NO SILÊNCIO DA NOITE (In a Lonely Place)
Um dos melhores e mais incensados filmes de Nicholas Ray, NO SILÊNCIO DA NOITE (1950) é dessas obras que crescem na revisão, que possuem brilho próprio, que se sustentam sem que seja necessário conhecer o estilo do autor. Já o havia visto na televisão anos atrás, mas precisava revê-lo agora, nessa sadia peregrinação pela obra do diretor.
Misto de história de amor com film noir, NO SILÊNCIO DA NOITE nos apresenta a Dixon Steele (Humphrey Bogart), um roteirista de cinema sujeito facilmente a violentos acessos de ira. Logo se percebe no início do filme, quando ele puxa briga com outro motorista no trânsito. A ele é atribuída a tarefa de ler um romance para adaptá-lo para as telas. Porém, sem o menor interesse em ler o livro, ele convida uma simpática moça do bar (que leu o livro) a ir até a sua casa para contar-lhe a história.
O problema é que no dia seguinte a moça aparece morta em uma estrada. Dixon é chamado para depor, mostra-se bastante frio com a situação, mas ganha um álibi com a nova vizinha, Laurel (Gloria Grahame), que depõe a seu favor e ainda revela na delegacia gostar dele. Isso é só o começo de um romance bonito e transformador. Um romance que começa graças a um assassinato. Tudo melhora para ele, inclusive o roteiro é escrito com muito mais rapidez. Ela também fica feliz com a relação. Pelo menos até o momento em que passa a suspeitar dele também.
O personagem de Bogart é muito bom, mas a persona do astro eclipsa um pouco o que poderia ser um personagem distinto. O que é normal em atores. Quanto a Gloria Grahame, seu papel é ótimo. Diferente das femmes fatales tão presentes nos filmes da década de 1940, Laurel é uma personagem que foge dos clichês. Além do mais, seus momentos de dramaticidade são muito bem valorizados.
Na época, Gloria já estava se divorciando de Nicholas Ray e os dois estavam escondendo o fato para que os produtores não desistissem do filme. NO SILÊNCIO DA NOITE pode ser visto como um jogo de ver e de ser visto; também é retrato de um momento em Hollywood em que não se podia mais confiar no outro, época do macarthismo. E o final inesquecível, com a imagem de Bogart saindo pela noite escura, é o que mais fica gravado na retina. Eis um filme que justifica o culto a Nicholas Ray.
P.S.: Está no ar a Revista Interlúdio, liderada pelo amigo Sergio Alpendre, ex-editor da já saudosa Paisà. A primeira edição da revista traz como maior destaque um Dossiê Hitchcock, com textos deliciosos. Há também um texto especial sobre Elia Kazan, seleção de lançamentos no cinema e em dvd, quadro de estrelinhas dos redatores da revista, e partes dedicadas a música e comportamento. Um sonho seria uma versão impressa, mas já que não temos, vamos de digital, então.
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