Os anos 80 são malditos por aí. Os chamam de década perdida. As pessoas usavam roupas de cores "cheguei" como pink e verde limão. Os blazers de cor clara no estilo Miami Vice tinham invariavelmente a manga arregaçada e ombreiras. Os óculos espelhados também não ajudavam e o cabelo com permanente dava um toque final. Mas foi também nessa época que o rock brasileiro explodiu de verdade. Já tínhamos algumas pessoas se destacando, mas essa foi a primeira vez que uma "cena" roqueira se formou. O documentário Herbert de Perto (2006) esquece toda a breguice ali do começo para se focar principalmente na turma de Brasília que invadiu o Rio e depois o país. Mais especificamente, o holofote fica em cima de um cara, Herbert Vianna, guitarrista e vocalista dos Paralamas do Sucesso.
O filme cava fundo e vai até a Paraíba, onde o piloto da FAB Hermano Vianna e sua esposa Tereza, tiveram dois filhos: Herbert e Hermano. O primeiro, certo dia, subiu no colo do Papai Noel e pediu para trocar a bicicleta por um violão de verdade. Em poucas aulas já estava ensinando novidades ao seu professor. É realmente impressionante a técnica de Herbert desde moleque, esmerilhando sua guitarra, buscando sons diferentes.
A formação dos Paralamas também é parte importante e chama a atenção a clareza e sinceridade de D. Tereza, que disse ao seu filho depois de ouvir o primeiro demo: "Vocês não vão a lugar nenhum com esse baterista", disse ela sobre o Vital, aquele que passou a se sentir total com seu sonho de metal. Junta-se ao duo Herbert e Bi Ribeiro, o incauto João Barone, que só estava no lugar certo na hora certa.
Com o perdão do clichê, dá para ver que ali cada momento era, sim, vivido como único. Uma hora eles estão abrindo para o Lulu Santos no Circo Voador achando que tinham chegado ao seu ápice. No instante seguinte estão em cima do gigantesco palco do primeiro Rock in Rio, dando bronca em quem havia jogado pedras no Eduardo Dusek e Kid Abelha no dia anterior. Em seguida, com a chegada dos anos Collor e seus sertanejos, eles começam a fazer música em espanhol e conquistam Argentina, Uruguai, Chile, etc.
O filme é um primor de montagem, alternando imagens de arquivo com outras mais atuais. Mostra sem medo Herbert e seus amigos falando do acidente que vitimou sua esposa Lucy Needham Vianna e o deixou paraplégico. Tudo bem sincero e sem ser apelativo. E nem precisa. Basta Lucy aparecer na frente das câmeras pela primeira vez para as lágrimas furtivamente começarem a se alojar no canto do olho.
E para encerrar vem a surpreendente recuperação, que deve muito à veia musical de Herbert. É impressionante como sua cabeça apagou apenas o que tinha de apagar, deixando intacta a musicalidade e a vontade de continuar vivo para criar seus filhos.
Você, que como eu viveu essa época, vai lembrar de tudo com uma saudável nostalgia, fingir que aquela moda não existiu e sair do cinema cantando: "A vida não é filme e você não entendeu"...
Marcelo Forlani
O filme cava fundo e vai até a Paraíba, onde o piloto da FAB Hermano Vianna e sua esposa Tereza, tiveram dois filhos: Herbert e Hermano. O primeiro, certo dia, subiu no colo do Papai Noel e pediu para trocar a bicicleta por um violão de verdade. Em poucas aulas já estava ensinando novidades ao seu professor. É realmente impressionante a técnica de Herbert desde moleque, esmerilhando sua guitarra, buscando sons diferentes.
A formação dos Paralamas também é parte importante e chama a atenção a clareza e sinceridade de D. Tereza, que disse ao seu filho depois de ouvir o primeiro demo: "Vocês não vão a lugar nenhum com esse baterista", disse ela sobre o Vital, aquele que passou a se sentir total com seu sonho de metal. Junta-se ao duo Herbert e Bi Ribeiro, o incauto João Barone, que só estava no lugar certo na hora certa.
Com o perdão do clichê, dá para ver que ali cada momento era, sim, vivido como único. Uma hora eles estão abrindo para o Lulu Santos no Circo Voador achando que tinham chegado ao seu ápice. No instante seguinte estão em cima do gigantesco palco do primeiro Rock in Rio, dando bronca em quem havia jogado pedras no Eduardo Dusek e Kid Abelha no dia anterior. Em seguida, com a chegada dos anos Collor e seus sertanejos, eles começam a fazer música em espanhol e conquistam Argentina, Uruguai, Chile, etc.
O filme é um primor de montagem, alternando imagens de arquivo com outras mais atuais. Mostra sem medo Herbert e seus amigos falando do acidente que vitimou sua esposa Lucy Needham Vianna e o deixou paraplégico. Tudo bem sincero e sem ser apelativo. E nem precisa. Basta Lucy aparecer na frente das câmeras pela primeira vez para as lágrimas furtivamente começarem a se alojar no canto do olho.
E para encerrar vem a surpreendente recuperação, que deve muito à veia musical de Herbert. É impressionante como sua cabeça apagou apenas o que tinha de apagar, deixando intacta a musicalidade e a vontade de continuar vivo para criar seus filhos.
Você, que como eu viveu essa época, vai lembrar de tudo com uma saudável nostalgia, fingir que aquela moda não existiu e sair do cinema cantando: "A vida não é filme e você não entendeu"...
Marcelo Forlani
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