sábado, 16 de maio de 2009
Ang Lee leva almofadinha a Woodstock
Filme segue jovem certinho que ajudou a montar o histórico festival hippie.
'Taking Woodstock' está em competição no Festival de Cannes
Nada de champanhe, cerveja ou chá de cogumelos. A reunião em que foi fechado o contrato para a realização do lendário festival de Woodstock, em 1969, foi movida a generosas doses de leitinho achocolatado.
A revelação, entre muitas outras curiosidades sobre os bastidores do evento que se tornou o marco fundamental do movimento hippie, está em "Taking Woodstock", novo longa-metragem de Ang Lee, diretor duas vezes vencedor do Oscar, que será apresentado neste sábado em sessão de gala para convidados.
Parte da competição oficial pela Palma de Ouro, o filme é inspirado na história de vida de Elliot Tiber, um judeu almofadinha de Nova York, filho de imigrantes russos, que acabou tendo, por acaso, um papel-chave na realização do festival.
Com um faro bom para o marketing, Tiber decide promover um evento musical no verão de 1969 destinado a levantar dinheiro para pagar a hipoteca do motel de beira de estrada dos pais. O único detalhe é que o festival seria de música erudita careta, voltado só aos membros da comunidade rural de White Lake.
Foi o oportunismo de Tiber que fez com que o rapaz pegasse o telefone logo após ter lido no jornal que o ambicioso festival de Woodstock, planejado para acontecer inicialmente na cidadezinha de Wallkill, havia sido cancelado por ordem do governo local.
Presidente da Câmara de Comércio de White Lake, ele ligou para os produtores e ofereceu a eles que organizassem o evento em uma fazenda da região, propriedade de Max Yasgur, criador de gado e responsável pela fabricação do tal leitinho achocolatado mencionado acima.
Mas "Taking Woodstock", que tem previsão de estrear na segunda quinzena de agosto deste ano, quando o evento completa 40 anos, não é apenas sobre o festival hippie. Antes disso, é a história do próprio Tiber, garoto esforçado, avesso a drogas e fã da atriz da Broadway Julie Andrews que, além de se livrar da barra da saia da mãe - uma judia opressora e gananciosa -, enfrenta um dilema interior para assumir sua homossexualidade.
À medida que se envolve na produção do evento - que levou nada menos do que 500 mil pessoas à região de alguns poucos milhares de habitantes -, Tiber vai se soltando cada vez mais, graças ao idealismo dos hippies e o empurrãozinho do travesti Vilma, interpretado no filme pelo "dentes de sabre" Liev Schreiber.
Filmado sem grandes ousadias estéticas que não o artifício de separar os quadros do filme em duas ou mais partes, já empregado por Lee em seu "Hulk", "Taking Woodstock" é o mais fiel possível na reconstrução histórica do período, com locações quase idênticas e o uso de centenas de figurantes perfeitamente verossímeis. Não se trata de um documentário - sequer há cenas das bandas tocando no palco do festival -, mas de um entre tantos relatos pessoais possíveis de alguém que esteve no evento.
É a sua galeria de personagens caricatos (na medida certa) e o humor inteligente dos diálogos que fazem do filme de Ang Lee mais um exemplo de entretenimento bom e despretensioso entre os filmes geralmente mais sisudos mostrados até agora no Festival de Cannes - a animação "Up", da Pixar, e o terror coreano "Thrist" também fazem parte dessa lista.
Diego Assis
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