Remake do filme dinamarquês "Brødre", o longa mostra sua força graças às boas interpretações de seu elenco, sendo mais um retrato do reflexo da guerra no indivíduo.
É engraçado como a arte encontra maneiras diferentes de explorar os males das guerras. Se outrora era explorada a irracionalidade dos conflitos ou as selvagerias cometidas nos campos de batalha, parece-me que o foco agora é focar no que ocorre com os combatentes ao retornarem ao “mundo real”.
Esse fator, brevemente abordado pelo concorrente ao Oscar “Guerra ao Terror”, é o mote principal deste “Entre Irmãos”. Adaptado por David Benioff do longa original de Susanne Bier, o novo trabalho do diretor Jim Sheridan é centrado em um núcleo muito conhecido pelo cineasta, que é a família.
O Capitão Sam Cahil (Tobey Maguire) é um carinhoso pai de família. Apaixonado por sua esposa Grace (Natalie Portman) e suas filhas Izzy (Bailee Madison) e Maggie (Taylor Geare), ele ainda tem de cuidar de seu irmão problemático Tommy (Jake Gyllenhaal) e manter um bom relacionamento com seu pai, Hank (Sam Shepard), um oficial do exército reformado cheio de orgulho de seu filho militar e que não sente nada se não desgosto por seu caçula.
Chamado de volta ao Afeganistão, o helicóptero que transportava Sam e seus homens é abatido em meio ao território inimigo e ele é dado como morto, para desespero de sua família. A tragédia acaba aproximando Tommy, outrora visto como a ovelha negra, de Grace e suas meninas.
A vida continua no “mundo real” e uma nova dinâmica familiar é formada. No entanto, a notícia de que Sam fora encontrado vivo acaba abalando essa estrutura recém-formada. Mas o capitão não é mais o homem que era, tendo passado por traumas terríveis e buscando um meio de se punir por algo terrível que foi forçado a fazer, algo presente na sua paranoia sobre o que aconteceu entre Grace e Tommy durante a sua “morte”.
Um dos pontos de maior destaque desta produção é o fato de que a família Cahil é retratada de uma maneira verdadeira, com cada um de seus integrantes tendo seus próprios medos, anseios e conflitos. Sheridan tem bastante experiência em lidar com esse tipo de núcleo, vide o ótimo “Terra dos Sonhos”, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar.
Assim, ao invés de mostrar apenas os dramas dos adultos, também somos confrontados pelo impacto daquela trágica perda e de um retorno inesperado nas filhas de Sam e Grace, algo mostrado de uma maneira absolutamente crível, sem jamais apelar para o pieguismo. Devo, neste momento, destacar o belo trabalho das pequenas Bailee Madison e Taylor Geare, principalmente o desta primeira, que dá um verdadeiro show em cena.
No entanto, o filme escorrega em seu segundo ato, ao tentar dividir sua narrativa em duas. Teria sido muito mais interessante se a fita, naquele momento, tivesse focado um pouco mais na trama de Sam no Afeganistão e deixado um pouco mais de lado a família Cahil.
Além de poupar a projeção de algumas transições pouco inspiradas, ainda teria ajudado o público a compreender melhor o drama passado pelo capitão, vivido com intensidade assustadora por Tobey Maguire, que conseguiu mostrar todo o sofrimento passado pelo seu personagem de maneira extremamente eficaz.
Jake Gyllenhaal e Natalie Portman se saem bem nos papeis de Tommy e Grace, deixando que a feição entre os dois surja de uma maneira bem casual. Gyllenhaal consegue retratar bem a busca de Tommy por tentar encontrar um rumo na vida após a “morte” de seu irmão, bem como o relacionamento com sua família. A despeito de ter sempre sido o filho “rejeitado”, há um verdadeiro amor entre os dois irmãos, algo que a química entre Gyllenhaal e Maguire deixa bem explícito.
Portman, por sua vez, mostra muito bem o desespero de Grace ao saber que o homem que amava simplesmente se perdeu de uma maneira que ela não consegue compreender. A atriz mimetiza o amor de Grace por Sam de uma maneira simples e tocante, levando ao público a torcer pelo casal, mesmo sabendo da situação desesperadora do militar. Já o personagem de Sam Shepard, Hank, está lá para servir como um lembrete para Sam, com sua história servindo mais para mostrar como o ciclo da guerra pode afetar famílias por gerações.
Sheridan se sai bem nos aspectos técnicos. Reconhecendo que não é uma trama que não necessita de grandes inovações para sua fluência, o diretor emprega um visual mais clássico, favorecido pela boa direção de fotografia de Frederick Elmes. O longa derrapa um pouco em sua montagem somente nas tramas paralelas citadas acima, que realmente quebram o ritmo de ambas as tramas justamente por não combinarem muito uma com a outra.
Apesar desse problema, “Entre Irmãos” é um bom drama, que poderia muito bem ser conferido em uma sessão dupla com “Guerra ao Terror”. Apesar de estar longe da excelência técnica e das ambições narrativas da fita dirigida por Kathryn Bigelow, este novo trabalho de Jim Sheridan é um exemplar decente dessa maré de filmes de guerra mais íntimos e humanos.
N O T A : 8
É engraçado como a arte encontra maneiras diferentes de explorar os males das guerras. Se outrora era explorada a irracionalidade dos conflitos ou as selvagerias cometidas nos campos de batalha, parece-me que o foco agora é focar no que ocorre com os combatentes ao retornarem ao “mundo real”.
Esse fator, brevemente abordado pelo concorrente ao Oscar “Guerra ao Terror”, é o mote principal deste “Entre Irmãos”. Adaptado por David Benioff do longa original de Susanne Bier, o novo trabalho do diretor Jim Sheridan é centrado em um núcleo muito conhecido pelo cineasta, que é a família.
O Capitão Sam Cahil (Tobey Maguire) é um carinhoso pai de família. Apaixonado por sua esposa Grace (Natalie Portman) e suas filhas Izzy (Bailee Madison) e Maggie (Taylor Geare), ele ainda tem de cuidar de seu irmão problemático Tommy (Jake Gyllenhaal) e manter um bom relacionamento com seu pai, Hank (Sam Shepard), um oficial do exército reformado cheio de orgulho de seu filho militar e que não sente nada se não desgosto por seu caçula.
Chamado de volta ao Afeganistão, o helicóptero que transportava Sam e seus homens é abatido em meio ao território inimigo e ele é dado como morto, para desespero de sua família. A tragédia acaba aproximando Tommy, outrora visto como a ovelha negra, de Grace e suas meninas.
A vida continua no “mundo real” e uma nova dinâmica familiar é formada. No entanto, a notícia de que Sam fora encontrado vivo acaba abalando essa estrutura recém-formada. Mas o capitão não é mais o homem que era, tendo passado por traumas terríveis e buscando um meio de se punir por algo terrível que foi forçado a fazer, algo presente na sua paranoia sobre o que aconteceu entre Grace e Tommy durante a sua “morte”.
Um dos pontos de maior destaque desta produção é o fato de que a família Cahil é retratada de uma maneira verdadeira, com cada um de seus integrantes tendo seus próprios medos, anseios e conflitos. Sheridan tem bastante experiência em lidar com esse tipo de núcleo, vide o ótimo “Terra dos Sonhos”, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar.
Assim, ao invés de mostrar apenas os dramas dos adultos, também somos confrontados pelo impacto daquela trágica perda e de um retorno inesperado nas filhas de Sam e Grace, algo mostrado de uma maneira absolutamente crível, sem jamais apelar para o pieguismo. Devo, neste momento, destacar o belo trabalho das pequenas Bailee Madison e Taylor Geare, principalmente o desta primeira, que dá um verdadeiro show em cena.
No entanto, o filme escorrega em seu segundo ato, ao tentar dividir sua narrativa em duas. Teria sido muito mais interessante se a fita, naquele momento, tivesse focado um pouco mais na trama de Sam no Afeganistão e deixado um pouco mais de lado a família Cahil.
Além de poupar a projeção de algumas transições pouco inspiradas, ainda teria ajudado o público a compreender melhor o drama passado pelo capitão, vivido com intensidade assustadora por Tobey Maguire, que conseguiu mostrar todo o sofrimento passado pelo seu personagem de maneira extremamente eficaz.
Jake Gyllenhaal e Natalie Portman se saem bem nos papeis de Tommy e Grace, deixando que a feição entre os dois surja de uma maneira bem casual. Gyllenhaal consegue retratar bem a busca de Tommy por tentar encontrar um rumo na vida após a “morte” de seu irmão, bem como o relacionamento com sua família. A despeito de ter sempre sido o filho “rejeitado”, há um verdadeiro amor entre os dois irmãos, algo que a química entre Gyllenhaal e Maguire deixa bem explícito.
Portman, por sua vez, mostra muito bem o desespero de Grace ao saber que o homem que amava simplesmente se perdeu de uma maneira que ela não consegue compreender. A atriz mimetiza o amor de Grace por Sam de uma maneira simples e tocante, levando ao público a torcer pelo casal, mesmo sabendo da situação desesperadora do militar. Já o personagem de Sam Shepard, Hank, está lá para servir como um lembrete para Sam, com sua história servindo mais para mostrar como o ciclo da guerra pode afetar famílias por gerações.
Sheridan se sai bem nos aspectos técnicos. Reconhecendo que não é uma trama que não necessita de grandes inovações para sua fluência, o diretor emprega um visual mais clássico, favorecido pela boa direção de fotografia de Frederick Elmes. O longa derrapa um pouco em sua montagem somente nas tramas paralelas citadas acima, que realmente quebram o ritmo de ambas as tramas justamente por não combinarem muito uma com a outra.
Apesar desse problema, “Entre Irmãos” é um bom drama, que poderia muito bem ser conferido em uma sessão dupla com “Guerra ao Terror”. Apesar de estar longe da excelência técnica e das ambições narrativas da fita dirigida por Kathryn Bigelow, este novo trabalho de Jim Sheridan é um exemplar decente dessa maré de filmes de guerra mais íntimos e humanos.
N O T A : 8
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