Ao sair da sessão, a vontade que se tem é de comer todas aquelas receitas que foram preparadas por Julia e executadas por Julie. Mas é claro que o filme, dirigido e adaptado por Nora Ephron com base nos projetos lançados por ambas, tem o intuito de mostrar a trajetória de cada uma para cumprir as suas metas.
Na trama, Julie Powell (Amy Adams) é uma funcionária do governo que atende as vítimas do 11 de setembro e se vê frustrada por ter largado os seus projetos de se tornar uma escritora. Tentando estabelecer algo de interessante e novo em sua vida, ela lança um blog no qual relata o cotidiano de uma mulher que pretende preparar todas as 524 receitas presentes no livro de Julia Child (Meryl Streep).
Paralelamente a isso, Nora Ephron volta o seu olhar para o final da década de 40, quando Julia Child chega à Paris e, encantada com o lugar, decide aprender mais sobre a culinária local.
A premissa de ”Julie e Julia” se parece muito com a do filme “As Horas”, de Stephen Daldry, que intercala três épocas: 1921, 1941 e 2001.
Três histórias vivenciadas em três lugares diferentes e contadas a partir de apenas um ponto em comum: a influência de uma obra literária.
Apesar de Nora Ephron ter tentando criar algo similiar, a sua equipe não consegue criar a mesma naturalidade com que “As Horas” fora concebido.
No filme de Daldry, fica claro que o tempo é um elemento que representa uma importância muito grande para a trama, principalmente pelo cuidado com a fotografia nas diferentes épocas em que ele se passa. “Julie e Julia” não tem essa preocupação. Nitidamente, poucos são os valores estéticos que o filme consegue alcançar.
Se por esse lado “Julie e Julia” não consegue ser eficiente, ele se segura mesmo na atuação de Meryl Streep e na trajetória que sua personagem tem em Paris ao lado do marido, que é um representante da embaixada americana no país.
Antes de vermos ela fazendo aulas de culinária e se empenhando em construir um livro de receitas sobre a comida francesa para donas-de-casa americanas, percebemos que ela tenta fazer diversos cursos enquanto o seu marido trabalha. E a relação entre os dois é algo que se torna muito bonito e apaixonante de se ver. Eles são cúmplices de um amor incondicional e se sustentam um no outro, mesmo em tempos difíceis.
Querendo ou não, esta mesma situação acontece com Julie. Cada vez mais empenhada em cumprir as suas metas (principalmente porque ela nunca conseguiu terminar um projeto antes), ela passa a ter cada vez menos para o seu casamento. Em uma das cenas em que ela surta por não ter conseguido fazer uma das receitas, a discussão com o seu marido também gera mais um problema na sua vida.
O mais importante é que Nora Ephron tenta mesmo criar um paralelo entre as duas, mostrando suas personalidades e a maneira como elas, de alguma forma, se completam.
A maior característica do longa é pela leveza do roteiro, mas isso não é o suficiente para que ele se torne um excelente filme. Na metade pro final, a obra perde um pouco de força.
A partir desse instante, vemos também Powell questionando a “perfeição idealizada” que ela tinha de Julia. E isso passa a acontecer quando ela supostamente recebe algumas críticas da própria por ter criado o blog.
De qualquer maneira, Julie continua achando que a sua “amiga” Julia é uma pessoa perfeita, que sempre esteve presente para o seu marido e que sempre soube buscar a felicidade nas pequenas coisas que fazia, não desistindo nunca dos seus sonhos e enfrentando os desafios que a vida lhe obrigava a passar. E isso é uma realidade porque acontece quando temos alguma pessoa como fã, sempre imaginando que este alguém é um ser superior a todos os outros que existem.
“Julie e Julia” vale por ter mais uma atuação impecável de Meryl Streep. É impressionante a maneira como ela consegue encarnar personagens diferentes a cada filme.
Andando de maneira atrapalhada, respiração ofegante e sempre aparentando uma felicidade no olhar e na voz contagiantes, a atriz segura o filme do início ao fim.
Ainda com os erros, o longa é delicioso (literalmente).
NOTA : 7,0
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