Filme que estreia nesta sexta (3/12/2009), traz Glória Pires e Paulo Miklos no elenco.
Segundo longa de Anna Muylaert levou oito troféus no Festival de Brasília.
Baby (Gloria Pires) é uma professora de violão solteirona. Praticamente sem amigos e sempre brigando com as irmãs, ela encontra conforto apenas no seu velho companheiro: o cigarro. No apartamento ao lado, Max (Paulo Miklos) é um músico que ganha a vida como cantor de churrascaria. Recém-saído de um relacionamento obsessivo, ele tenta refazer a vida.
Essas duas figuras solitárias estão ao centro de "É proibido fumar", segundo longa da roteirista e diretora Anna Muylaert, que estreia nesta sexta (4/12/2009) em circuito nacional, depois de levar oito troféus no Festival de Brasília - entre eles filme e roteiro, além do prêmio da crítica.
O filme é uma espécie de primo de "Durval Discos" (2002), que marcou a estreia da cineasta em longas. Nos dois filmes, os protagonistas são personagens confinados aos seus mundinhos (a casa/loja de discos, para Durval; o apartamento herdado da mãe, no caso de Baby), e a entrada de uma nova pessoa representando uma mudança radical na vida deles.
Max e Baby se dão muito bem desde o começo - mas ele tem uma ressalva a fazer a sua nova namorada: ela poderia parar de fumar? Esse é um grande impasse da protagonista: como abandonar seu velho companheiro para ficar com o novo amado? Grupo de ajuda é a resposta. "O cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo" é o novo lema da professora de violão.
Depois de um incidente, no entanto, Baby é obrigada a sair do seu casulo, a enfrentar a vida. Aí "É proibido fumar" sofre uma grande reviravolta. Se até então o tom é praticamente de comédia romântica, agora a atmosfera é muito mais de um drama carregado nas tintas do humor negro. Mas, ao contrário de "Durval Discos", o incidente não é uma tragédia. Embora não premeditado, ele é muito bem-vindo.
A cidade é o pano de fundo para essa crônica de amor e humor protagonizada por Baby e Max. Mais do que mostrar São Paulo, em "É proibido fumar" há uma atmosfera paulistana, seja nas ruas congestionadas, nos apartamentos pequenos do centro. Assim, é o cenário ideal para essa crônica sobre a solidão e amadurecimento.
Ao longo de "É proibido fumar", Anna povoa o filme com tipos estranhos, mas muito verossímeis. Um dos melhores momentos é a visita dos amigos músicos de Max para um jantar no apartamento de Baby. As participações incluem Thogun, o DJ e músico Theo Werneck e a roqueira Pitty, que estreia em cinema. Há também as irmãs de Baby: Teca (Dani Nefussi, que levou prêmio de coadjuvante em Brasília) e Pop (Marisa Orth) - que vivem disputando um sofá, herança de uma tia.
Apesar de tantos personagens interessantes, não há dúvida de que o filme é de Gloria e Miklos. Os dois, premiados em Brasília, compõem um casal inesquecível. O que há de mais interessante nessas figuras é que elas soam extremamente reais, como gente de verdade, dessas que a gente conhece, que moram no apartamento do lado e não duas criações que existem apenas nos noventa minutos de filme.
Gloria, com um talento mais que reconhecido, especialmente na televisão, aqui se despe de qualquer vaidade, ao fazer uma mulher comum, sem aquele glamour das novelas da Globo ou mesmo das comédias "Se eu fosse você". Mas essa credibilidade não está apenas na aparência, está na forma como Baby encara o mundo, a vida que parece encerrada precocemente no seu comodismo melancólico.
O roteiro, também assinado por Anna Muylaert, funciona muito bem em todas as suas transições e reviravoltas. Quando a história parece que caminha para algum clichê, a diretora/roteirista impede que caia no óbvio e encontra uma saída tão criativa quanto plausível - até chegar ao desfecho bastante aberto e que possibilita inúmeras interpretações. Algo muito bem sacado e raro no cinema de hoje, em que todas as histórias tentam se fechar com uma conclusão definitiva. Ponto para a coragem do filme.
Por Alysson Oliveira, do Cineweb
(As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb)
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