AS CANÇÕES
De certa forma, AS CANÇOES (2011) é um alívio para o espectador que aprendeu a amar o Eduardo Coutinho dos filmes de conversas, como SANTO FORTE (2002), EDIFÍCIO MASTER (2002), PEÕES (2004), O FIM E O PRINCÍPIO (2006) e até mesmo JOGO DE CENA (2007), considerada uma obra de ruptura em sua filmografia. Isso porque MOSCOU (2009) talvez tenha ido muito longe e tenha se tornado um filme frio e cerebral demais. E é de JOGO DE CENA e de EDIFÍCIO MASTER que AS CANÇÕES mais se nutre, já que em ambos os filmes, há entrevistados que cantam para a câmera uma canção importante em suas vidas. Quem não lembra do senhor que rouba a cena cantando "My way" em EDIFÍCIO MASTER?
Então, um filme só com depoimentos e cantorias de anônimos seria uma experiência emocionante, mas poderia ser um tanto constrangedor. Felizmente não há constrangimento nenhum. Coutinho trata igualmente a figura mais humilde (talvez o senhor feirante) e aquelas senhoras que se expressam como quem tem mais instrução ou o rapaz que perdeu o pai e canta uma canção dedicada a ele, contando do quanto se arrepende por não ter lhe dado a devida atenção quando o pai o chamava para ir à praia, por exemplo. Confesso que me identifiquei com o rapaz nesse aspecto, embora esse esteja longe de ser o momento mais emocionante do filme.
O fato de os entrevistados se sentarem no escuro ajuda bastante a criar um clima no qual eles fiquem mais à vontade para contar suas histórias e cantar as suas canções. Os momentos mais bonitos são aqueles de mulheres desprezadas pelos homens de suas vidas. Vê-las dizendo o quanto ainda amam esses homens, apesar de tudo o que passaram, são motivos suficientes para que lágrimas rolem. O senhor militar que pede para que seja chamado de comandante e que no passado agiu tantas vezes como um cafajeste e hoje tenta se redimir com a esposa idosa é outro momento muito bonito. Também destaco o sujeito que veio da favela, que escolheu "Que nega é essa?", do Jorge Ben-Jor, e que conta com muita desenvoltura a sua história com a mulher que ama. São histórias como a dele que ajudam a renovar a fé num relacionamento conjugal.
E mesmo histórias já fadadas ao fim, como a da mulher que canta "Retrato em branco e preto", do Chico Buarque, só demonstram o quanto é válido amar, apesar da dor que ele pode trazer. É mais ou menos aquela filosofia do Rei – "se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi". Aliás, Roberto Carlos é campeão em número de canções do filme, como "Olha" (cantada duas vezes) e "Não se esqueça de mim". Talvez tenha faltado alguma canção mais contemporânea, que foi cortada da edição final por um motivo ou outro, mas como é bom ver e ouvir aquelas pessoas se abrindo para a câmera como numa espécie de terapia, e nos confidenciando histórias emocionantes de dor e de alegria.
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