do entusiasmo dos protagonistas da série e dos dois longas-metragens, a 20th Century Fox ainda não deu sinal verde para a produção.

Séries/TV: Séries com a fórmula

“caso da semana” 

merecem nosso respeito?

Você gosta das séries procedurais? "C.S.I.", "House" e a nova "Person of Interest" são exemplos. Selecionamos algumas dicas de ótimas séries que mantém esse formato.


Durante um bom tempo eu considerei as séries procedurais, chamadas “casos da semana”,  meio que um guilty pleasure. Não achava que elas tinham muita qualidade,  já que não tinham uma boa estrutura de roteiro ou direção, com arcos dramáticos rasos e personagens caricatos, além de cansar depois de tantas repetições. Tanto que em sua maioria elas passam batido em qualquer premiação de maior relevância. Mas conforme fui me apegando a determinadas produções, acabei passando a admirar mais o formato. Também é inegável que a formula faz muito sucesso nos EUA, que já aponta durante alguns anos seguidos séries que seguem essa fórmula aparecem como as mais assistidas (“C.S.I.”, “House” e mais recentemente “NCIS”). Vou listar alguns procedurais que sempre gostei e alguns que acompanho agora.

C.S.I.
Foi uma das primeiras séries que comecei a assistir, há muitos anos lá na primeira temporada. Gostava muito do personagem Grissom (interpretado por William Petersen), e depois que ele saiu perdi um pouco o interesse pela produção. O personagem de Lawrence Fishburn não me interessou, apesar da boa construção do ator, e o novo personagem principal, agora interpretado por Ted Danson, parece um clichê ambulante. Também assisti durante vários anos aos spin-offs de “C.S.I,”, e ao contrário de muita gente que assiste, sempre preferi o Miami. Talvez fosse aquele jeito canastrão do David Caruso de tirar os óculos que sempre me matou de rir.

Arquivo X
Essa é uma das minhas séries favoritas. Apesar de contar com toda a mitologia por trás da história, os episódios sempre foram sustentados por casos de semana. Acho que a série funcionou durante muito tempo (depois da 7ª temporada a coisa descamba) por causa da química de David Duchovny e Gillian Anderson, que souberam construir na relação de Mulder e Scully um caso à parte. Já os casos eram sempre interessantes e, mesmo que beirassem algumas vezes o bizarro, não eram jogados aleatoriamente na trama.

House
Essa é uma incógnita para mim, pois consigo apontar todos os defeitos da série (e são muitos). Mas mesmo assim nunca deixei de acompanhar. Acho que aqui mais uma vez o personagem consegue ser superior a toda a trama, que depois de algumas temporadas ficou cansativa. Sempre seguindo a premissa Doente – House escreve no quadro – Acha que é Lúpus – Tem uma epifania e resolve a charada, o que me interessa é a construção do personagem-título e a forma brilhante como ela é conduzida por Hugh Laurie. Esse provavelmente será o último ano de “House”.

Blue Bloods
Essa série estreou no ano passado sendo um sucesso de audiência, mesmo passando por lá nas sextas-feiras, o que é muito difícil. Mas diferente de outras produções, em “Blue Bloods” não são os personagens que se destacam, mas o próprios casos da semana. Extremamente bem construídos, mesmo que tenham um arco rápido (afinal se encerram em um episódio) eles geralmente entregam algo interessante. A série também se beneficia do ótimo ator Donnie Wahlberg.


Person of Interest
Uma das novidades do fall season, “Person of Interest” ainda está construindo seu caminho. Na minha opinião, a série ainda oscila um pouco, apesar das boas atuações de Jim Caviezel e especialmente Michael Emerson. Confesso que quando vi os promos e os nomes envolvidos na produção (J.J Abrams e Jonathan Nolan), achei que a série teria um “algo” a mais. Infelizmente, pelo menos até agora, ela se revelou “apenas” um bom procedural. Não digo que a série é ruim, longe disso! Apenas esperava mais e acho que o hype atrapalhou. Mesmo assim é uma produção competente e acho que tem futuro.

Fringe
“Fringe” se enquadra na mesma categoria de “Arquivo X” (e são muito parecidas mesmo). A série começou com uma trama principal sendo ancorada por casos semanais. Apesar de se utilizar menos dessa fórmula ultimamente, confesso que tenho saudades daqueles casos de semana sendo resolvidos por Walter, Peter e a gatíssima Olivia. Mas mesmo assim “Fringe” seguiu um rumo respeitável na construção de sua mitologia, se estabelecendo atualmente como a melhor série sci-fi  dos EUA.

The Good Wife
Essa é daquelas séries que sempre digo: se você não está assistindo, está perdendo tempo.  Apesar de ser procedural, onde o caso criminal começa e se encerra no mesmo episódio, “The Good Wife” conta com um elenco fortíssimo encabeçado por Julianna Margulies e tramas muito bem construídas e resolvidas, não deixando aquela sensação de pegadinha no telespectador. Por isso afirmo que, na minha opinião (“in my opinion”!), “The Good Wife” é a melhor série de TV aberta nos EUA.

Essas são as séries procedurais que me marcaram. Ainda tem algumas outras que tenho curiosidade de assistir. Alguma indicação? Quais as séries desse formato que vocês assistem?

Um guia para entender porque os cartazes de filmes são parecidos

A semelhança faz parte de um padrão para gêneros.


As vezes vemos alguns cartazes bastante semelhantes. Se você pegar a sua coleção de DVDs, irá perceber o quanto alguns filmes do mesmo gênero possuem características bem parecidas nas artes, principalmente nas cores. Pensando nessa “curiosidade”, o francês Christophe Courtois reuniu capas de filmes onde essa “coincidência” acontece. Veja os exemplos:


MULHER DE VERMELHO
Sempre funciona!



CORRENDO
Sensação de urgência.




PERFIL DO TOM CRUISE
Ele adora fazer foto de pôster de lado.




PERNAS LINDAS
Vende muito bem.




NA CAMA
Porque nela é mais gostoso.




LARANJA LEMBRA CHAMAS
Chamas lembram explosões.




A NATUREZA E O AZUL
Tudo azul para o mundo animal.





OLHO QUE TUDO VÊ
A porta para a alma…




TEXTO NA FRENTE DO ROSTO
Estranho, mas funciona.




DE COSTAS UM PARA O OUTRO
Já fala por si…




MISTERIOSO DE COSTAS
É como ver uma imagem de um cartaz de trás para frente.




SILHUETAS, ROSTOS E O OCEANO
Que combinação hein?




VENDANDO O PROTAGONISTA
Sabe quando o cartaz “presume um culpado“?




SOU AMARELO, SOU INDEPENDENTE
Ele provavelmente foi aclamado em Sundance.


O Palhaço: as cores encantadoras de Selton Mello como diretor

Câmera contemplativa, cores fortes e apuro técnico são pano de fundo para filme sensível sobre a eterna insatisfação humana. 

Avaliação: nota  7
 
 
 

É possível perceber ao menos uma diferença evidente entre as sequências circenses e aquelas que se desenvolvem fora das lonas no novo filme de Selton Mello, “O Palhaço”. Quando assumem seus personagens dentro dos limites do picadeiro, as figuras ganham uma peculiar tonalidade em seus rostos e trajes, causada pela elaborada fotografia em tons alaranjados. Toda a magia e contemplação envolvidas no ato de fazer arte circense parecem imersas em uma atmosfera que de tão iluminada, tão resplandecente, é capaz de camuflar a vida real. Quando o espetáculo termina e as cortinas são definitivamente fechadas, as cores da rotina, da insatisfação e do vazio dão o tom.
“O Palhaço” encontra na vida de uma trupe circense o substrato máximo para trabalhar essa dualidade: os rostos eternamente felizes e artificiais do picadeiro escondem histórias tão banais e humanas quanto as nossas. E o exemplar perfeito é a tão explorada figura do palhaço trágico, que se não aqui não ganha traços originais compensa sua deficiência por qualidades técnicas que conseguem manter em níveis elevados o desenrolar do filme.

O palhaço Pangaré (Selton Mello), uma das estrelas do circo Esperança – imagine quão sugestivo esse nome pode ser – arranca gargalhadas exageradas do cada vez mais escasso público nas cidadezinhas de interior em que seu circo se hospeda. Seus gestos demasiadamente teatrais e suas piadas vez por outra picantes fazem sucesso e ajudam a garantir a sobrevivência da trupe. Quando o espetáculo do dia chega ao fim, o dinheiro é contabilizado e a maquiagem retirada, conhecemos Benjamim, que não tem graça alguma. Desde o início percebemos que uma grande insatisfação injustificada move o seu personagem, que sente crescer dentro de si um vazio tão grande quanto as enormes paisagens captadas pelas câmeras. O grande problema é que nem ele sabe explicar os motivos daquela sensação, que nos é apresentada pelo seu eterno olhar perdido, dificuldade para travar conversas com estranhos, insônia e o crescente desejo por um ventilador.

Selton Mello, um dos expoentes do cinema nacional na última década, sabe honrar com sua atuação firme o incrível número de pessoas que se dirige ao cinema atraídas por seu nome.  Mesmo quando ocupa o picadeiro com as piadas e mímicas de Pangaré, o ator consegue manter em suas expressões e, sobretudo em seu olhar, o desespero interno de Benjamim. Enquanto isso nós, espectadores, rimos o riso da suspeita, curiosos pelas causas daquela insatisfação e encantados pelo desenrolar dos atos circenses.

Apesar de Selton ser o chamariz principal para “O Palhaço”, outros nomes que formam o elenco merecem destaque, seja pela importância que representam para a dramaturgia nacional, seja pelo excelente trabalho que oferecem no filme em questão. A velha guarda impera, com atores como Jackson Antunes e Tonico Pereira. No papel do delegado Justo, com a sua voz grave tão característica, Moacyr Franco é uma maravilhosa surpresa. Paulo José faz o palhaço Puro Sangue, dono do circo e pai de Benjamim, e nos brinda com mais uma atuação memorável.

O talento de Selton Mello também vai para trás das câmeras. Como diretor, ele é seguro e ousado, e em algumas ocasiões sua câmera se movimenta de modo curioso e poético. Preste atenção no modo como é filmado o corpo de uma das moças da trupe, enquanto ela adentra o recinto e se joga na cama, ou ainda na sequência final, com uma câmera que acompanha os movimentos da encantadora garotinha vivida por Larissa Manoela.

A curta duração do filme talvez prejudique um pouco a sua execução, visto que se torna quase impossível oferecer uma descrição mais profunda de alguns personagens, todos eles curiosos e com potencial para estrelarem outros filmes. Não chega a ser um problema, mas torna tudo menos agradável, principalmente por não garantir mais espaço para uma explicação adequada sobre as inquietações de Benjamim.

“O Palhaço” tem tudo para figurar ao lado de grandes filmes com temática regional que tonaram-se sucesso de público e crítica, como “O Auto da Compadecida” e “Lisbela e o Prisioneiro”. A grande diferença entre eles está na sensível carga dramática colocada por Selton em seu produto. Afinal, quem vai fazer o palhaço rir?
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Jáder Santana é crítico do CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.

Contágio: o mundo paranóico e globalizado de Steven Soderbergh

Exibindo metodicamente a disseminação de um vírus letal pelo planeta, o cineasta realiza um filme agradável de estilo documental com potencial para ser melhor ainda. 


Avaliação: nota 8
 
 
 

Qual Steven Soderbergh você prefere? O intimista, provocativo e polêmico de “Sexo, Mentiras e Videotape” e “Solaris”? O divertido, mas não menos inteligente da franquia “Onze Homens e um Segredo” e “O Desiformante!”? Ou o da política e socialmente engajado de “Traffic” e “Che”? Seja qual for sua escolha, há muito a apreciar nas obras deste diretor norte-americano. Neste “Contágio”, ele exibe sua terceira e mais premiada faceta, que lhe rendeu nada menos do que o Oscar de direção em 2001. Realista e metódico, Soderbergh exibe um mundo globalizado que vai da calmaria ao caos em poucos dias, em mais uma produção cheia de potencial, o qual é em parte muito bem aproveitado.

A rápida disseminação de um vírus letal, de fácil transmissão, é a investigação quase jornalística do cineasta, que conta com o roteiro de Scott Z. Burns (“O Ultimato Bourne”). Uma norte-americana (Gwyneth Paltrow), que realizou uma rápida viagem para Hong Kong, é aparentemente a paciente número 1. A partir de então, a doença se espalha por diversos países, deixando inúmeros mortos (a taxa de mortalidade chega a quase 30%) e questionamentos nos cientistas, incapazes de identificar a origem do vírus e de desenvolver uma vacina que não apenas cure, mas também devolva a paz para a população mundial.

Em seu estilo documental, de diálogos e interpretações espontâneas, Soderbergh sabe como poucos conectar diferentes partes do planeta e exibir o acelerado crescimento do número de infectados. Suas fontes variam, indo desde programas de televisão e representantes da Organização Mundial de Saúde (OMS) a meros cidadãos em luta pela própria sobrevivência. As multitramas também colaboram para a bem realizada “cobertura” do fato, assim como para evitar uma desagradável sensação de centralismo tão recorrente em produções dos EUA, mesmo que o ponto de vista seja quase sempre de personagens em território americano.

A cada ator (e sobram estrelas competentes) uma função é concedida. Kate Winslet faz às vezes de médica incumbida pelo Governo norte-americano de averiguar a disseminação do vírus e buscar soluções para evitar uma ainda mais desastrosa epidemia. Matt Damon, o principal dos coadjuvantes, é o marido que perde a mulher e o enteado no mesmo dia. Jude Law é o jornalista em busca de polemizar a questão. Lawrence Fishburne representa a Casa Branca, e Marion Cotillard, a OMS. Há espaço ainda para cientistas, editores de jornal, funcionários públicos, esposas e transeuntes.

Não sobram também desdobramentos. O roteiro de Burns sabe como politizar e polemizar sua história, apesar de algumas vezes soar demasiadamente cordial. Acusações sobre a real origem da enfermidade não faltam, assim como confrontos por supostos remédios que curariam a doença. Uma mera inocente ligação é o suficiente para colocar todos os esforços do Governo à prova e fazer um “ídolo” nascer em meio ao desastre. A trama ousa ainda ao deixar o romantismo de lado e matar um dos personagens mais carismáticos e uma inocente criança, fazendo a paranoia ficar ainda maior.

Soderbergh, nesse sentido, se esforça bastante, ressaltando a impossibilidade do homem permanecer imune. Um simples toque na maçaneta é o suficiente para que um enfermo, ainda em período de incubação do vírus, infecte alguém. Os planos do diretor, que alonga a tomada para além do personagem apenas para exibir o objeto “infectado”, contribuem para dar uma maior noção da facilidade em ser o próximo da lista de doentes e, possivelmente, de mortos.

No entanto, Soderbergh parece pouco criativo e frio em sua missão de provocar medo em todo o mundo. São fatos de mais e emoção de menos. O grande número de tramas parece prejudicar a profundidade da história e impossibilita a afeição da audiência com qualquer desses núcleos. Até que Matt Damon consegue alguns minutos de sensibilidade. Mas nada que a desastrosa sequência final, em um flashback absolutamente desnecessário, dissolva em segundos. Com potencial gigantesco, “Contágio” cumpre sua função jornalística, quando poderia ser mais um impressionante filme com a assinatura de Soderbergh.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema