Em apresentação com elementos toscos e há 36 anos fazendo o mesmo som, banda acerta porque não inventa.
Que Madonna que nada. O concerto que o AC/ DC fez na noite de sexta, no Morumbi, diante de 70 mil fãs enlouquecidos, faz qualquer show ocorrido no Brasil nos últimos tempos parecer malabares de farol.
Que Madonna que nada. O concerto que o AC/ DC fez na noite de sexta, no Morumbi, diante de 70 mil fãs enlouquecidos, faz qualquer show ocorrido no Brasil nos últimos tempos parecer malabares de farol.
Foram duas horas de explosões, labaredas, tiros de canhão, telões colossais, plataformas suspensas, chuva de papel picado, bonecos infláveis e até uma locomotiva de oito toneladas no palco. O som foi puro AC/DC: um hard rock festivo e barulhento, com letras juvenis sobre sexo, mulheres fáceis e o poder catártico do rock and roll. Enfim, um grande show.
O sucesso do AC/DC e sua identificação com o público vêm de uma fórmula simples: a banda não inventa. Há 36 anos faz o mesmo som, sem inovações. O show é como uma cápsula do tempo, congelando os fãs numa adolescência eterna. Não é à toa que o guitarrista Angus Young usa o mesmo uniforme escolar de seus dias de menino na Austrália.
Também não dá para esperar nenhuma sofisticação ou "finesse" do AC/DC. As letras são pura poesia de botequim, com pérolas do tipo "fazendo serão/ na linha de sedução" ("You Shook me All Night Long") ou "cachorro come cachorro/ come gato também/ os franceses comem rã/ e eu como você" ("Dog Eat Dog"). Logo na primeira frase que dirigiu ao público, o vocalista Brian Johnson mostrou toda sua apreciação do idioma e cultura locais: "Desculpem, nós não falamos "brasileiro"... Mas falamos rock and roll!" O povão delirou.
Um momento especialmente revelador aconteceu durante "The Jack", o blues sobre o perigo das doenças venéreas. Enquanto os telões mostravam meninas eufóricas na plateia, 70 mil pessoas cantavam o refrão: "Ela tem gonorreia!" Beavis e Butthead aprovariam.
Apesar da megalomania e da qualidade da produção, o show do AC/DC tem elementos propositadamente toscos e malfeitos, com um apelo quase infantil. Como o inacreditável vídeo exibido durante "War Machine", em que Angus Young pilota um avião e ataca cidades com um bombardeio de guitarras e mulheres seminuas.
O público é um show à parte: adolescentes e cinquentões pulando sem parar, usando chifres de plástico, tocando guitarras imaginárias, cantando aos berros, fazendo o sinal do chifrinho e dançando passos inclassificáveis. Ao final, enquanto uma bateria de 12 canhões disparava os balaços que encerram "For Those about to Rock (We Salute You)", muitos choravam. O AC/DC lavou a alma.
Avaliação: ótimo
ANDRÉ BARCINSKI