Avaliação: NOTA 4
Há uma tradicional discrepância, que vem se extinguindo cada vez mais nos últimos anos (principalmente graças à HBO), entre produções feitas para serem exibidas no cinema e aquelas feitas para serem assistidas diretamente no sofá de casa. Em especial, o gênero drama costuma sofrer mais com essa diferenciação. Direção estática, fotografia nada marcante, trilha sonora quase inexistente e roteiro didático são a tônica em filmes feitos para a televisão, os quais geralmente se caracterizam ainda por uma previsibilidade chata exigida por seu público conservador. O segundo longa para os cinemas de David Schwimmer traz todas as características citadas há pouco, desvalorizando a séria temática que aborda.

É como se tivéssemos na escola conferindo a algo extremamente educativo para que nos alertássemos sobre os perigos da internet. Nem mesmo os escassos momentos de ousadia e de forte tensão dramática afastam essa sensação ao visitarmos “Confiar” pela primeira vez. Tudo é exibido da maneira mais padrão possível. Cada passo dos personagens pode ser adivinhado com uma desagradável facilidade. Logo, a única surpresa proporcionada pelo filme é a razão dos sempre competentes Clive Owen e Catharine Kenner estarem envolvidos neste fraco projeto.

A dupla interpreta os pais de uma garota de 14 anos de idade, a graciosa Annie (Liana Liberato), que tem como maior vício, ao lado de grande parte das pessoas de sua idade, a internet. Ela adora ficar horas no recém-ganhado computador conversando com desconhecidos no bate-papo. 

O principal deles é Charlie, um rapaz que diz inicialmente ter 16 anos. A amizade entre os dois se torna tão forte que um encontro é marcado. E logo vem a surpresa: Charlie não era bem quem dizia ser, em todos os sentidos. Trata-se de um pedófilo que acaba assediando sexualmente a menina e marcando a vida dela e a de seus pais para sempre.

Escrito por Andy Bellin e Robert Festinger, “Confiar” nunca está minimamente preocupado em ser cinema de qualidade. Desde os primeiros minutos de exibição é possível notar de que se trata de um longa tecnicamente medíocre. Os planos da direção de Schwimmer são de um cineasta aparentemente em aprendizado, com medo de arriscar, incapaz de impor um ritmo que não passa do vagaroso. Sua trilha sonora e fotografia seguem o mesmo caminho. Até mesmo quando tenta adentrar a cabeça do atormentado Will (Owen), o seu mundo de alucinações soa amador. E olha que estamos nos melhores minutos do filme!

É aqui que a dupla de roteiristas sai em busca de alguma profundidade e maturidade para conceder a seus personagens comuns. Os méritos não são dos maiores, mas diante do que foi mostrado anteriormente, a produção atinge seu auge. É a constatação de um filme limitado, que não demora sequer um minuto para exibir sua protagonista interagindo virtualmente, através de uma estratégia visual nada original do diretor, com quem virá a ser o vilão da história. Não há nem mesmo uma preocupação em apresentar o ambiente familiar em que Annie vive, numa contextualização necessária para uma obra dramática como esta.

O que mais incomoda, porém, é a infantilidade que o roteiro concede a sua protagonista, alguém que não só não desconfia das intenções de Charlie, como permite-se demorar dias para questionar suas errôneas atitudes. A impressão é que estamos diante de uma menina que vive sua adolescência nos anos 90, sem qualquer preocupação para os riscos da internet, como se a tecnologia tivesse surgido há poucos anos. Soando atrasado e nada inovador ao repassar sua explícita mensagem, o longa só não tem um resultado pior graças ao seu elenco.

Clive Owen é o melhor de todos. Como pai de uma família abalada pela perda da inocência de sua filha, ele faz milagre ao conseguir trazer alguma complexidade a Will. O pouco tempo concedido a Catherine Kenner não permite que ela faça o mesmo. Já a estreante Liana Liberato é capaz de surpreender, mesmo com o seu chato papel principal. Sobra ainda para Viola Davis, como a psicóloga que tem de lidar com as crises da garota, interpretando um personagem que fecha o ciclo de previsibilidade do filme, só definitivamente pontuado com a vergonhosa cena exibida nos créditos finais.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema