Primeiras Impressões:
The Hour
Essa nova série britânica foi uma das grandes apostar do canal BBC 2 para esta temporada. Será que o canal conseguiu fazer jus ao produto que vendeu em suas propagandas?
Ambientado em 1956, durante a crise do Canal de Suez, The Hour conta a história do jornalista Freddie Lyon (Whishaw), jornalista competente, porém bastante crítico à mídia de sua época por achar que nela não existe mais liberdade criativa. Ele é contratado para participar do novo programa de sua amiga, Bel Rowley (Garai), porém o cargo de âncora que ele almejava foi ocupado por Hector Madden (West). No meio disto, vemos uma investigação de Freddie, cujas consequências provavelmente colocarão a vida dele, e de outras pessoas, em risco.
A construção de época está impecável, desde as locações, que possuem uma série de estátuas, placas, ou resquícios da década de 50, como nos figurinos, recheados dos vestidos longos, relógios dourados e chapéus cocos. Conseguimos ser transportados magnificamente para a época que a série se passa, o que é uma obrigação mínima em produções do gênero.
Ben Whishaw acerta ao compor Freddie como uma figura com um quê de excentricidade, combinando com sua falta tino para relações sociais e sua compulsividade por fazer jornalismo investigativo, mas que podemos ao mesmo tempo perceber sua genialidade em enxergar o extraordinário em coisas mundanas pelo seu olhar, que evoca uma profunda atenção.
Romola Garai consegue dar certa tridimensionalidade a sua personagem, ao mesmo tempo em que consegue ser uma espécie de musa para os padrões da época, bonita e com uma posição difícil de ser conseguida, não é isenta de falhas. Mas, quem rouba a cena, com menos tempo de câmera é Dominique West (o eterno agente McNulty de The Wire), que funciona muito bem, desde a sua postura em cena como no modo de falar, na figura do homem charmoso, em um papel que poderia muito bem ser interpretado por Jon Hamn.
Falando nisto, a estratégia de venda da BBC como “O Mad Men britânico” pareceu ser apenas uma tentativa de marketing. Não é porque estamos em uma série de época, com pessoas fumando, e um homem que lembra Hamn, que essa comparação se torna válida. As duas séries focam em pontos muito diferentes: enquanto Mad Men possui um foco no intimismo de seus personagens, The Hour foca muito mais no jornalismo e na conspiração. O que a BBC não percebeu é que uma comparação com uma das maiores séries em exibição pode fazer o efeito contrário, de alavancar as expectativas do espectador e piorar sua experiência.
O roteiro, concebido por Abi Morgan, embora na maior parte das vezes consiga desenvolver a história com eficiência, peca por ser altamente expositivo em alguns momentos. Como ao levar certo personagem a precisar falar que na época ainda existiam locais que proibiam negros ou irlandeses, algo que poderia ser deixado simplesmente a cargo da inteligência do espectador, ou mostrado de forma mais sutil como uma placa.
A direção de arte é uma das grandes qualidades da série. Usando sempre cores frias e desaturadas, que ajudam na composição de uma Londres distante e melancólica, além de locações escuras nas ruas para dar um alerta dos perigos que os personagens podem estar correndo na cidade. Como contraponto a tudo isto, vale notar que sempre existem tons pequenos de dourado nos ambientes, para mostrar que, apesar de tudo isto, ainda existe certo glamour no universo.
A trilha sonora também faz um bom trabalho, conseguindo sempre complementar o que está se vendo na tela, alternando também entre um instrumental mais triste, as músicas populares da época e as que evocam certa tensão no espectador.
Embora o piloto seja um instrumento de medida falho, essa hora inicial consegue fisgar o espectador e fazer com que ele tenha vontade de acompanhar aqueles personagens durante algum tempo, o que é um acerto. E uma série que, embora conservadora em linguagem consegue fazer uma linda montagem entre uma perseguição e uma dança, o mínimo que podemos dizer é que ela possui bastante potencial.
Agora é a vez de vocês, o que acharam dessa série? Sentiram-se interessados em continuar acompanhando ou irão abandonar no piloto?