G1 entrevista editora do grupo que faz as famosas traduções da série na web.
Programa foi fenômeno tanto na TV quanto nos sites mundiais de downloads.
Pricila é uma bióloga carioca de 35 anos, viciada em séries americanas. Segundo seus cálculos, atualmente assiste a 39 delas em seu computador. Mesmo sabendo que a atividade pode ser considerada crime contra direitos autorais, ela diz baixar sem culpa os programas em sua internet sem limite de downloads. “Nunca tive TV a cabo”, provoca.
Os brasileiros que têm a mesma atitude de Pricila a conhecem por outro nome: Tata. Durante os últimos três anos ela foi a editora do site Legendas.tv, o maior do país dedicado à legendagem amadora.
Há quatro também é coordenadora do Psicopatas, principal grupo responsável pelas legendas de “Lost” em português que surgem na web apenas duas horas depois do programa ser exibido nos Estados Unidos.
Curiosamente, o fim do programa também marcará o encerramento de Tata na atividade que considera como hobby. “Nem é tanto pelo final. Só fiquei tanto tempo porque conheci muita gente nesses anos, com quem falo todos os dias, e a amizade que tive com elas eu levarei para o resto da vida”, revela ao G1.
"Coisa de ego"
As legendas “piratas” existem muito antes de “Lost”. Antes de a série começar, em 2004, as mais populares eram feitas para filmes raros, antigos ou que ainda não tinham nem estreado no Brasil.
“Lost” catapultou esse movimento por dois motivos. Primeiro, a trama cheia de mistérios e a narrativa transmídia, que estimulou o telespectador a consumi-la no ambiente virtual. Depois, o avanço da banda larga no país. Hoje, quem tem uma conexão superior a 3MB não leva nem 30 minutos para fazer o download do último episódio.
Na 6ª e última temporada do seriado, Tata aumentou a equipe do Psicopatas. Para fazer apenas a legenda de “Lost”, ela tem cinco pessoas ao todo, selecionadas rigorosamente de outros grupos famosos, como Insubs e United Team. Elas assistem primeiramente ao capítulo por sites de transmissão ao vivo, e depois baixam o episódio, que servirá de molde para a legenda ser “colada”. Ela é criada de madrugada, a partir de um arquivo closed caption enviado por algum internauta americano ou canadense.
Nós profissionalizamos esse tipo de atividade”, brinca Tata, consciente sobre a contradição de sua frase e o status ilegal da prática. “Nunca ganhei R$ 1 fazendo legenda, pelo contrário: gastei dinheiro e tempo. Como editora do Legendas.tv foram três anos sem férias”, explica.
Para a bióloga, o ego justifica uma pessoa a perder o sono realizando uma atividade que não rende lucros. “Você começa (a legendar) por gostar muito da série e querer ajudar. Mas quando você vê o seu nome ali nos créditos rola uma coisa muito forte de ego, de se sentir importante”, comenta.
Por justamente não ter lucro com o hobby, Tata nunca considerou sua legendagem um crime. Nos primeiros dois anos do show, a Associação Antipirataria de Cinema e Música (APCM) fez uma forte patrulha contra os fóruns de “Lost” dedicados à atividade. Porém, enquanto um grupo era pressionado logo surgia outro disposto a substituí-lo.
Tata elogia a postura do canal a cabo AXN, que exibirá o fim de “Lost” no Brasil com dois dias de atraso em relação aos EUA. De acordo com ela, tal decisão é uma resposta a atividade das legendas que existem na internet. Mas isso não a estimula a abandonar os downloads.
Em nota, o Grupo Sony (do qual a AXN faz parte) esclarece que a decisão é do canal ABC - que exibe o programa nos EUA -, a fim de que nada sobre o episódio final seja divulgado antes. Para se ter ideia, a emissora é quem fará as legendas em português e espanhol e as distribuirá depois para a América Latina.
“Sinceramente? Não vejo saída para pagar pelo o que quero assistir, quando e onde eu desejo. Não gastaria com TV a cabo com gravador digital, é totalmente dispensável. Prefiro investir meu dinheiro em internet e em discos virgens”, ironiza Pricila.
Sai Tata, entra Pricila
Tata não está feliz com os rumos finais de “Lost”. Segundo ela, os produtores estão respondendo de maneira simplista e sem a criatividade a muitas das questões mais curiosas que envolveram sua a mitologia.
No final da entrevista, a bióloga revela que a decisão de parar com a atividade que a tornou famosa na internet já lhe rende frutos. Para não ser identificada, ela realmente assumiu duas personas.
“Sempre tive dois perfis no Orkut, um para a Tata, só utilizado entre o grupo que fazia legendas, e outro para a Pricila, que tinha os amigos mais próximos. Agora eu só tenho um e posso adicionar quem realmente desejo que faça parte da minha vida. Eu já estou conciliando tudo bem melhor”, sorri.
Gustavo Miller
Do G1, em São Paulo
Programa foi fenômeno tanto na TV quanto nos sites mundiais de downloads.
Pricila é uma bióloga carioca de 35 anos, viciada em séries americanas. Segundo seus cálculos, atualmente assiste a 39 delas em seu computador. Mesmo sabendo que a atividade pode ser considerada crime contra direitos autorais, ela diz baixar sem culpa os programas em sua internet sem limite de downloads. “Nunca tive TV a cabo”, provoca.
Os brasileiros que têm a mesma atitude de Pricila a conhecem por outro nome: Tata. Durante os últimos três anos ela foi a editora do site Legendas.tv, o maior do país dedicado à legendagem amadora.
Há quatro também é coordenadora do Psicopatas, principal grupo responsável pelas legendas de “Lost” em português que surgem na web apenas duas horas depois do programa ser exibido nos Estados Unidos.
Curiosamente, o fim do programa também marcará o encerramento de Tata na atividade que considera como hobby. “Nem é tanto pelo final. Só fiquei tanto tempo porque conheci muita gente nesses anos, com quem falo todos os dias, e a amizade que tive com elas eu levarei para o resto da vida”, revela ao G1.
"Coisa de ego"
As legendas “piratas” existem muito antes de “Lost”. Antes de a série começar, em 2004, as mais populares eram feitas para filmes raros, antigos ou que ainda não tinham nem estreado no Brasil.
“Lost” catapultou esse movimento por dois motivos. Primeiro, a trama cheia de mistérios e a narrativa transmídia, que estimulou o telespectador a consumi-la no ambiente virtual. Depois, o avanço da banda larga no país. Hoje, quem tem uma conexão superior a 3MB não leva nem 30 minutos para fazer o download do último episódio.
Na 6ª e última temporada do seriado, Tata aumentou a equipe do Psicopatas. Para fazer apenas a legenda de “Lost”, ela tem cinco pessoas ao todo, selecionadas rigorosamente de outros grupos famosos, como Insubs e United Team. Elas assistem primeiramente ao capítulo por sites de transmissão ao vivo, e depois baixam o episódio, que servirá de molde para a legenda ser “colada”. Ela é criada de madrugada, a partir de um arquivo closed caption enviado por algum internauta americano ou canadense.
Nós profissionalizamos esse tipo de atividade”, brinca Tata, consciente sobre a contradição de sua frase e o status ilegal da prática. “Nunca ganhei R$ 1 fazendo legenda, pelo contrário: gastei dinheiro e tempo. Como editora do Legendas.tv foram três anos sem férias”, explica.
Para a bióloga, o ego justifica uma pessoa a perder o sono realizando uma atividade que não rende lucros. “Você começa (a legendar) por gostar muito da série e querer ajudar. Mas quando você vê o seu nome ali nos créditos rola uma coisa muito forte de ego, de se sentir importante”, comenta.
Por justamente não ter lucro com o hobby, Tata nunca considerou sua legendagem um crime. Nos primeiros dois anos do show, a Associação Antipirataria de Cinema e Música (APCM) fez uma forte patrulha contra os fóruns de “Lost” dedicados à atividade. Porém, enquanto um grupo era pressionado logo surgia outro disposto a substituí-lo.
Tata elogia a postura do canal a cabo AXN, que exibirá o fim de “Lost” no Brasil com dois dias de atraso em relação aos EUA. De acordo com ela, tal decisão é uma resposta a atividade das legendas que existem na internet. Mas isso não a estimula a abandonar os downloads.
Em nota, o Grupo Sony (do qual a AXN faz parte) esclarece que a decisão é do canal ABC - que exibe o programa nos EUA -, a fim de que nada sobre o episódio final seja divulgado antes. Para se ter ideia, a emissora é quem fará as legendas em português e espanhol e as distribuirá depois para a América Latina.
“Sinceramente? Não vejo saída para pagar pelo o que quero assistir, quando e onde eu desejo. Não gastaria com TV a cabo com gravador digital, é totalmente dispensável. Prefiro investir meu dinheiro em internet e em discos virgens”, ironiza Pricila.
Sai Tata, entra Pricila
Tata não está feliz com os rumos finais de “Lost”. Segundo ela, os produtores estão respondendo de maneira simplista e sem a criatividade a muitas das questões mais curiosas que envolveram sua a mitologia.
No final da entrevista, a bióloga revela que a decisão de parar com a atividade que a tornou famosa na internet já lhe rende frutos. Para não ser identificada, ela realmente assumiu duas personas.
“Sempre tive dois perfis no Orkut, um para a Tata, só utilizado entre o grupo que fazia legendas, e outro para a Pricila, que tinha os amigos mais próximos. Agora eu só tenho um e posso adicionar quem realmente desejo que faça parte da minha vida. Eu já estou conciliando tudo bem melhor”, sorri.
Gustavo Miller
Do G1, em São Paulo
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