Reféns: Nicolas Cage e Nicole Kidman
estrelam suspense sem brilho
Com um roteiro bobo, atores pouco inspirados e uma pesada direção por parte de Joel Schumacher, a produção cai no abismo da mediocridade e não funciona nem como exemplo de filme trash.
Avaliação: nota 3
Alguns filmes conseguem ser absolutamente chatos. Falo das produções que não são boas o bastante para conquistar o público, nem se levam na brincadeira o suficiente para se tornarem trashs. São aquelas que caem no abismo da mediocridade e não despertam nenhum tipo de paixão ou mesmo simpatia. Esse é o caso de “Reféns”.
Nova fita do irregular Joel Schumacher, que aqui repete sua parceria com o quase tão irregular Nicolas Cage, com quem trabalhou em “8mm”. Cage interpreta Kyle Miller, talentoso vendedor de diamantes que vive em um condomínio fechado luxuoso com sua esposa Sarah (Nicole Kidman) e a filha Avery (Liana Liberato). Certo dia, a casa é invadida por bandidos que exigem apenas uma coisa: dinheiro. A partir daí, começa um jogo de gato e rato entre a quadrilha e os Miller, que culminará na revelação de vários segredos e testará a união daquela família.
A ideia de ter nossa casa, local de descanso onde cremos que nós e nossas famílias podemos viver em paz, invadida por ameaçadores estranhos é uma das mais assustadoras possíveis, como podemos comprovar em películas como o eficiente “O Quarto do Pânico” e o maravilhoso “Violência Gratuita”. Mas Schumacher e o roteirista Karl Gajdusek parecem não compreender isso, sentindo a necessidade de inserir diversas reviravoltas durante a projeção, principalmente durante o segundo e o terceiro atos. São tantas guinadas que, em determinado ponto, aparenta ser uma paródia, não uma história que se leva a sério.
Fica difícil para o público se importar com a segurança de pessoas que não conhecem, pois, com menos de dez minutos de projeção, já ocorre a invasão da residência dos Miller. Até aquele ponto, os vemos como meros estereótipos: o pai workaholic, a esposa colocada em segundo plano e a filha adolescente que quer sair para as festinha à la “American Pie”.
Interessante notar que Nicolas Cage parece perceber que, para o sucesso de seu personagem, é necessário que o público se identifique com Kyle e sinta o seu pânico. Tanto é que, com exceção de uma cena na qual Kyle tenta negociar com os bandidos, Cage se mantém mais contido que o seu “normal”. Paradoxalmente, se o ator estivesse no seu modo descontrolado por mais tempo, a experiência cinematográfica seria menos chata.
Nicole Kidman, por sua vez, surge pagando seu aluguel em um claro piloto automático, longe daquilo que podia se esperar dela. Aliás, sua Sarah praticamente só faz duas coisas no filme: choramingar e gritar. Mesmo quando age, o faz da maneira mais estúpida possível. Liana Liberato é bonita e está bem, sendo justificável neste ponto inicial de sua carreira estar em uma produção nível “Super Cine”, ao contrário de Cage e Kidman.
Quanto aos criminosos, ao menos um deles foge do padrão, com o Jonah vivido pelo canastríssimo Cam Gigandet tendo uma trama até interessante, embora nada plausível. Sua relação com um membro da família Miller, aliás, acaba se revelando altamente decepcionante, principalmente depois de todo o mistério que se faz sobre o assunto. As justificativas dadas para o assalto apresentadas no decorrer da projeção soam uma mais absurdas que a outra, com o roteiro falhando em suas tentativas de criar vilões mais simpáticos junto à audiência. Ao menos o Elias de Ben Mendelsohn tem uma boa química junto a Nicolas Cage.
Mantendo a coerência quanto ao resto da produção, Joel Schumacher pesa a mão na condução da trama, exagerando em planos subjetivos nas quedas do personagem de Cage e jogando na cara do espectador elementos que serão importantes mais tarde, matando qualquer noção de suspense que um filme desses precisa. O modo como Schumacher retrata os flashbacks chega a ser risível.
Sem ritmo, nada marcante e com um final extremamente maniqueísta, os noventa minutos de “Reféns” passam se arrastando, com o público saindo mais entediado do que entretido. Seria mais divertido rever o péssimo “O Sacrifício” em casa com os amigos. Ao menos ali dá para se fazer piada da atuação tosca de Nic Cage. Passe longe.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.
Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.
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