sábado, 1 de maio de 2010

"Homem de Ferro 2" não supera impacto do primeiro filme


SÃO PAULO (Reuters) - Como todo filme de super-heroi que se preze, "Homem de Ferro 2" aspira ser mais do que realmente é. E como a maioria deles, o longa, que estreia no Brasil na sexta-feira, em cópias dubladas e legendadas, tropeça em suas próprias pretensões.

O filme almeja ser um comentário sobre o estado do mundo contemporâneo e o preço da paz, mas acaba se resignando com o que é mais fácil, cômodo e rentável: fazer piadas.

A certa altura, o protagonista (novamente interpretado por Robert Downey Jr., que entre o primeiro filme, de 2008, e este ainda encarnou o detetive Sherlock Holmes) pendura na parede de sua sala um quadro do Homem de Ferro. Não é uma pintura qualquer, é um desenho estilizado, em tons de azul e vermelho -- tal qual o famoso pôster usado por Barack Obama em sua vitoriosa campanha presidencial, em 2008.

Talvez, a intenção do diretor, novamente Jon Favreu, e do roteirista, o ator Justin Theroux, fosse realmente ligar o personagem ao atual presidente dos EUA (o heroi declara que a paz mundial só existe graças a ele), ou talvez o cartaz seja apenas mais uma piada, entre tantas outras, perdidas no filme.

Ao contrário do primeiro, "Homem de Ferro 2" não está muito interessado em desenvolver uma trama e construir personagens para culminar em sequências de ação. Aqui, as correrias, tiros e explosões são precedidas de brincadeiras que deverão divertir apenas os iniciados.

Enquanto o primeiro filme trazia o prazer da descoberta, da apresentação, "Homem de Ferro 2" parece gerado por um programa de computador que esquece de incluir itens básicos como história empolgante, personagens interessantes e reviravoltas bem sacadas.

A direção de Favreu não poderia ser mais mecânica e despersonalizada. Destacam-se apenas Downey Jr. e o ótimo Sam Rockwell ("Frost/Nixon"), mais pelo talento e capacidade de atuação de ambos do que por aquilo que o filme oferece.

O fiapo de trama que serve para amarrar as pancadarias metálicas envolve uma rivalidade entre Tony Stark e seu concorrente, Justin Hammer (Rockwell), ambos empresários do setor bélico. Este pretende a todo custo criar uma espécie de Homem de Ferro genérico capaz de ser produzido em série para ser usado pelo governo dos Estados Unidos, como garantia da paz. O próprio governo, aliás, insiste que Stark entregue "sua arma" -- embora o empresário/super-heroi negue que tenha uma arma.

Há também um vilão russo (lembrança dos tempos da Guerra Fria) interpretado por Mickey Rourke ("O Lutador"), que quer se vingar de Stark, pois, segundo ele, sua família foi destruída pelo pai de Tony. Seja lá quem for, ele parece ser o único capaz de criar aparelhos à altura para bater de frente com o Homem de Ferro.

Já às personagens femininas não há muito a oferecer. Gwyneth Paltrow ("Amantes") é, novamente, a secretária de Stark que, dessa vez, dá a ela a presidência de sua empresa. Scarlett Johansson é Natalie Rushman, uma assistente do departamento jurídico que, mais tarde, se revela um pouco mais do que isso.

Como puro entretenimento, "Homem de Ferro" deixa a desejar com seu ritmo cambaleante, humor fraco e a pouca novidade que traz em relação ao filme anterior -- aquele sim bem mais divertido. No final das contas, a estrela do filme, o super-heroi, nem tem chance de aparecer tanto em cena, e o que fica é apenas a fumaça da pancadaria.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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