domingo, 19 de junho de 2011

"O Mistério da Estrada de Sintra" se perde no caminho entre ficção e realidade

EDILSON SAÇASHIMA
Da Redação
 
A expressão "baseado em fatos reais", que se tornou habitual na abertura de alguns filmes, também poderia constar no início de "O Mistério da Estrada de Sintra", de Jorge Paixão da Costa. No entanto, no filme português, o sentido da expressão ganharia um toque irônico por causa da mistura entre ficção e realidade.


São duas histórias que se desenvolvem em paralelo em "O Mistério". A primeira se refere à gênese do romance que dá título ao filme. "O Mistério da Estrada de Sintra" foi um folhetim escrito a quatro mãos por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão para o jornal Diário de Notícias em 1870.

Na história da literatura portuguesa, a obra ficou conhecida como o primeiro romance policial português. No filme, no entanto, o cineasta Paixão da Costa prefere destacar as pressões e inspirações que influenciam o rumo do trabalho literário. O texto era um ataque à moral da época e se tornou ainda mais explosivo porque os personagens tinham traços evidentes de membros da aristocracia portuguesa. Esse vínculo incomodou as pessoas que se viram retratadas no folhetim, e Eça de Queirós (Ivo Canelas) passou a ser ameaçado e chegou a sofrer um atentado.

A segunda história é a reconstituição cinematográfica do folhetim. A história do livro é um grande emaranhado de relações proibidas. A condessa Luísa Valadas (Bruna di Tullio), casada com o conde Jorge Valadas (Rogério Samora), tem um caso com o general inglês Rytmel (James Weber-Brown). A relação velada dos dois desperta o ciúmes do primo da condessa, Vasco (José Pedro Vasconcelos), que é apaixonado por Luísa, e da amante do general, Carmen Puebla (Gisele Itiê).

O filme também permite a discussão sobre o domínio inglês sobre os portugueses. Mas este viés político é apenas sugerido. O que se sobressai é a tensão erótica das relações amorosas entre os personagens. Para a época, a explosão da libido das personagens talvez tenha sido demais para uma sociedade conservadora. Nesse sentido, os papéis de Bruna di Tullio e Gisele Itiê conseguem transmitir essa impressão de sensualidade à flor da pele que provoca a ruptura das barreiras das convenções sociais.

A união que o filme faz entre a trama repleta de nuances do folhetim e a reconstituição da sociedade da época talvez permitisse mostrar a importância de Eça de Queirós como retratista dos costumes portugueses. Porém, os minutos finais revelam um filme confuso, como se o diretor tivesse perdido o fio condutor que guiava o seu projeto.

O desfecho é o maior exemplo. É como se a criatividade dos dois escritores fosse derrotada e um terceiro autor tivesse que surgir para satisfazer a sociedade conservadora. É quase a antítese de tudo que vinha sendo construído ao longo do filme.

FONTE:http://cinema.uol.com.br/ultnot/2008/11/27/ult4332u923.jhtm

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