Até a Eternidade: longa entrelaça dramas e alegrias de grupo de amigos
Oscarizados Marion Cotillard e Jean Dujardin dividem tela com elenco talentoso e carismático
Avaliação:
NOTA 7
Filmes
que retratam a amizade são recorrentes na tela grande, isso não se pode
negar. Com algumas obras sempre lembradas em qualquer lista de cinema
relacionada ao tema, já vimos os conflitos e lembranças surgirem em
filmes como “O Reencontro”, “Quando os Jovens se Tornam Adultos”, “Somente Elas” e “Conta Comigo”, só para citar alguns. Eis que surge mais um novo membro para a tão vasta filmografia. E isso não é uma notícia ruim.
Em “Até a Eternidade”, o ator/diretor/roteirista Guillaume Canet (atualmente em cartaz no elenco de “Apenas Uma Noite”)
nos entrega uma obra bem aos moldes franceses para contar a história de
um grupo de amigos de longa data que, repetindo a tradição, decidem se
reunir para uma temporada de férias. A coisa muda de figura quando um
deles, Ludo (Jean Dujardin, vencedor do Oscar de Melhor Ator por “O Artista”),
sofre um grave acidente de moto, em um prólogo impressionante. O
restante do grupo, no entanto, decide manter a viagem de pé, mas
segredos e arestas mal aparadas entre eles é que farão toda a diferença
durante as duas horas e meia de filme.
Apesar de extenso, é louvável a mão firme mantida por Canet na
direção de seus atores. Temos Marie (Marion Cotillard, vencedora do
Oscar de Melhor Atriz por “Piaf – Um Hino ao Amor”), perdida de
si mesma com seus relacionamentos amorosos; Antoine (Laurent Lafitte),
que não consegue superar o término do relacionamento de longa data com
Juliette (Anne Marivin), afastada do grupo por conta do mal-estar
generalizado; Eric (Gilles Lellouche), um ator cujo orgulho supera o
próprio talento profissional e pessoal; e Vincent (Benoît Magimel), um
homem casado que se descobre apaixonado por Max (François Cluzet), dono
da casa litorânea onde o grupo costuma se hospedar.
Entregar todos os personagens seria estragar a surpresa diante de um
filme franco e cativante, que tem muitos elementos para agradar o
público em geral. Com seus personagens carismáticos e roteiro
despretensioso, é impossível não se envolver com os dramas encobertos
pelos pequenos lenços (Le Petits Mouchoirs, do título original em francês), ou seja, as mentiras que transbordarão e testarão os longos anos de amizade da trupe.
Neste emaranhado de conflitos, o grupo vai levando os dias de
descanso com descontraídos passeios de barco, refeições regadas a muito
vinho, cigarros e conversas tão afinadas que parecem nos colocar dentro
do grupo. Porém, quando o nível de adrenalina baixa, seus dramas vêm à
tona, seja o desconforto causado em Max pela declaração de Vincent, a
obsessão de Antoine pela ex e, ainda, a saúde de Ludo, que funciona como
um bumerangue, indo e voltando até os personagens em um misto de
esquecimento nos momentos de diversão e culpa nas horas de reflexão.
O filme abusa de certos conflitos, além de inserir personagens
coadjuvantes que pouco acrescentam à trama, como um caso de amor recente
de Marie ou um visitante zen, amigo de Véronique (Valérie Bonneton),
esposa de Max. Porém, é fácil se identificar com os dramas, que envolvem
ego, segredos, romances (não) concretizados, todos empilhados em
conflitos existenciais, matrimoniais e fraternais.
No dia a dia, o foco fica no tempestuoso comportamento de Max diante
do, até então, amigo Vincent. A insegurança diante dos sentimentos do
amigo se torna uma bola de neve e complica, ainda mais, o convívio de
todo o grupo. Exageros à parte, vamos acompanhando o desenrolar de todos
os conflitos, em momentos de nostalgia e beleza sinceros, como a
emocionante ligação que Marie faz a Ludo, ainda acamado no hospital.
Assim, a longa duração do filme, infelizmente, se dá por demorar a
oferecer ao espectador os conflitos, deixando os segredos emergirem a
conta-gotas. Por outro lado, se preocupa mais em tentar concluir cada
uma das tramas do que, simplesmente, tratar superficialmente de todas
elas. Dujardin, apesar de mero coadjuvante, tem sua presença pontuada em
notáveis cenas de gravação do grupo das férias anteriores, tornando-se o
grande ponto de ligação entre cada um eles. E como saudade é um
sentimento inerente a cada um de nós, é impossível se manter indiferente
ao drama de “Até a Eternidade”.
Apesar do bom trabalho de todo o elenco, o destaque fica para
Cotillard, bem à vontade e sincera com sua personagem, e Gilles
Lellouche, que cria no mulherengo Eric a personificação bem feita de um
homem perdido entre sua maturidade e os seus desejos (o ator, inclusive,
foi indicado ao César 2011 de Melhor Ator Coadjuvante).
E com todas as delícias e dissabores de uma amizade duradoura, em que
muitos segredos se escondem debaixo do tapete, temos no experiente Jean
Louis (Joël Dupuch), o responsável pelo estopim de cartas colocadas à
mesa no momento derradeiro da viagem. E a manipulação para arrancar
lágrimas do público, que permeia todo o filme em uma trilha sonora
criada para tal finalidade, atinge seu ápice. Resta ao público
considerar esta façanha um drama barato ou, simplesmente, se identificar
por meio de suas próprias amizades. Neste segundo caso, prepare os
lenços.
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Léo Freitas formou-se em Jornalismo em 2008 pela Universidade Anhembi Morumbi. Cinéfilo desde a adolescência e apaixonado por cinema europeu, escreve sobre cinema desde 2009. Atualmente é correspondente do CCR em São Paulo e desejaria que o dia tivesse 72 horas para consumir tudo que a capital paulista oferece culturalmente.
Léo Freitas formou-se em Jornalismo em 2008 pela Universidade Anhembi Morumbi. Cinéfilo desde a adolescência e apaixonado por cinema europeu, escreve sobre cinema desde 2009. Atualmente é correspondente do CCR em São Paulo e desejaria que o dia tivesse 72 horas para consumir tudo que a capital paulista oferece culturalmente.
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