sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Baú das Séries: 

Buffy The Vampire Slayer



Uma das séries da minha vida. Eu poderia encerrar o texto aqui e muitos entenderiam esse sentimento.

No texto sobre Firefly, eu disse “entre as sete temporadas da história da caçadora de vampiros e as cinco de seu spin off, eu prefiro os 14 episódios (e o filme) de Firefly. Algumas pessoas pensaram que eu não fã da obra-prima que revelou o gênio Joss Whedon, certo que tenho uma preferência pela tripulação da Serenity, mas seria estúpido em não reconhecer a qualidade dessa sensacional série que é até hoje cultuada ao redor do mundo.

Buffy é uma daquelas séries em que você vê e revê aos episódios sem parar porque é como uma droga. Vicia e não te larga, uma companhia perfeita nas tardes chuvosas, onde a única coisa necessária para fazer seu dia é um pouco de pipoca e uma lata de coca-cola para assistir aos episódios mais criativos que a televisão já proporcionou. Essa série marcou minha adolescência e é a série que me iniciou ao maravilhoso mundo das séries, graças a Rede Globo que transmitiu na TV aberta por aqui. Ela me deu o meu personagem preferido do mundo das séries (você descobre qual clicando aqui e me seguindo no twitter), apenas UM episódio musical, mas um musical tão brega que consegue ser melhor que as duas temporadas de Glee JUNTAS. Inúmeras referências de coisas que eu nunca tinha ouvido falar, na verdade, as referências são tantas, que até na última temporada da série, o Andrew faz uma a Dragon Ball, além de ter a melhor referência ao massacre de Columbine já feita na TV. Essa é uma série, que mesmo tendo os chamados “casos da semana”, deixa você grudado do início ao fim e não lhe permite se levantar nem na hora de sua magnífica abertura. Eu até gostava de algumas das músicas emos que tomavam conta do Bronze quando a Scooby Gang ia se divertir depois de uma boa noite matando demônios, vampiros, deuses, etc.

Essa série não é apenas uma que foi tão boa que merece uma homenagem em um blog sobre séries, ela é uma daquelas que você TEM que ver. Se você chegar ao último dia de sua vida sem ver um episódio de Buffy, você não vai morrer em paz.

Toda a história começou assim: a mente genial de Joss Whedon decidiu tirar onda com o estigma dos filmes “da garotinha loira que entra em um beco escuro e é morta em cada filme de terror”. Ele então escreveu um roteiro para um filme, que acabou se tornando uma bela de uma porcaria – se você não viu a série, não precisa ver o filme. CORRAM do filme. Whedon disse que, “Eu tinha escrito este filme assustador sobre uma mulher com poderes, e eles transformaram em uma grande comédia. Foi esmagador”. A série que veio em seguida foi genial, então acho que a culpa do filme ter saído uma porcaria não foi dele.

Whedon utilizou muito bem o clima high school para expor as angústias das pessoas utilizando-se de estudantes de uma cidadezinha do interior, esta cidade chama-se Sunnydale e é o local ideal para indicar àquele amigo que você não vai com a cara para passar as férias. Lá temos uma linda e bela hellmouth que atrai todo tipo de coisa ruim que existe nesse mundo, além de deuses de outras dimensões, lógico.

Muitas pessoas não gostam do início de Buffy, mais exatamente a primeira temporada, e eu sou uma delas. Minha diva Sarah Michelle Gellar tinha um carisma enorme, mas atuar não era o negócio dela, e Buffy não conseguiu vencer em seus 12 primeiros episódios os estigmas que tentava bater. Buffy Summers era uma adolescente super poderosa, mas que não passava a segurança de uma heroína. Seus amigos tinham apenas função de realizar sacadas sarcásticas extremamente superficiais. Willow (Alyson Hannigan) tinha rostinho fofo e voz calma, mas não passava de uma nerd sem graça, que chegava a ser irritante; Xander (Nicholas Brendon) era um patético personagem que não me arrancou uma risada se quer e que em TODA a série só serviu para: 1) falar com Buffy sobre seu medo de relacionamentos no episódio em que o Riley vai embora na quinta temporada. 2) Ter um relacionamento com a Anya e nos agraciar com um dos melhores episódios de casamento que já vimos. 3) Salvar o mundo no Season Finale da 6ª temporada. 4) Ter um diálogo muito bom com a Dawn sobre o fato de eles serem os únicos da gangue que não possuem poderes na última temporada. Pode parecer muita coisa, mas não foi… Sim, eu não fui com a cara do Xander se você ainda não percebeu! Os únicos com quem eu me importava era o Angel (David Boreanaz), um vampiro que tocou o terror séculos atrás e acabou sendo amaldiçoado por ciganos e o Giles (Anthony Stewart Head), nosso estranho britânico tentando se adaptar aos EUA com a missão de ser o guardião da caçadora.

Outro problema da série na primeira temporada foi a caracterização superficial dos vampiros, a ausência da crítica social que a série prometia e a maneira com que a narrativa encerrava alguns episódios. Buffy matava o monstro, mas só descobríamos o que ele era nos 10 segundos finais do episódio (literalmente).

Isso tudo não quis dizer nada para a série, tanto é que na quase perfeita segunda temporada, o Messias dos vampiros foi tirado de cena o mais rápido possível. Whedon sabia que a história não ia dar certo e seguiu em frente, trazendo o melhor plot que uma série vampiresca já fez: Angel voltando a ser mal e se aliando com o recém-chegado Spike (interpretado pelo SENSACIONAL James Marsters) e Drusilla (Juliet Landau). Esse é outro trunfo da série: ter um showrunner que sabe o que faz e que não tem medo de arriscar. Joss Whedon cresceu junto com Buffy durante as sete temporadas da série, adicionou e se livrou de personagens sem medo do que o público pensaria, chegando ao ponto de adicionar uma irmã para a protagonista que não foi nem mencionada nas quatro primeiras temporadas da série para depois transforma-la no ponto chave da melhor temporada da série (estou me referindo a 5ª) e pegar a Anya, que era apenas uma vilã de um episódio de caso da semana, e fazer dela uma personagem coadjuvante muito carismática que fala o que lhe vem à cabeça, na maioria das vezes colocando a gangue em uma saia justa. Escreveu episódios que nunca caberiam em outro universo de outro seriado que até hoje são IMITADOS por outras séries, tornando tudo aquilo em um universo próprio, que poucas séries conseguem ter e desafiou aos críticos que marcaram o ponto alto da série como seus diálogos, Whedon olhou para as letras desse herege, sentou-se à mesa dos roteiristas e escreveu “O” melhor episódio da série: 4×10 – Hush. Uma das mais aterrorizantes horas de TV que já foram escritas, com apenas 17 minutos de diálogos, Whedon passou toda angústia de uma Sunnydale sem voz e estabeleceu que mesmo uma série tendo uma vasta mitologia, ela pode transformar um simples “caso da semana” em algo completamente memorável.

Buffy foi uma série ótima também por não ter pena em gastar dinheiro, a cada vampiro morto a produção gastava cerca de cinco mil dólares para fazer do nosso entretenimento o melhor possível com efeitos de alta qualidade para a época e muito melhor do que os de muitas séries em exibição atualmente. Agora, imaginem se eles tivessem matado todos os vampiros do jeito convencional no Series Finale da série? Daria mais dinheiro que o Pilot de Lost. O interessante é que mesmo assim, a produção peca por não utilizar sangue falso suficiente nas mordidas dos vampiros e por proporcionarem a cena de bala perdida mais estranha da história (quem viu a sexta temporada sabe do que eu falo).

O que era apenas uma série bobinha cresceu e tornou-se cruel, tanto com seus personagens como com seu público, às vezes alternando suas histórias sobre amor, traição, confiança, homossexualidade e morte em um mesmo episódio e outras vezes dedicando a cada um desses temas um episódio temático, como no caso da morte em The Body, que é por merecimento a Emmy Tape do Emmy que a Sarah não ganhou por sua atuação, trabalhos como o que ela fez aqui merecem ser reverenciados por passarem ao espectador, o que é a morte, uma dor crua, passada através de uma interpretação espetacular, a ausência de trilha sonora e um mix perfeito de direção e roteiro de Joss Whedon. Eu poderia, modéstia à parte, escrever centenas de palavras só para falar da cena em que Buffy entra em sua casa e encontra sua mãe morta, mas temos que continuar…

A Scooby Gang é uma daquelas turmas que acabam se unindo e nunca se desgrudando ao ponto de retirar um de seus membros do paraíso e trazê-lo de volta a terra utilizando magia negra, mesmo sabendo dos perigos posteriores, essa gangue está no hall daquelas turmas como os 6 amigos de Friends, os bêbados de Cheers e a família Bundy que normalmente são características de sitcoms de sucesso. Essa é outra característica de Buffy The Vampire Slayer, a conciliação entre ação e comédia que parte das vezes falha por causa por causa do Xander, mas é compensada pelos vilões das temporadas, que é algo marcante de cada temporada da série, o Trio, o amado prefeito de Sunydale, Caleb e o Primeiro, Adam e a Iniciativa, cada temporada teve seu vilão especifico que acaba sendo derrotado no Season Finale, com exceção da sexta, onde o vilão propriamente dito foi a Willow, que se viciou em magia negra e tentou destruir o mundo em busca de vingança pela morte da Tara.

A partir da quarta temporada, tudo muda no universo da série, a escola é destruída depois da épica batalha contra o Prefeito e o foco da série é no desenvolvimento dos personagens fora de casa, um dilema que todos eventualmente têm que enfrentar, daqui para frente, não são mais crianças lutando contra as forças do mal, eles tem que se preocupar também com suas vidas pessoais, a história de Buffy é mal entendida pelas pessoas, não é uma garota que ganha poderes e luta contra o mal, se você tem esse pensamento, é uma pena porque Buffy fala de uma pessoa que não pode se afastar de seu destino, ela é escolhida e ela acaba abraçando seu destino de proteger os outros, o que a fez jogar fora todos os seus relacionamentos desenvolvidos no decorrer da série (uma pena porque eu queria ver ela e o Spike juntos), às vezes de forma tão forte que a acusam de ela se declarar superior aos outros e é nisso que se baseia a última temporada da série, enquanto em outros momentos, como na quinta temporada, temos um grupo coeso e unido, mesmo sem esperança, mas com um motivo para lutar, na última também temos essa falta de esperança, mas a gangue já sofre por não ter motivos para ir a luta, durante muito tempo sempre houve confiança na figura da caçadora para inspirar todos a irem a luta, mas Caleb e o Primeiro acabaram com esses motivos, ao contrário de Glory, não se tinha mais um plano, nem uma saída e as mesmas pessoas que a abraçaram na vitória, a expulsaram do grupo no momento em que ela mais precisava de apoio.

Buffy é também uma das séries mais subestimadas da história nas premiações, a indicação de Joss por melhor roteiro em Hush não é suficiente para um seriado que fez tanto pela TV, Alyson Hannigan também merecia por seu trabalho em episódios fantásticos como Doppelgangland e Wrecked, Sarah Michelle Gellar e James Marters a partir da segunda temporada deveriam ser figurinhas carimbadas na premiação, mas acabaram sendo deixados de lado. Uma pena que uma das melhores séries da história não tenha sido reconhecida, enquanto até True Blood já recebeu indicação, mas se eu tivesse que escolher entre ela, The Vampire Diaries, Being Human, Angel, Moonlight e Buffy, eu escolheria a última. Não estou desmerecendo nem trollando as outras, mas Buffy The Vampire Slayer é melhor série vampiresca já criada e vai ficar com esse título por muito tempo.

P.S¹: O Spike é mais foda que o Damon, o Stefan, o Bill e o Eric juntos e multiplicados por mil.

P.S²: Joss Whedon, quando é que sai o filme?

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