Missão Madrinha de Casamento
a completa desconstrução
da delicadeza
Kristen Wiig e companhia mostram que as mulheres podem ser desagradáveis, invejosas, nojentas, mas ainda assim, engraçadas.
Avaliação: NOTA 8
A primeira cena de “Missão Madrinha de Casamento” já deixa claro que não estamos diante de um filme delicado sobre o universo feminino. Muito pelo contrário. Nela, a protagonista Annie (Kristen Wiig) faz sexo sem pudor algum com um homem quase desconhecido, apenas para se divertir e fazer o tempo passar, numa atitude mais relacionada a “natureza” masculina. Não chega a surpreender que depois seja dela a obrigação de deixar a casa e pular o portão do condomínio, para pouco depois encontrar-se com a amiga de infância Lilian (Maya Rudolph) e comentar sobre alguns detalhes bem (entenda como exageradamente) íntimos da noite que teve.
A sequência resume com o que nos depararemos adiante. Mas para a alegria de quem está cansado de ver a falsa pureza das mulheres em algumas comédias românticas, as situações se agravam, chegando a níveis inimagináveis. Por isso, não é nada inapropriado tratar o longa como a versão feminina de “Se Beber, Não Case!”, também devido à semelhança entre as sinopses. A única grande diferença entre as duas produções está no olhar do público, na inabitualidade de assistir a moças agirem sem qualquer graciosidade.
A principal delas é Annie, uma antiga dona de confeitaria que hoje não passa de uma frustrada atendente de joalheria também insatisfeita com sua vida afetiva. Essa condição contrasta com a da amiga Lilian, que agora está noiva. O convite para ser a dama de honra da cerimônia acontece com naturalidade. O mesmo não pode ser dito para a posterior convivência com outras amigas de Lilian. Responsáveis por organizar um casamento perfeito, elas vão ter de lidar com suas discordâncias e invejas, que resultarão nos mais absurdos causos.
De almoços em restaurantes “exóticos” a voo para Las Vegas, as seis mulheres compartilham vergonha atrás de vergonha. O roteiro da própria Kristen Wiig, em parceria com Annie Mumolo (que surge em participação especial como uma hilária e medrosa passageira), não as poupa de nada. As duas horas de duração permitem que elas sejam completamente descontruídas, sendo os seus defeitos ressaltados em relação às escassas qualidades. Elas se embriagam, falam palavrões e são indelicadas. Algumas tentam manter a postura em frente à outra. Nada que o tempo e um mínimo de privacidade com o espectador não revele.
As situações físicas dominam. Neste quesito, é impossível não citar Megan (Melissa McCarthy), a futura nojenta cunhada de Lilian. Ela é nada menos do que a versão feminina do Alan da produção de Todd Philips. Bastante masculinizada e com alguns vários quilos a mais, Megan faz e fala tudo que vem a mente. Não tem vergonha de seduzir em plena avião, muito menos de arrotar ao adentrar uma refinada loja de vestidos de casamento. Mas se no filme de 2009, não sobrava muita comédia para o restante dos personagens, “Missão Madrinha de Casamento” possui uma protagonista que faz rir na mesma proporção.
Annie é uma tragédia ambulante. Para onde vai, apronta com e sem querer. Se a péssima condição financeira provoca algumas consequências desagradáveis, a personalidade se responsabiliza pelas outras, principalmente às várias relacionadas aos sentimentos nutridos contra/por outra integrante do grupo, Helen: a inveja e os ciúmes. É explorando essa rivalidade que o roteiro arranca suas maiores risadas, seja ao nunca desmascarar a personagem interpretada por Rose Byrne, seja ao demorar a fazer Annie sair vitoriosa no embate.
Mesmo em sua incessante busca por gargalhadas, o roteiro ainda deixa espaço para nos afeiçoarmos pela protagonista. Diálogos entre ela e Lilian (bem como a química entre Wiig e Rudolph da época de Saturday Night Live) permitem que a amizade soe convincente. O mesmo pode-se dizer do interesse amoroso entre a moça e o simpático policial Rhodes (Chris O’Dowd). Entre idas e vindas, o romance sai de lugares comuns, fugindo de idealizações. Que o diga a conclusão encontrada para o dito final feliz!
A direção de Paul Feig (“Menores Desacompanhados”) não é das mais relevantes. Ele sabe que sua função é apenas permitir que os roteiros e as atrizes brilhem. Quase dispensando o uso da trilha sonora, ele dá um ritmo mais lento do que o habitual à narrativa. O ritmo, por sinal, é diversas vezes quebrado pelo comprometimento de “Missão Madrinha de Casamento” com o politicamente incorreto, por ter sempre uma piada a mais para contar, por sempre achar possível que as mulheres podem se tornar ainda piores, mas ainda assim, super engraçadas.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema
Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema
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