quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Arthur "Big Boy" Crudup





































































Arthur "Big Boy" Crudup






Dando continuidade ao que propus alguns dias atrás, continuarei traçando um perfil das principais personalidades do mundo do Blues, pegando artistas de diversas tendências e instrumentos... Iniciei pelo gênio da gaita, Little Walter e agora falo da principal influência musical para a primeira geração do rock.





A primeira vez que escutei seu nome, foi escutando a última faixa do lado B do disco 'Raul Seixas', do próprio, lançado em 1983,(aquele que tem Carimbador Maluco, o Plunct Plact Zum)... a faixa era So Glad You're Mine de Arthur 'Big Boy' Crudup gravada ao vivo e com uma pequena introdução, dizendo que o Rock'n'Roll começou em 1949, com um cara chamado Arthur 'Big Boy' Crudup, que fez a cabeça de uma criança chamada Elvis Presley.





Embora Crudup tenha passado à história do Blues como criador de um estilo, e mais como autor de canções do que como intérprete, é preciso reconhecer e destacar que seus dotes como "performer" no palco também eram notáveis, visto que do contrário não teriam prevalecido suas outras virtudes.





Muito de seus blues são considerados obras-primas e ainda hoje servem de referência para os jovens pesquisadores, e isto se deve também às suas interpretações. Nos anos 40, e principalmente durante a segunda metade da década, periódo imediatamente após a 2ª Guerra, 'Big Boy' foi muito popular na América, transformado-se num padrão artistico para toda uma greação de jovens admiradores, entre os quais se encontrava Elvis Presley que anos depois confessaria que sua educação musical foi extremamente influenciada pelos blues de Crudup.





Quando jovem, o rei do rock costumava escutar os Blues de Crudup na rádio e mais tarde quando já havia atindido a popularidade incluiu vários deles no seu repertório, como o próprio 'So Glad You're Mine', 'My Baby Left Me', dentre outros. E assim como Elvis vários cantores contemporâneos de Elvis fizeram a mesma coisa, contribuindo para que os blues originais de 'Big Boy' Crudup fossem difundidos em diferentes versões e centenas de "covers".




Nos primeiros tempos, os 'blues singers' eram autodidatas e seu repertório alimentava-se da improvisação e das escalas folclóricas. Aos poucos foram aparecendo 'escritores' de canções de blues como o mestre William Christopher Handy.





Nos anos 30, e principalmente, nos anos 40 proliferou um grupo de bluesmen que eram músicos e cantores, mas que se tornaram mais populares pelo seu trabalho como compositores e criadores temáticos que como intérpretes, como aconteceu aqui no Brasil também nos anos 60, com figuras como Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti, que se tornaram mais populares como compositores do que como cantores ou intérpretes apesar de serem também grandes cantores e músicos.




No Blues, entre os veteranos podemos citar: Tom Delaney, Port Graiger, Perry Bradford e Wesley Wilson, e entre os mais polivalentes podemos citar: Big Bill Broonzy, Robert Brown/Washboard Sam, a trindade os Jimmies (Jimmy Rodgers, Jimmie Gordon e Jimmy Reed). E entre estes citados figuram dois importantes referencais, que além de importantes compositates que foram, em sua época, 'performers' dos mais ativos e aclamados: Willie Dixon (o maior compositor da Chess Records) e Arthur 'Big Boy' Crudup.





Arthur, filho ilegítimo de um casal de músicos, nasceu em 1905, em Forest, localidade do estado de Missouri (um grande berço dos mestres do blues).





Durante sua infância recebeu aulas de solfejo e cantou nos coros infantis de gospel e negro-spirituals. Saiu de casa muito cedo, percorrendo o interior do sul dos EUA como músico itinerante e trabalhando também com vários outros ofícios até que, em 1940, passou a formar parte do quarteto de negro-spirituals Harmoizing Four, e chegou a Sweet Home (Chicago).





Chegaram a esta cidade, assim como outros bluesmen de seu tempo, forjando nela sua carreira, tornando-se uma das maiores figuras históricas do blues, sempre com grande esforço e infinitas dificuldades economicas. Tanto que em 1942, abandonou temporariamente a carreira artística e voltar para sua cidade natal, em Missouri dedicando-se ao comércio e outras atividades não musicais. Pouco tempo depois, com a entrada dos EUA na 2ª Guerra, foi chamado para o Exército e começou a trabalhar no serviço radiofônico das Forças Armadas como encarregado da documentação musical. Este trabalho encorajou-o novamente, e em 1944 voltou a Chicago para gravar discos, apresentar-se ao vivo e compor músicas de blues encomendadas por seus colegas.





Suas apresentações na rádio local, uma estação de grande difusão, consolidaram sua fama e multiplicaram suas gravações entre 1945 e 1951. Vários de seus blues obtiveram uma notável popularidade, seus discos tocavam freqüentemente em muitas emissoras de rádio e seus blues foram adotados por outros cantores, que os incorporaram ao seu repertório mesmo sem conhecê-lo pessoalmente. Neste sentido além da dimensão artística de sua obra, configurou-se uma situação que chegou a ser bastante freqüente entre os cantores de blues de sua época: apenas ficava endividado sem se aproveitar financeiramente da fama.





A difusão dos discos dava pouco dinheiro, as apresentações ao vivo eram mal pagas, os direitos autorais não eram respeitados e, no geral, -os contratos- quando existiam eram tão draconianos que o artista tirava pouco proveito deles. No caso de 'Big Boy' Crudup, autor de um grande número de blues, interpretados por outros muitos artistas, este aspecto era duplamente dramático, não somente porque não recebia os direitos autorais legais, como seu nome sequer figurava nos seus discos ou de outros cantores. Era uma omissão aplicada constantemente pelas gravadoras para não ter que pagar os direitos autorais. Os músicos acompanhantes, então, raramente eram citados. Por isso, Crudup não pôde desfrutar de uma boa situação econômica, enm quando os que adotavam seus blues eram grandes ídolos do rock que enriqueceram graças ao seu trabalho.




Um destes ídolos foi Elvis Preley, que conforme diz o pesquisador Peter Guralnick autor do livro: "Careless Love: The Unmaking of Elvis Presley", custeou despesas pessoais de Arthur Crudup em muitas ocasiões para lhe ajudar a sair de alguns apertos econômicos. Isto, de certo modo, era uma pequena forma de atenuar a infustiça, já que Elvis ganhava milhões de dólares da indústria cultural, que ganhava pelo menos dez vezes mais em cima do consumo da "ElvisMania", interpretando os blues compostos por Crudup com um arranjo rock enquanto este vivia praticamente da miséria. Canções como "That's All Right" ou "My Baby Left Me" compostas por Crudup, contribuiram notavelmente para o sucesso de Elvis na primeira fase de sua carreira. Mas este não foi o único caso. Muitos artista do rock'n'roll contemporâneos de Elvis e, posteriormente dos anos 60, principalmente os britânicos se apropriaram de uma boa parte do repertório de 'Big Boy' Crudup.






Na América o fato de que um grande número de músicos de rock dos anos 60 tivessem Crudup como modelo, adotando seu estilo, até que ajudou a beneficiá-lo um pouco no fim da vida. Foi bastante solicitado,se apresentando em importantes festivais como os festivais de folk-blues , foi elogiado em diferentes revistas e publicações, homenageado em programas especiais de televisão, etc.. Gravou novos discos com melhor divulgação e apresentou-se com mais freqüência em diversos locais, alguns luxuosos e badalados, diferente dos 'inferninhos' que ele se apresentava nos anos 40 em Chicago. Por outro lado, se nos 40, a maioria dos seus fãs eram negros nos 60, a maioria de seus fãs eram brancos.



Em 1970 visitou a Europa, mas por pouco tempo. Após apresentar shows com sucesso de crítica e público, voltou aos EUA para compromissos já assinados e nunca mais retornou ao Velho Mundo. Foi uma pena, pois seu nome tinha grande prestigio no mundo do rock-blues europeu, e sem, dúvida, não lhe teria faltado trabalho, reconhecimento e boas contribuições. Na América teve um lugar de honra no Festival of American Folklife, celebrado em Washington diante das câmeras de TV e com a presença de importantes personalidades da vida política e social americana, seguido do Washington Blues Festival, organizado pela Universiade de Howard, no qual também foi homenageado.





Em 1972, fez uma turnê pela Austrália, patrocinado pelo American Blues Festival. Nesse mesmo ano participou em dois musicais interpretando importantes papéis. Em 1973, obteve um grande sucesso no Philarmonic Hall de Nova York, durante o Newport Jazz Festival. Alguns críticos associam o blues de 'Big Boy' Crudup ao estilo de John Lee Hooker e de Lightnin' Hopkins, como uma fusão de ambos. É possível que exista alguma verdade nisso, e ainda não tenho um profundo conhecimento para argumentar com estes críticos, mas em todo caso são próprias sua facilidade natural para o lirismo de linha melódica e sua capacidade de simplificar de modo admirável, ao alcance de qualquer ouvinte, a mais complexa estrutura 'bluesy', condição de um verdadeiro mestre, como a história o reconheceu.




Morreu em 1974, na Virgínia, devido a um ataque repentino de apoplexia. Seus melhores discos foram imediatamente relançados e divulgados pela mídia. Crudup foi postumamente exaltado, num nível jamais atingido em vida. No final ele foi um defunto glorificado.





Um de seus melhores discos é That's All Right Mama de 1954, conseguindo seu primeiro sucesso na Billboard. Uma das principais características das gravações de 'Big Boy' Crudup éa simplicidade da instrumentação, uma qualidade que também era evidente em suas apresentações.





No geral, sua força vocal apoiava-se no rasgado de um violão e no ritmo de uma simples bateria, à qual estava subordinado o acompanhamento instrumental. Nesse contexto a relevância dos músicos acompanhantes era muito limitada. Em outras palavras, como somente estavam a serviço da voz, seu trabalho brilhava muito pouco individualmente e sua identidade não figurava nas edições fonográficas.




O estilo vocal de Crudup se apoiava na voz e na palavra, enquanto os instrumentistas limitavam-se a realçá-las. Isso é exatamente o contrário do que costuma ocorrer nas trepidantes instrumentações dos grupos de Rhythm&Blues.

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