João e Maria – Caçadores de Bruxas (2013): trash, mas nem tanto
Sem conseguir chegar naquele nível de tosqueira
que torna um filme trash divertido, esta "atualização" do conto dos
irmãos Grimm tem alguns bons momentos, mas morre na mediocridade.
Avaliação: NOTA 5
Os
contos de fadas “modernizados” são a grande moda hoje em dia na
indústria do entretenimento, seja no cinema, na TV ou nos quadrinhos. As
atualizações vão desde um tom mais cínico nos seus roteiros,
continuações das histórias clássicas ou até mesmo sátiras. Este “João e
Maria – Caçadores de Bruxas” tenta ser de tudo isso um pouco, e esse é o
seu grande problema.
A trama usa o conto original dos irmãos Grimm como introdução,
mostrando os pequenos João e Maria sendo abandonados por seus pais em
uma floresta, onde eles encontram uma casa de doces, sendo lá emboscados
por uma bruxa. A dupla escapa e mata a bruxa, fazendo disso uma
profissão, tornando-se caçadores de recompensa especializados.
Anos depois, agora vividos por Jeremy Renner e Gemma Arterton, João e
Maria são contratados pelo prefeito de uma cidadezinha cujas crianças
estão sendo capturadas por um grupo de bruxas liderado pela poderosa
Muriel (Famke Janssen). Os dois irmãos são a única esperança do mundo,
mas mal sabem que a chave para impedir que as criaturas das trevas
alcancem seus objetivos está em seus próprios passados.
Dirigido pelo quase desconhecido Tommy Wirkola, o longa adota o mesmo tom semi-trash de “Zumbis na Neve”,
trabalho mais “famoso” do diretor. Assim, o filme é bastante gráfico
nas cenas de ação, pautadas pelo exagero cômico e até alguns momentos de
gore explícito, ressaltados pelo 3D bastante presente durante toda a projeção.
O visual da produção é interessante, enriquecido pelas filmagens
externas feitas na Alemanha e especialmente pela presença maciça de
efeitos práticos, maquiagens especiais e animatrônicos, o que contribui e
muito com a relativamente eficaz direção de arte da fita. Há ainda
alguns conceitos interessantes, como João ter se tornado diabético por
conta de sua experiência com a casa de doces e até certa influência steampunk
nas armas empunhadas pelos irmãos (embora seja um pouco difícil engolir
insulina, metralhadoras e armas elétricas na no que parece ser o final
do século XVIII).
A despeito dos elementos satíricos, que vão desde bizarros jornais
espalhando a fama de João e Maria pela Europa até a hilária paixonite de
um troll por Maria, o filme ainda mostra alguma relutância em
abraçar a bagaceira e a idiotice de seu roteiro, na tentativa de ser
sério, jamais chegando aos pés de clássicos trashes como “Fome Animal” ou “Um Drink no Inferno”, por exemplo.
Jeremy Renner se mostra pouco à vontade em cena. Mesmo convencendo
nas cenas de ação, ele está excessivamente contido durante toda a
projeção, sem entrar de corpo e alma na brincadeira. Apesar disso, o
ator tem uma boa química com a deslumbrante Gemma Arterton, que parece
ter compreendido melhor o que a trama deveria apresentar, dividindo
ótimos momentos com o canastríssimo Peter Stormare e com os dois
“pretendentes” que se apaixonam por ela no decorrer da aventura.
A vilã de Famke Janssen está no piloto automático, não conseguindo
nem despertar raiva no público. Ainda temos a bela, mas insípida, Pihla
Viitala como a bruxa boa que funciona como interesse amoroso de João,
com a beldade europeia não apresentando nenhuma sintonia com Renner.
Ainda no elenco está o jovem Thomas Mann, como o fanboy da dupla de caçadores de recompensa.
O grande problema de “João e Maria – Caçadores de Bruxas” é o fato de
que, mesmo querendo ser o primeiro de uma série, o longa sequer
consegue estabelecer uma personalidade própria nessa empreitada inicial,
sem mostrar qualquer característica especialmente marcante, algo até
ressaltado por sua trilha sonora completamente genérica. Ele até diverte
pontualmente e o visual é interessante, mas é uma obra esquecível, com
atuações fracas e uma direção frouxa, sendo apenas uma tentativa
medíocre de ser um blockbuster com um pé no gore.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.
Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.
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