Dom, 20 de janeiro de 2013 - 18h15
Amor (2012): drama denso mostra o fim da vida de um casal
Michael Haneke reflete sobre a desgraça da morte e do amor.
Avaliação: NOTA 9
Logo no começo de “Amor”, novo e já premiado filme de Michael Haneke (dos ótimos “A Fita Branca”, “Caché” e “A Professora de Piano”),
acompanhamos os protagonistas assistindo a um concerto. A câmera não
mostra o músico, foca apenas na grande plateia que admira a performance
até os aplausos finais. Não que tenha sido intencional, mas essa cena
fala bastante sobre o ato de assistir a este longa. Enquanto conta a
história de “Amor”, Haneke insere seu público naquele espectro trágico e
depressivo de seus personagens, como se fosse uma ópera, para apenas
acordá-los ao final da projeção.
A trama é focada em Anne (Emmanuelle Riva, soberba) e Georges
(Jean-Louis Trintignant, magnífico), um casal que já soma décadas de
amor. Após um breakdown, Anne precisa passar por uma cirurgia
que deixa sequelas. Ela está paralisada do lado direito do corpo e cabe
ao marido cuidar de sua recuperação. Entretanto, o estado de saúde de
Anne só se agrava e Georges precisar lidar com o desgaste da vida de
ambos.
O roteiro, assinado pelo próprio Haneke, é sutil. Por tomar
completamente a atenção do espectador, ele capta também a paciência em
acompanhar detalhadamente o desmonte de Anne: da paralisia à
incapacidade de se comunicar. Pelos olhos de Georges, vemos não uma
obrigação em cuidar dela, mas o que falta em várias relações de hoje:
fidelidade. O juramento “na saúde e na doença” se faz válido aqui, ainda
que percebamos o desmonte também de Georges, mas de uma forma
intimista. O roteiro valoriza a bondade e a paixão dele para com a
esposa, mas pincela delicadamente o transtorno que ele vive, seja por
meio do pesadelo no meio da noite ou das cenas silenciosas, ao acender
um cigarro ou ao contemplar o horizonte.
Haneke confia no potencial dramático de seus atores, que rende cenas belíssimas, ainda que depressivas. O cuidado com o script
é visível e quem já passou por algo semelhante reconhecerá a
verossimilhança dos conflitos do longa. “Amor” não é melodramático, já
que insiste em mostrar, todo tempo, que é um filme sobre amor, não sobre
doença. Até mesmo quando chega ao clímax e precisa ser cruel com seus
personagens, o longa ainda fala de amor, por mais estranho que possa
parecer. Tanto que a sequência final homenageia Anne e Georges,
aliviando sim a tragédia, mas sendo pura poesia.
A relação catastrófica incomoda em alguns momentos, seja pela não
aceitação de Anne de sua condição, seja pela forma com que Georges lida
com alguns conflitos, forçando um pouco o negativismo do longa. Não
existe também grande beleza estética da narrativa, talvez por opção
pensada de Haneke em não transformar o longa em algo visualmente
impecável. A força está no roteiro e nas atuações. A trilha sonora
delicada pontua as sequências essenciais para a imersão do espectador,
principalmente porque revisita o passado dos protagonistas como
professores de música.
“Amor” também conta com a sempre bela Isabelle Huppert, que teve um
ano incrível ao lado de diretores de grande porte, como o próprio Haneke
e Sang-soo Hong, em “In Another Country”. A montagem suaviza a
longa duração, que poderia ter menos tempo, mas que tem um elenco tão
magnético que é impossível perder o interesse. Ao final da sessão, ficam
claras a paixão da crítica internacional pelo filme e a certeza de que
deverá sair com um Oscar nas mãos.
___
Diego Benevides é editor-executivo, crítico e
colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza
(Unifor), é pós-graduando em Cinema e Linguagem Audiovisual,
especialista em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e
educador na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe
do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.
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