sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Embarque Imediato


Em meio à boa fase de reconhecimento do cinema latino-americano pelo circuito internacional e contrariando a promessa de renovação no mercado de audiovisual brasileiro, estreou em escala nacional a comédia romântica “Embarque Imediato”, primeiro longa metragem do diretor paulista Allan Fiterman, veterano na produção e fotografia de curtas.


A trama principal gira em torno de Wagner (Jonathan Haagensen), o funcionário insatisfeito de um aeroporto que não vai descansar até se mudar para Nova Iorque. Seu último plano de fuga foi descortinado por Justina (Marília Pêra), a supervisora dos empregados, que vai fazer qualquer coisa para ser perdoada por Wagner.


As tramas secundárias garantem espaço para Fulano (José Wilker), um fotógrafo de modelos tamanho GG que faz às vezes de namorado de Justina, Amparo (a espanhola Marta Nietro), outra funcionária do aeroporto, e incontáveis sem-nomes que superlotam a produção.


Apesar do gênero escolhido pelos distribuidores, a comédia está mais para uma chanchada mal sucedida do que para um romance engraçado. Na verdade, o filme oscila entre os dois tipos, carregando o que há de pior em cada um deles.


Quando quer ser chanchada, consegue cumprir adequadamente o requisito da criação de personagens burlescos e de apelo sexual, mas a partir do momento em que as figuras interagem, lhes falta a mesma pompa e exagero dos filmes dos anos 70. Quando se apega ao caráter romântico, a produção é igualmente falha e duplamente sem graça, por colocar em tela um casal que não funciona e um rol de coadjuvantes que se fossem retirados da trama não alterariam em nada o seu produto final.


Fiterman poderia ter focado a adaptação do roteiro para a tela no romance injustificado do casal de protagonistas. Com um pouco de esforço, teria conseguido embasar um script fajuto e, talvez, minorar as falhas que saltam à vista do espectador.


Seu maior defeito, porém, foi descentralizar a estória e espalhar personagens autônomos, sem nenhum elo visível, ou com relações frágeis e desnecessárias, pelo filme. Ao final da exibição, perguntar qual a relevância de uma dezena de papéis é inevitável. Quando observamos “Embarque Imediato” como um trabalho de estreia, o que parece é que o diretor quis fazer algo maior do que podia abarcar, e sua ambição pela construção de um épico da comédia nacional definitivamente não funcionou.


Vale ressaltar que o longa conta com um elenco respeitável, mas com uma participação tão vergonhosa quando se pode supor. O papel de José Wilker é classificado como coadjuvante, mas sua irrelevância é tamanha que sua ausência não mudaria em nada o desenrolar da produção. O personagem é sem graça, o núcleo a que pertence é forçado e os outros papéis que participam de suas sequências são inúteis.


A protagonista Marília Pêra, dama do teatro nacional, parece ter levado dos palcos para a tela a forma “exagerada” de interpretar e esbanja caras distorcidas, expressões caricatas e grunhidos indecifráveis. Só pela leitura de suas características no roteiro, o papel de Justina já poderia figurar entre os personagens mais grotescos do humor nacional, mas a atuação de Pêra eleva sua falta de equilíbrio a níveis quase intoleráveis.


Quanto aos aspectos técnicos, não há muito o que se falar sobre “Embarque Imediato”. Desconsiderando a opção do diretor por uma edição cosmopolita, talvez para realçar o caráter Global da produção, fazendo uso de imagens sobrepostas na mesma sequência e dividindo a tela pra dar visibilidade simultânea aos personagens, seus 90 minutos são transcorridos sem inovações gráficas e novidades cênicas.


A trilha sonora do filme, mesmo entre uma sucessão de deslizes, consegue ser agradável por mesclar ritmos latinos, canções italianas românticas e clássicos da música americana das décadas de 50 e 60.


A produção também faz referência ao filme “Gilda”, de 1946, com Rita Hayworth no papel principal, e fonte de inspiração da personagem de Marília Pêra.


Descrever “Embarque Imediato” como o maior pecado da cinematografia brasileira é exagero. É menos odioso considerá-lo como o resultado da ambição de um diretor principiante por fazer algo grandioso demais para seus padrões de estreia.


Afinal, estrear com um épico, como fez o americano Orson Welles, com seu “Cidadão Kane”, em 1941, não é tão fácil como parece ser. Ao diretor, mais prudência em sua próxima empreitada.
NOTA: 2,0

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