segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Francês 'O artista' ganha os principais prêmios do Oscar 2012

Longa ganhou cinco prêmios, incluindo melhor filme, diretor e ator.


'A invenção de Hugo Cabret' também teve cinco estatuetas, todas técnicas.

Do G1, em São Paulo
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Com elenco e equipe de 'O artista' ao fundo, produtor Thomas Langmann discursa no Oscar após longa vencer o prêmio de melhor filme (Foto: Gary Hershorn/Reuters) 
Com elenco e equipe de 'O artista' ao fundo, produtor Thomas Langmann discursa no Oscar após longa vencer o prêmio de melhor filme (Foto: Gary Hershorn/Reuters)
A única razão que nos impossilita de considerar o Oscar 2012 como uma cerimônia de sotaque francês é o fato de o principal vencedor ser um filme mudo. De resto, a 84ª edição do evento organizado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que aconteceu neste domingo (26), colocou em destaque "O artista": confirmando um favoritismo que foi se desenhando ao longo de praticamente todos principais prêmios do cinema internacional nesta temporada, a produção franco-belga levou as estatuetas de melhor filme, diretor (Michel Hazanavicius) e ator (Jean Dujardin). Com dez indicações, levou ainda as distinções de figurino e trilha sonora original.

Embora a conta final em favor de "O artista" não tenha sido propriamente uma surpresa, o princípio desta noite de gala no Hollywood and Highland Center (antigo Kodak Theatre) mostrou-se favorável a outro concorrente de destaque. Nomeado em 11 categorias, "A invenção de Hugo Cabret" surgiu muito bem, ao levar os dois primeiros prêmios: fotografia e direção de arte. O ritmo, no entanto, não se manteve. No desenrolar da sessão, esta primeira incursão de Martin Scorsese pelo 3D conquistou outras três estatuetas - edição de som, mixagem de som e efeitos visuais. Igualou o francês, mas com prêmios usutalmente considerados "técnicos", de menor apelo.
Octavia Spencer se emociona ao receber a estatueta de melhor atriz coadjuvante por seu papel em 'Histórias cruzadas'. (Foto: Mark J. Terrill/AP) 
Octavia Spencer se emociona ao receber a estatueta
de melhor atriz coadjuvante (Foto: Mark J. Terrill/AP)
Apresentado por Billy Cristal, que pela nona vez se encarregou da função, o Oscar 2012 deveu seu primeiro momento de maior emoção a Octavia Spencer.

Ela recebeu das mãos de Christian Bale o prêmio de melhor atriz coadjuvante, por seu trabalho em "Histórias cruzadas". Ao ter seu nome anunciado, Octavia foi aplaudida de pé pelos presentes no auditório. Chorando bastante, ela agradeceu por diversas vezes a seus familiares.

Quem também mereceu a ovação da plateia foi Christopher Plummer, escolhido o melhor ator coadjuvante por "Toda forma de amor". Ele é agora a pessoa mais velha a já ter recebido um Oscar. No palco, olhando para o prêmio que acabava de receber, o veterano intérprete disse à estatueta: "Você é só dois anos mais velha do que eu". Em seguida, Billy Cristal brincou, parabenizando Plummer: "[Agora] a média dos ganhadores do Oscar subiu para 67 anos [de idade]".

Outro veterano que saiu premiado foi Woody Allen, pela autoria do melhor roteiro original de "Meia-noite em Paris". Ele alcançou, assim, o tricampeonato na categoria - as conquistas anteriores foram pelos textos de "Noivo neutórico, noiva nervosa" (1977) e "Hanna e suas irmãs" (1986). Como de hábito, ele não estava presente no local - teria recebido seu novo Oscar das mãos de Angelina Jolie, apresentadora do prêmio.

Assídua frequentadora do Oscar, era sua 17ª indicação, Meryl Streep também conseguiu, a exemplo de Allen, sua terceira estatueta, sendo a segunda de melhor atriz. O prêmio veio pelo papel da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, em "A dama de ferro". Ao tomar a palavra para agradecer, Meryl fez graça: "Quando anunciaram meu nome, eu achei que estava ouvindo metade dos Estados Unidos falando 'Oh, não, mais uma vez? De novo, de novo?!'".

Quanto à participação brasileira no Oscar 2012, ela pode ser resumida pelo comentário de Carlinhos Brown: "Não foi dessa vez". Ao lado de Sergio Mendes, o músico baiano concorria ao prêmio de melhor canção original, pela música "Real in Rio", tema da animação "Rio", dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha. Havia somente mais um único concorrente na categoria, "Man or Muppet", do longa "Os Muppets". Ela acabou sendo a preferida dos votantes.

Christopher Plummer discursa após receber o prêmio de ator coadjuvante por 'Toda forma de amor' no Oscar 2012 (Foto: Gary Hershorn/Reuters) 
Christopher Plummer discursa após receber o prêmio de ator coadjuvante por 'Toda forma de amor' no Oscar 2012


Veja abaixo a lista parcial dos ganhadores do 
84º Oscar:

Filme
"Cavalo de guerra"
"O artista"
"O homem que mudou o jogo"
"Os descendentes"
"A árvore da vida"
"Meia-noite em Paris"
"História cruzadas"
"A invenção de Hugo Cabret"
"Tão forte e tão perto"

Diretor
Michel Hazanavicius - "O artista"

Alexander Payne - "Os descendentes"
Martin Scorsese - "A invenção de Hugo Cabret"
Woody Allen - "Meia-noite em Paris"
Terrence Malick - "A árvore da vida"


Francês Michel Hazanavicius acena após ganhar estatueta de melhor diretor pelo filme 'O artista'. (Foto: Mark J. Terrill/AP) 
O cineasta francês Michel Hazanavicius acena após ganhar estatueta de melhor diretor pelo filme 'O artista'. 
Ator
Demián Bichir - "A better life"
George Clooney - "Os descendentes"
Jean Dujardin - "O artista"
Gary Oldman - "O espião que sabia demais"
Brad Pitt - "O homem que mudou o jogo"

Atriz
Glenn Close - "Albert Nobbs"
Viola Davis - "Histórias cruzadas"
Rooney Mara - "Os homens que não amavam as mulheres"
Meryl Streep - "A dama de ferro"Michelle Williams - "Sete dias com Marilyn"

Ator coadjuvante
Kenneth Branagh - "Sete dias com Marilyn"
Jonah Hill - "O homem que mudou o jogo"
Nick Nolte - "Warrior"
Max Von Sydow - "Tão forte e tão perto"
Christopher Plummer - "Toda forma de amor"

Atriz coadjuvante
Octavia Spencer - "Histórias cruzadas"

Bérénice Bejo - "O artista"
Jessica Chastain - "Histórias cruzadas"
Janet McTeer - "Albert Nobbs"
Melissa McCarthy - "Missão madrinha de casamento"

Melhor filme em língua estrangeira
"Bullhead" - Bélgica
"Footnote" - Israel
"In Darkness" - Polônia
"Monsieur Lazhar" - Canadá
"A separação" - Irã

Elenco do filme iraniano 'A separação' se reúne para foto no tapete vermelho. (Foto: Mario Anzuoni/Reuters) 
Ao lado do diretor, Asghar Farhad, o segundo a partir da esquerda, o elenco central de 'A separação' se reúne no tapete vermelho 


Melhor animação
"A Cat in Paris"
"Chico & Rita"
"Kung fu panda 2"
"Gato de botas"
"Rango"

Documentário (longa-metragem)
"Hell and Back Again"
"If a Tree Falls: A Story of the Earth Liberation Front"
"Paradise Lost 3: Purgatory"
"Pina"
"Undefeated"

Roteiro adaptado
"Os descendentes"
"A invenção de Hugo Cabret"
"Tudo pelo poder"
"O homem que mudou o jogo"
"O espião que sabia demais"

Roteiro original
"O artista"
"Missão madrinha de casamento"
"Margin Call"
"Meia-noite em Paris" (Woody Allen)
"A separação"

Fotografia
"O artista"
"Os homens que não amavam as mulheres"
"A invenção de Hugo Cabret" (Robert Richardson)
"A árvore da vida"
"Cavalo de guerra"

Direção de arte
"O artista"
"Harry Potter"
"A invenção de Hugo Cabret""Meia-noite em Paris
"Cavalo de guerra"

Figurino

"Anonymous"
"O artista"
"A invenção de Hugo Cabret"
"Jane Eyre"
"W.E."

Maquiagem
"Albert Nobbs"
"Harry Potter e as relíquias da morte - Parte 2"
"A dama de ferro"

Edição
"O artista"
"Os descendentes"
"Os homens que não amavam as mulheres"
"A invenção de Hugo Cabret"
"O homem que mudou o jogo"

Edição de som
"Drive"
"Os homens que não amavam as mulheres"
"A invenção de Hugo Cabret"
"Transformers: o lado oculto da lua"
"Cavalo de guerra"

Mixagem de som
"Os homens que não amavam as mulheres"
"A invenção de Hugo Cabret"
"O homem que mudou o jogo"
"Transformers: o lado oculto da lua"
"Cavalo de guerra"

Efeitos visuais
"Harry Potter e as relíquias da morte - Parte 2"
"A invenção de Hugo Cabret"
"Gigantes de aço"
"Planeta do macacos"
"Transformers: o lado oculto da lua"

Trilha sonora original
"As aventura de Tintim" - John Williams
"O artista" - Ludovic Bource
"A invenção de Hugo Cabret" - Howard Shore
"O espião que sabia demais" - Alberto Iglesias
"Cavalo de guerra" - John Williams

Canção original
"Man or Muppet", de "Os Muppets", música e letra de Bret McKenzie
"Real in Rio", de "Rio", música de Sergio Mendes e Carlinhos Brown, letra de Siedah Garrett

Curta-metragem
"Pentecost"
"Raju"
"The Shore"
"Time Freak"
"Tuba Atlantic"

Documentário (curta-metragem)
"The Barber of Birmingham: Foot Soldier of the Civil Rights Movement"
"God Is the Bigger Elvis"
"Incident in New Baghdad"
"Saving Face"
"The Tsunami and the Cherry Blossom"

Curta-metragem de animação
"Dimanche"
"The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore"
"La Luna"
"A Morning Stroll"
"Wild Life"

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Primeiras Impressões – Awake

Michel Arouca | Reviews | 18/02/2012 - 0:13


Simplesmente genial.

Spoilers Abaixo:
Minhas expectativas eram altas para esse piloto. Desde a primeira vez que assisti ao promo de Awake no ano passado, fiquei intrigado pela premissa: o detetive Michael sofre um acidente fatal de carro com sua esposa e filho, porém, é incapaz de aceitar a perda de um ente querido, fazendo com que seu subconsciente crie duas realidades, aonde em uma delas ele acorda ao lado da esposa e precisa lidar com a morte do filho, e na outra ele acorda com filho vivo e a esposa morta.

A forma como a fotografia é usada para diferenciar as duas realidades, é simples, porém muito eficaz. Na realidade onde a esposa de Michael está viva, as cores quentes são predominantes e o aspecto contemporâneo domina a decoração dos ambientes. Já na realidade onde o filho está vivo, as cores frias prevalecem com uma decoração mais moderna. Sem falar no elástico que o protagonista usa no pulso para diferenciar os dois mundos.

O roteiro é igualmente fantástico e traz ótimos diálogos entre Michael e os psiquiatras de ambas as realidades, que esbanjam argumentos a prova de balas para justificar sua existência e provar que a outra realidade é um sonho. A confusão do protagonista em diferenciar o que é o sonho e o que é real, ultrapassa a tela e faz com que o expectador termine o episódio sem a mínima certeza do que é real e do que é sonho. Outro ótimo aspecto do texto de Awake é referente aos casos que o detetive Michael precisa resolver nas duas realidades. São dois casos completamente diferentes, com parceiros diferentes, mas com pequenos detalhes semelhantes, que se acabam ajudando misturam entre as realidades e ajudam Michael na resolução final.

Awake é aquele procedural ideal, com os típicos casos da semana, e uma história de fundo completamente intrigante e nada óbvia. O elenco é muito competente, a começar por seu protagonista Jason Isaacs, que está fantástico na pele do detetive Michael e entrega performances brilhantes de angustia, dor e decisão. Destaque também para Cherry Jones, que interpreta a psiquiatra do lado frio.

O que é sonho é o que é realidade? Essa simples pergunta, o “grande mistério” da série, é a conexão que Awake tenta fazer com o público, e eu me senti completamente envolvido por essa questão. É interessante notar, que o episódio termina com a declaração sincera de Michael sobre o preço que ele está disposto a pagar para manter sua esposa e filho vivos, mesmo que isso seja apenas um elaborado sistema de defesa do seu subconsciente. Ele está disposto a sacrificar sua sanidade mental e quem sabe ser até mesmo uma ponte entre as duas realidades, e é exatamente isso que acontece na conclusão do episódio quando sua esposa pede para Michael dizer ao filho que ela o ama.

E por mais que Awake seja simplesmente genial, é exatamente essa “premissa complicada” que me deixa preocupado com o fracasso inevitável da série. O americano médio não gosta de coisas muito complicadas, principalmente o público da NBC (nunca vou te esquecer, Kings), mas assumo que vou ficar extremamente feliz se eu estiver enganado. Torço pelo sucesso de Awake, mas duvido muito.

PS – A estreia oficial de Awake é só no dia 1 de Março, mas a NBC já disponibilizou o episódio piloto no site oficial.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Séries/TV: Natalia Klein fala sobre o sucesso de Adorável Psicose

Atualmente rodando a terceira temporada da série da Multishow, Natalia Klein conversa com o Cinema com Rapadura sobre suas adoráveis paranoias e a possibilidade de levar o programa ao cinema.


 
“O que te traz aqui, Natalia?” É mais ou menos assim que começam as consultas de Natalia com a sua terapeuta Dra. Frida na série “Adorável Psicose”, exibida no canal Multishow. Psicótica confessa, Natalia busca em cada episódio compreender um pouco mais sobre a sua relação com o mundo. Aos 26 anos e nenhum namorado no histórico, a roteirista começou a contar suas paranoias em um blog e logo foi convidada a estrelar o próprio programa de televisão.

Roteirista há três anos, tendo colaborado com os humorísticos globais “Zorra Total” e “Junto e Misturado”, Natalia é formada em Rádio e TV. Com a oportunidade de protagonizar a série, ela descobriu o prazer também pela interpretação. Afinal, ninguém melhor do que ela para interpretar a si mesma, construindo aquela personalidade peculiar. Após duas temporadas de sucesso e atualmente filmando a terceira, Natalia Klein conversou com exclusividade com o Cinema com Rapadura sobre seu processo criativo de um universo psicótico.

A fonte de sucesso de “Adorável Psicose” não é só a empatia do elenco, mas principalmente a sinceridade com que as situações são abordadas. A inspiração vem da vida pessoal de Natalia, que transpõe para os roteiros um pouco do que viveu ou imagina viver. “Eu escrevo sozinha, tanto o blog como os roteiros da série. Penso em encontrar alguém para escrever comigo, mas essa busca é tão difícil quanto achar a pessoa certa no campo afetivo. Requer química, ritmos parecidos, senso de humor compatível… Meu processo criativo é caótico, mas por enquanto tem funcionado”, afirmou a atriz.

Inspirações
As referências para a criação do sitcom são “várias, tipo várias”. Ao ser questionada se “Sex and the City” seria uma das inspirações, a autora negou. “Apesar de ter assistido a todas as temporadas de ‘Sex and the City’, eu não me identifico com o humor mulherzinha-de-sapatos-Manolo-Blahnik. 

Na verdade, não acredito em humor mulherzinha. Acho que já deu disso. Nem as mulheres aguentam mais serem lembradas de que gostam de sapatos e roupas. Quero fazer um programa divertido, que fale sobre aquilo que me interessa, do meu ponto de vista – que, por coincidência, é o ponto de vista de uma mulher”, afirmou. Mesmo assim, não se pode negar que “Adorável Psicose” também discute relacionamentos e é fashionista, galgada na cultura vintage dos anos 40, 50 e 60, mas com muitas cores e estampas. “No dia-a-dia eu uso roupas muito semelhantes [com as usadas na tela], tanto que as duas primeiras temporadas foram feitas basicamente com meu guarda-roupa”, confessou.

Natalia também levou para a ficção seus melhores amigos na vida real, Carol (Carol Portes) e Diogo (Raoni Seixas). Já Dra. Frida (Juliana Guimarães) e Beth (Regiana Antonini) são inspiradas em terapeutas e chefes que ela já teve. “O cara de bigode é o único personagem 100% inventado. Ele deve representar o tipo de homem que me atrai, o cafajeste charmoso. Já o Zingo deve representar a minha esperança de encontrar o cara certo. Não é à toa que ele é imaginário…”, completou.


Exposição
Pelo caráter tão pessoal que narra suas histórias, a inspiração vira exposição. Isso não é problema para a autora, já que gera identificação imediata do público com os casos do dia.  “Me exponho bastante na série, sem dúvida. Mas também se não fosse por essa posição vulnerável em que me coloco, ‘Adorável Psicose’ não teria o mesmo apelo. Claro que não se trata da exposição de um reality show. 

Até porque muita coisa do que escrevo é inventada. A exposição se dá pela franqueza com que expresso minhas inseguranças, meus medos. Esse é todo o diferencial da série. É isso que a coloca acima dos clichês desse tipo de temática”, pontuou a atriz. Desse jeito meio maluco e muito sincero, a vida de Natalia começou a fazer parte de psicóticos do Brasil inteiro. O alcance da série ultrapassou a exibição no Multishow e já está disponível na íntegra no canal de seu namorado imaginário, Zingo Schneider, no Youtube.

A roteirista atribui a repercussão positiva do sitcom justamente por essa troca estabelecida com o espectador. “É muito bacana ver que o público se identifica com as minhas paranoias. Bom saber que não estou sozinha no mundo, que existem outros paranoicos e complexados por aí. Normalmente, não tenho muita dimensão do alcance da série. Até hoje me choco quando as pessoas vêm falar comigo. Sempre as olho com uma cara de ‘sério mesmo que você me assiste?’. Mas compreendo a identificação. Falo de uma maneira muito honesta, tanto no blog como na série. E essa franqueza provoca uma empatia imediata no espectador”, contou.

Cinema
Sobre a possibilidade de adaptar o sitcom aos cinemas, ela dá boas notícias. “A ideia é que o longa saia. Estamos todos trabalhando para que isso aconteça, já existe até um argumento. Vai ficar um pouco diferente da série, que é uma sitcom. O ritmo do filme será outro, mas sempre com os mesmos elementos que cativaram o espectador”, garantiu. A preocupação de que o longa realmente ganhe linguagem cinematográfica é essencial para dissociar outras adaptações de séries de TV que praticamente criaram um episódio mais extenso para suas versões no cinema.

Nova temporada
Para os fãs que se sentem órfãos de novos episódios, Natalia contou que a terceira  temporada está prevista para estrear em abril. As gravações já estão acontecendo e diversão não falta nos sets de filmagem. Em seu Twitter pessoal, a autora publica fotos e novidades sobre os próximos episódios. Ela já afirmou que uma novo personagem integrará a trama e deve disputar o seu amor com o Cara de Bigode. Esse cara novo se chamará Cara Novo.

Apaixonada pelo que faz, Natalia não consegue apontar seus episódios favoritos. “Seria como escolher um filho preferido. Mas essa temporada nova tem episódios bem bacanas, incluindo os dois últimos, que sáo uma sequência com parte 1 e 2, com um clima de mistério e investigação”, disse. Veja abaixo algumas fotos das filmagens divulgadas no perfil da atriz:

 
Novo visual de Natalia Klein.


 
Personagens Carol e Diogo no consultório da Dra. Frida


 
Personagens Givanchir, Dra. Frida e Beth


 
Natalia Klein ao estilo “Bonequinha de Luxo” e ao lado do elenco da terceira temporada.


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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), é especialista em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e arte educador na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Veja cartaz nacional  de 

A Perseguição, com Liam Neeson

Filme será lançado no Brasil em abril.


O longa de suspense “A Perseguição” (“The Grey”, originalmente), distribuído no nosso país pela Imagem Filmes e pelo Telecine, acaba de ganhar seu cartaz nacional, juntamente com um trailer legendado. Veja o pôster, que estampa o rosto do ator Liam Neeson (“As Crônicas de Narnia: Príncipe Caspian”):



A trama conta a história de um grupo de pessoas que está em busca de sobreviver à queda do avião em que estavam no Alasca. Elas trabalhavam como extratores de petróleo e apenas 8 conseguem sobreviver ao acidente. Porém, durante sua luta pela vida, eles precisarão se defender do frio, da desolação e de uma alcateia de ferozes e famintos lobos.

O longa conta com Joe Carnahan (“Esquadrão Classe A”) como diretor e com Mackenzie Jeffers (“Sentença de Morte”) como roteirista. No elenco, ainda estão os atores Dallas Roberts (“Joshua – O Filho do Mal”), James Badge Dale (“Os Infiltrados”), Frank Grillo (da série de tv “Prision Break”), Dermot Mulroney (“Jogada de Gênio”), entre outros.

Está previsto que a estreia do longa aconteça no dia 20 de abril deste ano no circuito nacional.

À Beira do Abismo: mistura de roubo e thriller culminam em filme sem sentido

Sabe aquele tipo de thriller policial de segunda com roteiro de terceira que, de algum modo, conseguiu um bom elenco? Pois este é justamente o caso deste futuro clássico do Super Cine.

Avaliação: 3


Thrillers policiais e tramas de roubo são filmes onde a forma deve seguir a função, pelo menos os que têm como objetivo serem levados a sério. Tudo em tela deve seguir uma estrutura lógica para que a trama no final faça sentido e, ao mesmo tempo, o espectador fique surpreso com as revelações que se seguem. Pois bem, esqueceram de avisar isso aos realizadores de “À Beira do Abismo”. A despeito de o longa não se apresentar como uma caricatura, é impossível não sair da sala se perguntando o que passou pela cabeça dos realizadores ao produzir esta pequena bomba.

Escrito pelo desconhecido Pablo F. Fenjves, aqui em seu primeiro esforço para o cinema, a fita mostra o ex-policial Nick Cassidy (Sam Worthington) que, condenado por um roubo que não cometeu, foge da prisão e resolve pular de um edifício no centro de Nova York, com a problemática negociadora da polícia Lydia Mercer (Elizabeth Banks) tentando dissuadi-lo. Enquanto isso, seu irmão Joey (Jamie Bell) e a namorada deste, Angie (Genesis Rodriguez), arquitetam um roubo contra um magnata local (Ed Harris).

A projeção é repleta de clichês que fazem o público adivinhar tudo o que vai acontecer muito antes do que deveria, eliminando o suspense da equação. O script possui problemas gravíssimos. A estrutura do filme sofre um baque logo no seu primeiro ato ao nos apresentar ao protagonista já no prédio, matando qualquer preocupação que poderíamos ter com sua fuga da prisão, apresentada em um flashback logo depois.

Mais parece que o roteiro foi alvejado por uma metralhadora por conta do excesso de furos que possui. Além da escapada do protagonista ser tremendamente mal explicada, jamais entendemos como irmão e cunhada possuem as habilidades e informações necessárias para o roubo a um prédio de alta segurança. Até mesmo suas ações dentro do edifício não escapam deste problema, vide o modo como se utilizam de um sensor de calor (que desconheciam existir) a seu favor.

Sam Worthington e Elizabeth Banks, que trabalham juntos em boa parte da projeção, até possuem uma química interessante e Jamie Bell parece até entender a bomba em que se meteu, fazendo até uma pequena referência a “Billy Elliot” e Kyra Sedgwick tem uma participação divertida, mas a maioria das atuações é bastante exagerada, com destaque negativo para o veterano Ed Harris, cujo vilão tem até mesmo um momento “risada maligna”. Ele deve ter pensado que era Chris Cooper no filme dos Muppets…

A frouxidão no elenco pode ser consequência da inexperiência do diretor Asger Leth, aqui trabalhando pela primeira vez com cinema ficcional. Apesar de alguns planos mais inspirados, o cineasta parece perdido, apelando até mesmo para a exploração gratuita do corpo da belíssima Genesis Rodrigues. Notem como em todas as cenas do roubo a câmera parece se centrar nos seios da atriz.

Implodindo em um final estúpido e completamente sem sentido, “À Beira do Abismo” é uma produção medíocre e que só recebeu algum destaque por possuir alguns atores famosos em seu elenco. Passe longe.
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Thiago Siqueira
 é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

Filha do Mal: mais um terror barato sobre exorcismo chega aos cinemas

Filme entra para a lista das piores produções já realizadas do gênero.

Avaliação: NOTA 1
 


Logo no início de “Filha do Mal”, o público é alertado sobre a recusa do Vaticano em apoiar ou colaborar com a produção do filme, visto seu teor polêmico que envolve exorcismos e as controvérsias religiosas. Até parece que a história apresentará uma trama ousada, passível de condenações, cuja pretensão pode ir além de outros filmes do gênero, como o recente e decepcionante “O Último Exorcismo” e até mesmo clássicos como “O Exorcista” e “O Exorcismo de Emily Rose”. O que acontece durante a projeção é uma compilação de tudo que já foi visto anteriormente, mas com um tom patético inacreditável.

No enredo, conhecemos Maria Rossi (Suzan Crowley) por meio de uma ligação de emergência, onde ela afirma ter matado três pessoas. Ao chegar ao local, a polícia encontra os corpos e prende a mulher. Não demora muito para entendermos que ela participava de um ritual de exorcismo com dois padres e uma freira, que não acabou bem para os religiosos. Considerada inocente no assassinato, Maria é enviada para a Itália para ganhar cuidados médicos e ficar sob tutela da Igreja, que não expõe os casos perigosos de exorcismo. Cerca de 20 anos depois, a filha de Maria, Isabella (Fernanda Andrade), decide realizar um documentário para entender o que aconteceu com a mãe. Isabella então viaja para a Itália e conhece dois padres conhecedores do assunto e que atuam entre a ciência e a religião para salvar vidas supostamente atacadas por demônios.

Não há como apontar onde começam e terminam os erros e o mau gosto de “Filha do Mal”. É tudo tão absurdamente medonho que chega a impressionar. Filmado ao estilo de “Cloverfield: Monstro” e “Atividade Paranormal”, o prólogo muito lembra “REC”, quando a repórter Ángela Vidal, interpretada por Manuela Velasco, acompanha um chamado dos bombeiros. No caso em questão, a equipe da polícia registra as mortes ocasionadas por Maria dentro da casa. Até aí, o filme parecia estar seguro, já que existe tensão nos planos da filmagem amadora e na forma como os cadáveres são encontrados. Mas o roteiro da dupla William Brent Bell e Matthew Peterman, que em 2006 lançaram o péssimo “Stay Alive – Jogo Mortal”, decide inserir a realização de um documentário para estudar o caso.

Dentro da narrativa de “Filha do Mal”, o falso documentário poderia funcionar de forma eficiente se Bell e Peterman fizessem ideia do que fazer com esse gênero. Então além de a dupla não ter muita criatividade para amarrar a história de uma forma aceitável, eles não sabem realizar um falso documentário que é o básico para a proposta desta película. Quem opera a câmera é Michael (Ionut Grama), amigo de Isabella, mas em praticamente todos os momentos as imagens captadas exalam ficção, já que os atores não convencem e a montagem destrói a naturalidade das sequências. Chega a ser risível a forma como os personagens são postos em cena, gerando uma miscelânea de perfis que em nada dá solidez ou credibilidade à trama.

Além da falta de empatia da brasileira Fernanda Andrade como Isabella e dos diálogos constrangedores do roteiro, outro problema do engodo diz respeito aos padres David (Evan Helmuth) e Ben (Simon Quaterman). É bizarra a forma como eles aceitam dar entrevista para o documentário de Isabella, sabendo de suas funções religiosas e mesmo assim chegando a contar segredos para a câmera. Durante a maior parte do filme, eles não se preocupam com possíveis punições da Igreja por colaborar com a investigação de um caso de exorcismo. Quando eles percebem que estão “ajudando demais” e “se expondo”, não demora muito para trocarem a preocupação pelo argumento de que o documentário tem força para convencer a Igreja se cair nas mãos da imprensa.

Nesse meio tempo, vemos Isabella participando de um curso de exorcismo para padres, visitando a mãe no manicômio e sendo desafiada a descobrir a diferença de uma possessão e uma doença mental. A confiança que ela deposita nos padres David e Ben, sem ao menos conhecê-los, é primária, já que eles são apenas alunos do tal curso e suas habilidades são questionáveis. Quando o roteiro decide contar um pouco mais sobre o passado de Ben, já é tarde demais para criar empatia ou antipatia pelo personagem. Ele já se tornou ordinário para a trama.

Não tem como deixar de citar também a resolução do terceiro ato, que mais parece uma brincadeira colegial entre crianças, forçando o público a acreditar que todo e qualquer corpo é passível de possessão demoníaca e que isso pode ser divertido. E mais, a falta de competência dos criadores em fechar as pontas mais simples da trama é absurda. A sonorização do curta também atrapalha a falsa realidade das cenas, sendo pouco compreensível a captação de alguns ruídos pelo material de filmagem de David em suas instalações.

Para não dizer que o filme é um completo fracasso e para justificar a singela nota desta crítica, o longa traz alguns poucos momentos inspirados, como as contorções dos corpos possuídos e a cena de David durante o batismo que, por mais previsível que fosse, cria uma boa tensão. Na sequência final, de concepção interessantíssima, mas tola, a sensação que dá é de choque. Não pela competência da história, mas justamente pelo contrário. Tudo aquilo que foi apresentado é tão estúpido que não demora muito para dar vontade de rir. “Filha do Mal” chega aos cinemas com a única função de deixar saudade de uma época em que não era qualquer um que fazia terror no cinema.
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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), é especialista em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e arte educador na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.

Os Descendentes: um comovente drama familiar de Alexander Payne

Longa indicado a cinco estatuetas do Oscar traz George Clooney como um pai que se vê obrigado a cuidar das filhas e lidar com as surpresas de seu novo dia-a-dia.


Avaliação: 9
 

Foram sete anos sem lançar um longa-metragem, período aparentemente necessário para Alexander Payne aperfeiçoar ainda mais o seu cinema. Se “Sideways – Entre Umas e Outras” (2004) trouxe um diretor-roteirista quase consciente do nível correto de dramaticidade e comicidade com que deveria balancear em seus trabalhos, “Os Descendentes” demonstra que ele definitivamente encontrou a naturalidade que lhe faltava. Deixando os risos para momentos isolados e apostando em um eficiente drama familiar, Payne entrega um filme comovente que é, sem dúvida, o seu melhor até então.

Quem protagoniza a trama é George Clooney na pele de Matt King, inicialmente um herdeiro sortudo e pai ausente habitante do arquipélago havaiano que logo se vê forçado a mudar sua rotina. Um acidente deixa sua esposa Elizabeth (Patricia Hastie) em coma e as duas filhas do casal sob a sua responsabilidade. Se a mais nova Scottie (Amara Miller) já apronta na escola, a mais velha, Alexandra (Shailene Woodley), faz questão de quase ignorar as tentativas do pai em lhe tratar bem. Mas é um segredo revelado por ela que choca Matt: Elizabeth estava o traindo. A partir de então, o trio, acompanhado de Sid (Nick Krause), amigo de Alex, inicia busca pela identidade do amante, mas eles acabam conhecendo a si mesmos.

Já o público passa a conhecer desde os primeiros minutos de exibição o personagem principal. Com excelentes offs que adentram a cabeça de Matt King fazendo com que ele também descreva toda a situação que está tendo de encarar no momento, o roteiro de Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash (que adaptam o romance de Kaui Hart Hemmings) possibilita uma imediata afeição com esse homem sensível, são e responsável. Diferente dos antigos protagonistas criados pelo cineasta, King é maduro (ao ponto de perdoar um dos responsáveis pelo acidente da esposa), nada trágico, além de ter exata consciência das dificuldades que terá de enfrentar. Na verdade, é nada além de um homem comum, de atitudes que seguem pelo mesmo caminho.

E é com essa simplicidade que “Os Descendentes” nos conquista, nunca fazendo das sequências pouco habituais maiores do que a linda história dessa família imperfeita, assim como qualquer outra. Logo, a busca por conhecer o amante de Elizabeth jamais supera os preciosos minutos de vivência entre Matt, Alexandra e Scottie. Trata-se apenas de um ato de curiosidade de um marido e uma filha traídos, que não entendem porque a esposa/mãe agiu de tal forma. A indignação e a revolta surgem, mas são logo substituídas pela bondade e pelo amor, os quais também, felizmente, impossibilitam estereótipos em relação ao casal de amantes, o que prejudicaria o resultado final do filme.

O roteiro também não força a barra para fazer dessa harmonia entre os King um caso quase impossível. A inicial rebeldia e insensibilidade da primogênita não demora para ser desmascarada em uma linda sequência em que ela, envergonhada por estar na frente do pai, chora debaixo d’água ao receber notícias sobre a nada favorável saúde da mãe. A partir de então, Alexandra transforma-se em outra interessante personagem, revelando-se uma garota já amadurecida e ainda assim jovem, ao ponto de impedir que a irmã assista a um canal pornô para pouco depois soltar o mais cabeludo palavrão, ignorando a idade da menina. Como intérprete, Shailene Woodley faz dela uma adolescente ainda mais carismática e complexa, sendo a não-nomeação da atriz para o Oscar mais uma das imperdoáveis esnobadas da Academia este ano.

Por outro lado, a caçula Scottie funciona como escopo cômico, sempre aprontando, como uma inquieta criança de dez anos. Mas diferente das produções anteriores de Payne, a comicidade é dona de uma naturalidade que pouco deturpa o tom dramático da trama. “Pouco” porque ainda temos Sid, o amigo de Alex, que está ali apenas para exibir sua imbecilidade, ao ponto de achar graça de uma pessoa com Mal de Alzheimer. Trata-se de um personagem desnecessário, ainda que o roteiro busque compensar seu alto grau de ignorância com sequências em que ele conta parte de sua nem tão agradável vida.

Mesmo assim, não há nada que impede que o intenso nível de emotividade da narrativa de “Os Descendentes” seja recuperado, seja por reservar poucos e preciosos minutos para os pais de Elizabeth, seja por explorar, com intensidade, a melhor interpretação de George Clooney em sua carreira. Tendo como principal mérito em sua direção a capacidade de manter o drama e a honestidade da história, Alexander Payne transforma um já ótimo roteiro em um filme sensível, daqueles de fazer chorar, que merece cada menção em premiações que está recebendo.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.

Histórias Cruzadas: preconceito velado prejudica filme de temática importante

Escrito e dirigido por Tate Taylor, longa dá voz a quem já possuía, deixando os negros, mais uma vez, de lado. 

Avaliação: 5
 


Não é preciso conhecer a fundo os Estados Unidos para perceber que a segregação racial ainda é marcante no país. Basta uma simples visita para se dar conta que os postos de trabalho de menor remuneração são ocupados pelos negros quase que completamente. Eles ainda sofrem com as consequências da falta de direitos civis que os prejudicava há cerca de 50 anos. Pois é exatamente sobre uma época em que os negros ainda lutavam por fazer valer a sua voz que se passa a trama deste “Histórias Cruzadas”. A relevância da temática, porém, esbarra em um roteiro preconceituoso, mais preocupado com causos cômicos e caricaturais do que com a dura rotina de discriminação vivida por empregadas e ajudantes de lares.

São exatos 146 minutos de duração, dos quais poucos são realmente dedicados a ouvir as histórias dessas mulheres responsáveis e lutadoras que lavam, passam, cozinham e ainda cuidam dos filhos de casais brancos, enquanto os seus próprios são educados por outras pessoas. Logo, não se torna tão importante saber que a trama é inicialmente justificada pela iniciativa de uma recém-formada jornalista e pretensa escritora, Eugenia Phelan ou apenas Skeeter (Emma Stone), em fazer um livro retratando o ponto de vista das domésticas, como jamais havia sido realizado pela literatura local.

Tudo porque o real ponto de vista exibido é o das donas de casa ricas e mimadas, especialmente o de Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard), a mais megera delas. Tão excludente quanto suas reais personagens principais (a exceção é Skeeter), o roteiro de Tate Taylor (adaptado do livro “A Resposta”, de Kathryn Stockett), que também dirige a produção, é uma contradição só, chegando ao ponto de apenas citar a agressão doméstica vivida por Minny (Octavia Spencer), uma das empregadas, enquanto a repercussão acerca de uma polêmica torta de chocolate servida a Hilly se estende por diversos e desnecessários minutos. Essas errôneas opções acabam fazendo com que o filme não se transforme em um  pedido de desculpas, que cede aos negros o espaço que sempre lhes faltou, mas sim em um ato de vingança contra os brancos.

E esse ato de vingança não é organizado pelos empregados, mas sim pelo próprio script infantil, ao achar que basta demonizar umas e inocentar outras para alcançar os seus méritos. Logo os estereótipos estão em ambos os lados. Se de um deles temos mulheres extremamente estúpidas e preconceituosas, de outro estão mulheres frágeis, inteligentes e humildes. A única que destoa é Celia Foote (Jessica Chastain), como a ricaça estridente, mas cheia de coração. Talvez, por isso, seja uma das poucas personagens que verdadeiramente diverte o público. A personalidade de Minny, como a negra “desbocada”, até provoca algumas risadas, mas, entre as variadas limitações do roteiro, é bem mais interessante acompanhar a desconstrução da vaidade de Foote.

Já a emoção fica por conta de Viola Davis, que interpreta a trágica Aibileen. É ela quem desnecessariamente narra a história. É dela de quem deveríamos ouvir mais causos sobre sua profissão, que exerce desde os 14 anos de idade. Mas a ânsia de Tate Taylor por voltar aos ricos subúrbios e exibir mais piadas impedem a plateia de se identificar ainda mais com a personagem. A morte precipitada do filho é o único fato pessoal inteiramente contado por ela. De resto, o longa exibe moderadamente a passividade dessa doméstica dedicada, que não seria tão verdadeira se vivida por outra atriz que não Davis. A expressividade desse talento tão tardiamente descoberto faz mágica com tão pouco que lhe é concedido.

O trabalho do elenco (quase completamente feminino), por sinal, salva “Histórias Cruzadas” da tragédia. Do alto de suas caricaturas, elas ainda são capazes de despertar a empatia dos espectadores. Os diversos diálogos do roteiro de Taylor, assim como sua direção comedida e com algum ritmo, permitem tal destaque. Pena que todas estejam em prol de um trabalho tecnicamente bem acabado, mas narrativamente fracassado, que dá voz a quem já possuía, exibindo um preconceito velado de envergonhar. Indicado ao Oscar de melhor filme este ano, o longa-metragem deveria ter passado despercebido.
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Darlano Dídimo
é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.

FESTIVAL DE BERLIM - 2012 - PARTE 2

Berlinale 2012: The 10 Films We Want to See

"Captured"
 
The 62nd Berlin International Film Festival kicks off tomorrow, offering dozens (and dozens) of world premieres across mutliple sections. By the time the festival's Golden and Silver Bears are handed out next weekend, we'll have a good idea as to the world cinema that will come to theaters near you (eventually, that is -- some of last year's program is just coming out Stateside now).
In the past few years, the festival has proven itself -- perhaps more than it has in some time -- as an excellent platform for emerging and proven talent in world cinema to debut their work. Last year's crop ended up gaining more Oscar nominations than the 2011 Sundance Film Festival's slate.

Among them were Asghar Farhadi's "A Separation," Wim Wenders' "Pina" and Michael R. Roskham's "Bullhead," as well as Bela Tarr's "The Turin Horse," Ulrich Kohler's "Sleeping Sickness," Ralph Fiennes' "Coriolanus," and Celine Sciamma's "Tomboy." Not bad for a festival that many felt had found itself in a threatening slump a few years prior.

So what's likely to follow in those films' collective footsteps this year? Hard to say. Berlin has become a festival of unexpected discovery. Few would have ever foreseen going into last year's event that "A Separation" would end up a double Oscar nominee. Nonetheless, as we board our flights, here's 10 of our best bets.

Barbara (Christian Petzold, Germany)
Considered one of the leading directors of the Berlin School movement, Christian Petzold ("The State I Am In," "Yella") returns to the Berlinale with "Barbara." Set in the GRD in 1980, the film follows a doctor (Petzold regular Nina Hoss) trying to emigrate to West Germany.

Bel Ami (Declan Donnellan, Nick Ormerod, UK)
Not to the be confused with the brand of Eastern European gay porn, "Bel Ami" instead stars Robert Pattinson in another attempt to move beyond his "Twilight" fame. The period film adapted from the book by Guy de Maupassant follows a young man's rise to power in Paris via his manipulation of the city's most powerful women (Uma Thurman, Kristin Scott Thomas, Christina Ricci). Perhaps the most star-studded offering at the fest, it could be (campy?) fun.

Captured(Brillante Mendoza, France/Philippines/Germany/UK)
Probably on top of most folks "to-see" lists at the festival, Filipino director Brillante Mendoza follows up the highly divisive "Kinatay" with this thriller about a dozen foreigners who are kidnapped by a terrorist group in the Philippines. It stars none other than Isabelle Huppert, always a reason in itself to get excited.

Caesar Must Die (Paolo & Vittorio Taviani, Italy)
Palme d'Or winning (back in 1977 for "Padre padrone) Italian brothers Paolo & Vittorio Taviani enter their sixth decade of filmmaking with "Caesar Must Die." A documentary, the film follows a production of Shakespeare's "Julius Caesar" put on by none other than the inmates of Roman maximum security prison Rebibbia.

Cherry (Stephen Elliot, USA)
The directorial debut of Stephen Elliot, "Cherry" is debuting in the festival's Panaorama section. It follows an 18 year old girl (Ashley Hinshaw) who drifts into the San Francisco porn industry using the moniker Cherry. The film's main appeal is its supporting cast, which includes James Franco, Heather Graham, Dev Patel and Lili Taylor.


"Jayne Mansfield's Car."
 
Death Row (Werner Herzog, USA)
A sort of expansion/companion piece to "Into The Abyss," this whopping 188 minute doc (intended as a four-part television series) finds Werner Herzog offering portraits of five different people on death row in Texas.  While ambitiously time-consuming for festival goers, anything Herzog does is worthy of "must-see" status
Farewell My Queen (Benoit Jacquot, France/Spain)
Opening the Berlinale isn't exactly a good luck charm (anyone remember Wang Quan'an's "Apart Together"? Didn't think so), but Benoit Jacquot's follow up to 2010's "Deep in the Woods" could be an exception to the rule. Set in Versailles in 1789, the costume drama stars the tirelessly international Diane Kruger as none other than Marie Antoinette.

Jayne Mansfield's Car (Billy Bob Thornton, USA)
Billy Bob Thornton is premiering his first feature directorial offering in 11 years at the Berlinale, oddly at the same event his ex-wife Angelina Jolie is offering the European debut of her directorial effort "In The Land of Blood and Honey." Thornton's film features an impressive cast in Kevin Bacon, Robert Duvall, John Hurt, Frances O'Connor and Thornton himself, and follows two 1960s-era families whose cultures clash.

Marley (Kevin Macdonald, UK/USA)
Recently picked up for American release by Magnolia Pictures, "One Day in September" and "The Last King of Scotland" director Kevin Macdonald's "Marley" offers the first-ever family authorized doc on the life of legendary reggae musician Bob Marley. Not heading to the Berlinale? Its also set to screen at SXSW next month.

Sister (Ursala Meier, Switzerland/France)
Ursala Meier assembles an international cast in Lea Seydoux, Martin Compston and Gillian Anderson for "Sister," a film set in a luxury ski restort in Switzerland. It follows her acclaimed 2008 directorial debut "Home" (which premiered in Cannes), and may or may not continue to show the potential of an emerging voice in world cinema.

Indiewire will be offering full coverage from the 61st Berlin International Film Festival beginning tomorrow.

FESTIVAL DE BERLIM - 2012

Mike Leigh promete um Berlinale "revolucionário" e comprometido

Gemma Casadevall
Da EFE, em Berlim

  • Membros do júri se reúnem para foto oficial da 62° edição do Festival de Berlim. Anton Corbijn, Jake Gyllenhaal, Barbara Sukowa, Mike Leigh (presidente do júri), Charlotte Gainsbourg, François Ozon, Boualem Sansal e Asghar Farhadi (8/2/12) 
  • Membros do júri se reúnem para foto oficial da 62° edição do Festival de Berlim. Anton Corbijn, Jake Gyllenhaal, Barbara Sukowa, Mike Leigh (presidente do júri), Charlotte Gainsbourg, François Ozon, Boualem Sansal e Asghar Farhadi (8/2/12)
Liderado pelo diretor britânico Mike Leigh, o júri do Festival de Berlim prometeu ficar atento "às revoluções", da francesa às atuais, ao acompanhar os candidatos aos Ursos, que começam a ser apresentados nesta quinta-feira (9) com a produção franco-espanhola "Les Adieux à Reine".

"Não queremos nos antecipar ao que vamos ver. Mas há um grande potencial de temas que comovem o mundo atualmente", disse Leigh, em referência à decisão do diretor do Bernilane, Dieter Kosslick, de transformar a primavera árabe e outras revoluções em eixo temático.
Em uma entrevista coletiva antes da abertura do festival, Leigh compareceu ao lado de seus companheiros de júri: a atriz francesa Charlotte Gainsbourg e a alemã Barbara Sukowa, o ator americano Jake Gyllenhaal, o diretor iraniano Asghar Farhadi - Urso de Ouro de 2011 com "A Separação" -, o cineasta francês François Ozon e o escritor argelino Boualem Sansal.

O trio de atores se encarrega de atrair os flashes, enquanto Leigh, Farhadi e Sansal assumiram a incumbência de falar do cinema e de seu compromisso.

"A revolução francesa foi a 'mãe' de todas as revoluções. Nós, seus filhos, devemos preservar muito esse espírito", disse Sansal. O escritor argelino afirmou ter consciência, mesmo não sendo um "homem do cinema", da vontade de Kosslick de exaltar a temática o mundo árabe um ano depois da queda de Hosni Mubarak e outros ditadores.
                                Tabu (Alemanha/Brasil/França/Portugal), de Miguel Gomes

Nesta coprodução com participação brasileira, depois que sua vizinha morre, uma mulher descobre entre seus pertences uma carta para um antigo amante e decide postá-la Divulgação

"Les Adieux à Reine", dirigida por Benoit Jacquot, inaugura a apresentação dos 18 candidatos do Urso, que incluiu, entre outros, "Cesare deve Morire", dos italianos Paolo e Vittorio Taviani e "Dictado", do espanhol Antonio Chavarrías.

A vontade de Kosslick de abordar as atuais revoluções do mundo árabe se estenderá tento pelas seções oficiais como pelos restantes das mostras do festival, que deverá apresentar 400 filmes.


Rodado no Senegal por Alain Gomis, o filme "Aujourd'hui" aborda as questões que envolvem a África atual, enquanto "Tabu", uma produção luso-brasileira dirigida por Miguel Gomes, apresenta um retrato multiétnico de Lisboa.


Já o longa "Captured", de Brilhante Mendoza, traz Isabelle Huppert no papel de uma turista sequestrada por um grupo muçulmano. A violência abordada no filme se aproxima da abordada no canadense "Rebelle", dirigido por Kim Nguyen, que se ambienta no Congo.


"Metéora", assinado por Spiros Stathoulopoulos, também se destaca entre os aspirantes ao Urso com uma história centrada em um mosteiro ortodoxo.


Os Estados Unidos apresentará somente um concorrente, "Jayne Mansfield's Car", de Billy Bob Thornton, enquanto os anfitriões apresentam três: "Barbara", Christian Petzold; "Gnade", de Matthias Glasner, e "Was Bleibt" ("Home For The Weekend"), de Hans Christian Schmid.


A seleção europeia é completa pelo francês "A Moi Seule", de Frederic Videau; o suíço/francês "L'enfant d'em haut", de Ursula Meier; o dinamarques "A Royal Affair", de Nikolaj Arcel, e o húngaro "Csak a szél" ("Just The Wind"), de Benedek Fliegauf.


Entre as presenças mais esperadas, fora de concurso, aparecem Meryl Streep, que receberá um Urso de Ouro de Honra, e Angelina Jolie, que estreia como diretora com "In The Land Of Blood And Honey", uma história de amor impossível tendo a Guerra da Bósnia como pano de fundo.


Javier Bardem aparece com o documentário "Filhos das Nuvens. A Última Colônia", de Javier Longoria, assim como Antonio Banderas em "Haywire", de Steven Soderbergh.


Outras estrelas também são esperadas em Berlim, caso de Uma Thurman e Robert Pattinson, com "Bel Ami"; Juliette Binoche, com "Elles", e Salma Hayek, com "A Chispa da Vida", de Álex de la Iglesia.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Ator Damian Lewis entra para o elenco da adaptação de Romeu e Julieta

Stellan Skarsgard também foi anunciado.



O ator Damian Lewis (da série “Homeland”) foi confirmado no elenco da adaptação cinematográfica de “Romeu e Julieta”, obra de William Shakespeare. Junto a ele foram anunciados Stellan Skarsgard (“Thor”), Natascha McElhone (da série “Californication”), Lesley Manville (“Um Ano Mais”), Christian Cooke (da série “Doctor Who”), Tomas Arana (“Sem Limites”), Laura Morante (“O Quarto do Filho”) e Leon Vitali (“De Olhos Bem Fechados”).

A trama se baseará na original – dois jovens de famílias inimigas se apaixonam e precisam agora lidar com a pressão -, porém, ao contrário das muitas adaptações realizadas nos últimos tempos, será ambientada no tempo real do romance, da forma que Shakespeare o concebeu.

“Nós sentimos que já faz um tempo em que vem acontecendo uma romântica e tradicional rendição à obra. Desde então, as pessoas tem realizado adaptações de ‘Romeu e Julieta’ –  e algumas muito boas – porém sempre ambientadas na Ohio moderna ou outro lugar. Essa não é. Essa é a história romântica medieval, como Shakespeare criou. Realmente, sentimos que precisávamos produzir levemente mais acessível para a geração atual. Isso, eu espero, é tudo que temos que fazer. Meu sonho é que você assista e pense que assistiu à todo o material escrito por Shakespeare”, disse o roteirista Julian Fellowes (“O Turista”).

Completam o elenco principal os atores Hailee Steinfeld (“Bravura Indômita”) como Julieta, Douglas Booth (“Através do Tempo”) como Romeu e Paul Giamatti (“Tudo Pelo Poder”) como o pai de Julieta. A direção fica com Carlo Carlei (“A Última Legião”). O filme foi anunciado para 2012, porém nenhuma data oficial foi divulgada.

Russell Crowe pode protagonizar o novo Robocop, de José Padilha

Astro de "Gladiador" também deve protagonizar o próximo filme de Darren Aronofsky.




A nova versão do longa-metragem “Robocop”, dirigida pelo cineasta brasileiro José Padilha (“Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro”), pode ter Russell Crowe (“Robin Hood”) interpretando o personagem principal.

Segundo uma declaração no Twitter do jornalista Jeff Sneider, da Variety, uma de suas fontes teria revelado que o astro de “Gladiador” deve viver o oficial Alex Murphy, que acaba se tornando o Robocop na trama. Entretanto, até o momento, ainda não foram confirmadas estas informações. Outra revelação de Sneider é que Crowe interpretará também Noé, no longa sobre a Arca de Noé, que será dirigido por Darren Aronofsky (“Cisne Negro”).

Rumores anteriores apontavam Michael Fassbender (“X-Men: Primeira Classe”) como o provável Robocop neste remake, porém sem nenhuma confirmação, apesar de o diretor ter declarado que este ator era o seu preferido para o papel.

“Robocop” tem o roteiro escrito por Nick Schenk (“Gran Torino”) e irá recontar a origem do filme policial que fez um grande sucesso nos anos 80. De acordo com o diretor José Padilha, nesta nova versão, sua intenção é demonstrar o que acontece quando um homem se transforma em praticamente uma máquina.

O novo longa-metragem ainda não possui uma data de estreia definida.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Shameless, Californication e House of Lies garantem novas temporadas


O canal Showtime acaba de renovar de uma só vez três séries da sua grade de programação.
Shameless que é estrelado por William H. Macy e Emmy Rossum foi renovado para sua 3ª temporada e atualmente é das séries de maior audiência do canal, com média de 4.75 milhões por episódio (somando múltiplas plataformas).

Californication é uma das veteranas do canal e a série de David Duchovny retorna para a 6ª temporada.

Já a novata House of Lies, vem apresentando bons números para o canal e também garantiu sua renovação trazendo Kristen Bell e Don Cheadle para a 2ª temporada.

“Essas três séries claramente encontraram uma conexão com a audiência e a evidência disso é o crescimento sólido de todas elas,” disse o presidente de entretenimento do Showtime, David Nevins. “Estamos extremamente satisfeitos com o trabalho criativo feito pelos elencos, produtores e roteiristas dessas séries.”

The Big C e Nurse Jackie ainda não foram renovadas e por enquanto estão na corda bamba. Vale lembrar que Dexter, outra série veterana do canal já foi renovada por mais duas temporadas e está garantida até pelo menos a 8ª temporada.

Os Homens que Não Amavam as Mulheres: filme sueco investe em tensão

Suspense investigativo adapta bem a linguagem literária ao cinema.

Avaliação: NOTA 7
 


O longa sueco “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, de 2009, é a adaptação do primeiro volume da trilogia literária “Millennium“, escrita pelo sueco Stieg Larsson. Trata-se de um suspense investigativo onde o jornalista Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist) é contratado para desvendar um mistério de 40 anos sobre o desaparecimento da sobrinha do grande empresário Henrik Vanger (Sven-Bertil Taube). Para isso, conta com a ajuda da hacker Lisbeth Salander (Noomi Rapace), cuja vida igualmente misteriosa também chama a atenção de Blomkvist.

O roteiro adaptado é seguro em sua estrutura, elaborando a complexa trama de forma compreensível sem prejudicar o ritmo em prol de “mastigar” explicações ao público. Além disso, preocupa-se com o tipo de abordagem particular que dá aos protagonistas. A apresentação destes é diferente uma da outra, buscando uma compatibilidade com a própria personalidade de cada um. Mikael é introduzido em meio a um polêmico julgamento no qual repórteres explicam de maneira geral quem ele é e o que faz, indo ao encontro das principais características do personagem: uma figura pública e sem muitos segredos. Já Lisbeth, uma jovem introvertida e profissionalmente sigilosa, é apresentada de maneira a causar estranhamento e curiosidade no público, assim como nos demais personagens do filme.

A direção de Niels Arden Opley também segue esta mesma ideia. Os planos abordam Mikael a fim de explorá-lo, com movimentos ao seu redor, seguindo-o de frente enquanto anda pela rua, revelando sua expressão em planos fechados, invadindo sua privacidade com a família dentro de casa, seus afazeres domésticos etc. Já em relação à Lisbeth, a câmera se mantém distante, seguindo-a de costas pela rua, tentando perceber seu rosto escondido debaixo do capuz ou atrás da tela do notebook, até o primeiro momento em que a vemos explicitamente e temos a mesma reação de surpresa que um dos personagens exibe.

O figurino e a maquiagem são elementos fundamentais para destacar a hacker. Durante grande parte das cenas em que ela aparece, torna-se a figura que mais chama atenção na tela. Seu visual incomum impõe um constante desequilíbrio em relação aos cenários e aos outros personagens, quase um incômodo na composição dos planos. Isso também diz muito sobre a psicologia de Lisbeth, simbolizando o modo como ela mesma se vê na sociedade: uma pessoa diferente e deslocada.

A atmosfera de tensão que se mantém durante todo o filme é construída essencialmente pela valorização de planos fechados. Os planos médios e abertos são usados apenas pontualmente por uma questão geográfica. Esse clima tenso também é sustentando pela trilha sonora que, mesmo em cenas de transição, estabelece um pano de fundo sonoro que antecipa eventos posteriores – como quando Mikael está a caminho da casa de Henrik Vanger sem saber o motivo do chamado e da urgência – ou impõe uma carga dramática maior a uma ação corriqueira – como as cenas em que Lisbeth trabalha no notebook.

A grande falha do filme é a montagem, que parece querer aproveitar todas as sequências que foram filmadas. Essa postura acaba por enfatizar algumas falhas na decupagem, com câmeras desobedecendo aos eixos e ao racor (continuidade de um movimento entre dois planos). O uso de pequenas elipses (supressões do tempo da ação) parece ser uma tentativa de amenizar tais falhas e sua frequencia busca uma unidade estética que esconde esta intenção. No fim das contas, temos um primeiro erro cuja tentativa de conserto acaba por gerar uma nova necessidade que, por sua vez, prejudica todo o produto final. Isso tudo poderia ter sido evitado por uma proposta mais objetiva e econômica.

Porém, o longa acerta muito mais do que erra. “Os Homens que Não Amavam as Mulheres” serve de exemplo para a recente estratégia mercadológica de adaptação de grandes séries literárias. Revela-se técnica e artisticamente como um ótimo diálogo entre duas linguagens, obedecendo ao ritmo do cinema ao mesmo tempo em que respeita o conteúdo da literatura.
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Thiago César é formado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mas aspirante a cineasta. Já fez cursos na área de audiovisual e realiza filmes independentes.

Os Homens Que Não Amavam as Mulheres: nova adaptação é imperdível

Combinando ótimas atuações, um roteiro instigante e um visual de tirar o fôlego, a adaptação hollywoodiana para o livro sueco se mostra imperdível.

Avaliação: NOTA 9
 
 

Em regra, remakes são mal-vistos pelos cinéfilos. A ideia de pegar uma obra já feita e refazê-la por algum motivo geralmente não cai bem junto ao público. No caso específico da trilogia “Millennium”, os três livros de Stieg Larsson, que já haviam sido adaptados anteriormente na Suécia, ganham agora novas versões hollywoodianas.

O que torna “Millennium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” uma experiência interessante até mesmo para quem viu os longas suecos é a diferença que o cineasta David Fincher faz. Um diretor sempre visualmente impressionante, Fincher não se contenta em meramente refazer a fita sueca, mas se apropria do material literário original e cria um thriller de tirar o fôlego até mesmo para aqueles que conhecem a franquia de outros carnavais, pegando a audiência desde os créditos iniciais.

O jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig), após passar por um perrengue judicial, é contratado pelo rico e influente Henrik Vanger (Christopher Plummer) para solucionar o desaparecimento da sobrinha deste, Harriet, que ocorreu há mais de quatro décadas. Enquanto isso, conhecemos a hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara) que, a despeito de seu brilhantismo, se mostra incapaz de interagir em sociedade da maneira habitual, trazendo consigo um passado trágico e um quê auto-destrutivo fascinante. As vidas de Blomkvist e Salander se cruzam de maneira explosiva, revelando vários esqueletos que a problemática família Vanger deseja ver enterrados.

Os momentos cruciais em tramas de mistério são aqueles em que acompanhamos os protagonistas solucionando seus desafios e compreendemos o raciocínio lógico por trás de suas descobertas. A definição sobre a inteligência do texto e dos personagens acontece ali, sendo tais sequências capazes de diferenciar bons filmes de meros engodos. O texto de Steve Zaillian e o preciosismo gráfico de Fincher nos permitem entrar na cabeça de Blomkvist e Salander enquanto trabalham, tornando a investigação mais tensa e real, mesmo quando as habilidades de Lisbeth com os computadores tornam tais investidas um pouco menos verossímeis, algo que o próprio filme brinca ao mostrar o desconforto de Mikael com tais ações digitais.

Nesse sentido, a trilha sonora da dupla Trent Reznor e Atticus Ross e a montagem criam um clima de urgência tão presentes que tornam os “mergulhos” nas mentes de Mikael e Lisbeth sufocantemente ágeis, nos ajudando a navegar em meio aos fluxos constantes de flashbacks. Dessa forma, o público jamais se sente perdido ou entediado em tais momentos, mas sim posto em um estado de tensão constante.

Outro grande acerto da produção foi manter a história na Suécia. Transferir a trama para algum lugar dos EUA acabaria por extirpar boa parte da atração visual do filme, considerando o uso magnífico das paisagens marcadas por uma opressiva onipresença do branco por Fincher e seu diretor de fotografia, Jeff Cronenweth, merecidamente indicado ao Oscar por seu trabalho aqui. Até mesmo a percepção de frieza que o mundo tem dos suecos acaba contribuindo para o clima imposto no decorrer da narrativa. Tal decisão também cobra seu preço, sendo impossível não sentir certa estranheza ao ver pessoas na Suécia falando quase exclusivamente inglês no universo realista proposto pelo diretor.

Zaillian e Fincher também compreendem que a investigação, por mais interessante que seja, funciona mais como uma desculpa para que conheçamos mais sobre os personagens principais, tanto que o filme prossegue mesmo após a resolução desta. As personalidades e os conflitos de Mikael e Lisbeth são realmente o que tornam a fita tão instigante, principalmente no caso da hacker. Não é à toa que, no primeiro ato da projeção, a garota possui uma trama paralela ao mistério de Harriet, revelando mais e mais sobre sua existência tortuosa e como sua natureza agressiva pode ser terrível ao ser provocada.

O background de Salander e suas tendências para a autoflagelação complementam as tentativas de Mikael de se livrar de alguns de seus problemas e vícios. O relacionamento do jornalista com Erika (Robin Wright), sua bela e casada colega na revista Millennium, cria um interessante contraponto para a relação dos dois protagonistas.

Enquanto Daniel Craig explora de maneira admirável o orgulho e a angústia de Mikael com a situação delicada na qual se encontra, bem como seu desejo em resolver certos aspectos da sua vida, é inegável que o filme pertence a Rooney Mara, que compõe de maneira fabulosa sua Lisbeth, ficando claros os motivos que levaram David Fincher a apostar na garota mesmo quando nomes mais famosos mostraram claro interesse pelo papel.

Se entregando sem medo a uma personagem difícil, repleta de nuances e jamais usando o visual punk como muleta, Mara convence não só nos momentos mais chocantes de Lisbeth, mas também naqueles mais introspectivos, como em um simples jogo de xadrez com seu ex-tutor, mostrando ali uma ânsia em expressar um sentimento com o qual ela é pouco familiar.

O clã Vanger também está muito bem representado com performances marcantes por parte de Christopher Plummer e Stellan Skarsgård, cujos trabalhos revelam pistas sutis sobre a verdadeira natureza dos mistérios envolvendo aquela família, descrita pelo seu líder como um bando de degenerados miseráveis e ladrões.

Inteligente, arrebatador e repleto de personagens interessantes e atuações idem, “Millennium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” é uma adaptação mais do que digna do sucesso que os livros de Larsson, deixando o público salivando por mais na saída do cinema. Recomendado.
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Thiago Siqueira
 é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.