quinta-feira, 6 de maio de 2010

'Happy Town': será que essa bucólica cidade do Meio-Oeste dos EUA é amigável?


Mike Hale


Você vai ter uma opinião sobre Happy Town poucos minutos depois do piloto começar na noite de quarta-feira. Será quando Tommy Conroy (Geoff Stults) fizer um discurso à sua filha pequena desprezando a ideia de se mudar para a Califórnia e deixar seu paraíso do meio-oeste americano, em Minnesota.

"Aqui estamos nós, no berço do coração do país", diz. "O papai é o filho do xerife em uma cidade sem crime. A mamãe tem um emprego importante na fábrica de pão. E minha filhinha Emma é a mais brilhante da sua sala. A mamãe e o papai ainda namoram escondido apesar de estarem juntos desde a formatura do colégio. Então, me diz, Emma, por que trocaríamos tudo isso por um lugar cheio de terremotos?"

Nesse momento, se você for como eu, vai querer ir a algum lugar sem televisão. Happy Town, comédia dramática de uma hora de duração na ABC, trata de coisas estranhas acontecendo sob a superfície da vida de uma pequena cidade (Twin Peaks transferida para o meio-oeste), especificamente o possível retorno de um terrível criminoso do passado do vilarejo (O Mistério da Ilha com um orçamento maior). Rostos amigáveis não são confiáveis e todo mundo sabe mais do que está dizendo, pelo menos nos dois primeiros episódios.

Mas o mistério e a novela bucólica vêm incrustados de humor sagaz, aquela impressão atualmente popular de que tudo o que é dito ou feito vem acompanhado de pontos de interrogação invisíveis. A prática é uma especialidade da ABC, de Desperate Housewives a Pushing Daisies - Um Toque de Vida e Modern Family, embora seja atualmente dominada por Glee, da Fox.

Seja qual for sua opinião sobre esse estilo -e muita gente gosta, obviamente-, ele é uma escolha incômoda em Happy Town, desviando a atenção do enredo central de um sequestrador misterioso chamado Magic Man e dos temas de conformismo e repressão rural. Funcionou em Twin Peaks, mas não há nenhum David Lynch aqui fazendo ligação direta até a identidade pastoril da América.

(Os produtores de Happy Town, a mesma equipe que criou o seriado anterior da ABC, October Road, claramente tinha Twin Peaks em mente. Um personagem se mudou recentemente para a cidade ficcional de Haplin, Minnesota, saindo da verdadeira Snoqualmie, Washington, onde muitas cenas exteriores de Twin Peaks foram filmadas.)

Combinada com a atitude costumeira de Hollywood de desprezar essa região dos EUA -mesmo quando o programa é filmado lá-, a abordagem estilizada cria muitos diálogos como "Olha pra você, mais fofinha que o bolso de um ratinho" ou "Como ela soava?" "Como se tivesse comido vespas no café da manhã."

Ao manter a atmosfera sufocante, a violência pode ser tão rebuscada quanto os diálogos, no estilo de outro cenário de Minnesota em mente, o filme Fargo. Em uma cena, um cinzel vai parar numa testa; em outra, um personagem confuso talha a própria mão. Outros sinais de que não estamos mesmo no meio-oeste: as constantes referências cinematográficas e uma trilha sonora que começa com Watching the Detectives de Elvis Costello.

Alguns atores cativantes estão misturados em meio ao grande elenco, incluindo Lauren German, como a misteriosa recém-chegada, Amy Acker como a esposa de Tommy Conroy, Robert Wisdom (Bunny Colvin em A Escuta) como o detetive e Steven Weber (Wings, Studio 60 on the Sunset Strip) como um membro da família dominante da cidade. Sam Neill (Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros) mantém um sorriso falso permanente como o animado dono de uma loja de artigos de cinema que tem um séquito de adoráveis divorciadas saídas direto de As Bruxas de Eastwick.

Particularmente bem-vinda é a presença do ator canadense Peter Outerbridge, que interpretou um jovem agente do FBI na antiga série de mistério e horror Millennium. Aqui, ele leva seu jeito estranho ao papel de um policial de meia-idade com um gosto especial por tapioca. Acredito piamente que todos os males da sociedade poderiam ser sanados se todos comessem um pudinzinho, diz ele, e provavelmente devemos pensar no agente Cooper e sua torta de cereja. Mas ainda não há sinais de que Happy Town mereça as comparações com Twin Peaks que tanto deseja.


The New York Times

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