terça-feira, 21 de setembro de 2010

Rubicon - Uma excelente nova série mergulha no absurdo da espionagem




Existem hoje nos Estados Unidos 1. 271 organizações governamentais e 1.931 empresas privadas dedicadas ao contra-terrorismo, espionagem/contra espionagem e questões de segurança nacional. Essas entidades empregam 854 mil pessoas e estão localizadas em cerca de 10.000 cidades através dos Estados Unidos . Juntos, seus funcionários preparam cerca de 50. 000 relatórios, a maior parte dos quais ninguém lê.

Esta espantosa, assustadora realidade foi exposta brillhantemente em Top Secret America, uma série de matérias investigativas do Washington Post que clama por se tornar filme.

Temos visto um pouco desse universo – meio Kafka, meio Orwell - em alguns títulos recentes: Zona Verde, Jogo de Espiões, Syriana, Rede de Mentiras, por exemplo. Mas a versão ficcionalizada que mais se aproxima da realidade e das implicações desta Top Secret America não está nas telonas – está na TV.

Estreada nos EUA no final de julho, a série Rubicon é o mais inteligente, interessante e provocante novo título no cada vez mais maduro mundo da teledramaturgia norte americana. Criado pelo documentarista Jason Horwitch, fã assumido do cinema políttco da Nova Hollywood dos anos 70, Rubicon tem o clima e os princípios da filmografia que o inspirou: imediato, direto, sem ilusões mas não cínico.

Seu anti-herói, Will Travers (James Badge Hale, que vimos há pouco em The Pacific) é um relutante analista de uma agência fictícia de inteligencia, dedicada a fazer o que, na realidade, nenhuma das milhares de entidades mencionadas na materia do Post fazem: juntar informações de várias fontes e ver onde elas fazem sentido, e qual sentido é esse. É um jogo de quebra cabeças que atrai não sedutores jamesbonds mas nerds extremamente humanos e absolutamente nada heróicos, em cujas mãos, muitas vezes, são colocadas responsabilidades moralmente impossíveis: bombardear ou não um possível reduto da Al Qaeda? Ao lado de uma creche? Em funcionamento?




O labirinto que Horwitch propõe para seus personagens –e para o público – é, paulatinamente, não mais discutir quem é “do bem” ou “do mal”, ou qual conspiração é maior ou mais importante que a outra: é qual sentido tem um mundo de fumaça e espelhos, nutrido pela invasão sistemática da vida alheia e sustentado por princípio nenhum.

É série para gente grande em todos os sentidos – tomara que tenha longa vida.


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