Original do prédio dos anos 1960, a grande janela de ferro restaurada banha com luz natural todo o estar, onde Mau Mau faz suas leituras. À noite, ele admira as luzes coloridas da avenida Paulista
Para isolar o som do estúdio, aporta de correr com 5 m de largura tem manta de lã de vidro entre placas de MDF pintadas de branco. A estrutura de alumínio a deixa leve para ser totalmente recolhida entre a estante e a parede do banheiro social, integrando o ambiente ao living
O estúdio com home theater ocupou a área de dois quartos e recebeu tratamento acústico embaixo do assoalho. Para abrigar os 12 mil discos de vinil do DJ, a estante feita de argamassa armada tomou toda a largura da parede, com prateleiras de 5 cm de espessura
Na batida do concreto
Adepto do estilo brutalista, o arquiteto Eduardo Chalabi modernizou este apê de 295 m², em São Paulo. Ao demolir paredes para eliminar cômodos, ele expôs a estrutura de concreto sem reboco. Nos espaços abertos e iluminados, o DJ Mau Mau vive, trabalha e se diverte com os amigos no ritmo da música eletrônica.
Texto Marilena Dêgelo.
Repórter de imagem Gabriel Valdivieso.
Fotos Maíra Acayaba
Som, luz e livre circulação. Na reforma assinada pelo arquiteto Eduardo Chalabi, tudo foi pensado para adequar ao estilo de vida do morador, o DJ Mau Mau (Maurício Bischain), 40 anos, este apartamento de 295 m² em prédio dos anos 1960 no Jardim Paulista, em São Paulo.
Como o músico trabalha boa parte do tempo em casa e gosta de receber os amigos em festas, a maioria das paredes foi demolida para eliminar o excesso de cômodos e criar espaços amplos, integrados e bem iluminados.
Com a derrubada das paredes, toda a estrutura ficou exposta. O toque de modernidade veio coma remoção do reboco das vigas e dos pilares para deixar o concreto aparente. “Isso mudou a cara do apartamento”, diz o arquiteto de 33 anos, formado pela FAU-USP em 1999. Segundo ele, o projeto contemporâneo ganhou com o aspecto rude do brutalismo, estilo de arquitetura inspirado em Le Corbusier e usado entre os anos 1960 e 1970.
O concreto aparente também está na estante que cobre uma parede de 7m no estúdio do DJ, criado na área de dois dos três dormitórios. Para acomodar a coleção de 12 mil discos de vinil do músico, as prateleiras com 5 cm de espessura são pré-moldadas, de argamassa armada. “Se fossem de madeira, não aguentariam o peso”, afirma Chalabi.
Para isolar principalmente os tons graves da música eletrônica produzida pelo DJ, o arquiteto fez tratamento acústico no estúdio. Na remoção dos tacos, que passaram por restauro, ele aproveitou para instalar uma manta emborrachada embaixo do assoalho. A música alta também é abafada pela porta de correr que fecha a área para o living. Quando aberta, ela desaparece entre a lateral da estante e a parede do banheiro social, integrando os ambientes.
Na reforma, Chalabi redistribuiu os cômodos de acordo com a necessidade do morador. O acesso para a única suíte, criada coma união do terceiro quarto, do antigo corredor e de dois banheiros, mudou para o hall de entrada. A parede reservada para o guarda-roupa foi aberta para o fosso do prédio, o que ampliou o espaço e a iluminação natural no quarto. O mesmo aconteceu na parede do novo corredor para a suíte. “Relutei em fazer isso porque aumentaria os gastos da obra, mas no final adorei o resultado: o quarto pode ser visto desde a sala”, diz o DJ, que colocou janelas com vidro antirruído e guarda-corpo nos vãos, porque ele tem dois cachorros pequenos.
Entrevista: DJ Mau Mau fala do novo disco, o conceitual Arts, Plugs and Soul
(por Andréia Martins)
O nome Maurício Bischain pode parecer estranho para você. Ao contrário de DJ Mau Mau, o paulistano considerado o melhor do Brasil na profissão e que em 2007 chega aos 20 anos de carreira. Se o número pesou? “Fiquei pensando nesse número…20. Causou impacto. Fiz todo um resgate pessoal e profissional para o novo trabalho”, conta ele, referindo-se ao disco, Arts, Plugs ans Soul, que ele acaba de lançar pela Trama.
Três anos depois de lançar Music is My Life, inteiramente voltado para a pista – o melhor lugar de um DJ – Mau Mau apresenta agora o seu lado mais conceitual, um disco desacelerado mas nem por isso parado. A faixa de abertura, Um Novo, dá sinais dessa nova empreitada.
Além da vontade de experimentar, a morte da mãe fez com que o disco tomasse outro rumo. “Fiquei muito mal…Este álbum me ajudou a superar tudo. Fui buscar coisas mais internas em vez de ficar só nas coisas maus superficiais, entretendo pessoas nas pistas”. Pistas que ele também frequenta quando pode. “Adoro sair e faço isso sempre que posso”. Por telefone, ele falou ao Virgula-Música sobre o novo disco e os 20 anos na estrada
Virgula-Música – Desde 1987, quando você começou a tocar em casas como o Madame Satã muita coisa mudou na cena eletrônica. Olhando pra trás, qual foi o melhor momento desta história até agora?
Mau Mau – Fiz realmente uma retrospectiva na minha carreira nesse disco. Nesses 20 anos passei por coisas tão legais, mas entre os melhores momentos está o set da última edição do Skol Beats em Interlagos, em 2002. Registrei o momento com foto e é a melhor foto num set em toda a minha carreira.
Virgula-Música – Quanto tempo este trabalho levou para ficar pronto?
Mau Mau – Comecei a trabalhar o disco há um ano e meio. Inicialmente eu queria criar um conceito novo, mais específico e diferente do que eu já fiz. Gravei todo ele no estúdio do meu apartamento, sem avisar a gravadora que era pra não ter nenhuma pressão ou prazos.
Virgula-Música – O resultado final foi diferente daquele que você tinha pensado inicialmente?
Mau Mau – É, este trabalho não é direcionado para a pista. Ele tem um diferencial. Durante o processo de gravação eu sofri uma perda muito grande, que foi a morte da minha mãe e o trabalho tomou outra direção. Algumas faixas são mais dançantes, mas não tem aquela velha fórmula, aquele ritmo 4×4 de sempre, e sim uma batidas mais quebrada e influências de diversos estilos da eletrônica.
Virgula-Música – Em 2007 você completa 20 anos de estrada. Foi uma opção sua gravar apenas dois discos em duas décadas?
Mau Mau – Por falta de tempo também. Como produtor eu procuro estar sempre aprendendo. Sou bem CDF nesse sentido, estudo pra caramba para poder fazer coisas novas. E eu dividia o tempo entre meus trabalhos e parcerias. E no início da minha carreira, talvez eu não me sentisse seguro para lançar mais discos autorais.
Virgula-Música – E o lance de colocar sua voz em três faixas?
Mau Mau – Como eu já disse, esse é um trabalho muito especial, no qual eu procurei diferenciar uma faixa das outras. Já havia usado minha voz antes, mas só com palavras soltas, não como nessas músicas. Quis fazer um trabalho diferente. Em See Me, por exemplo, em alguns trechos, você vai achar que está ouvindo o teclado quando na verdade é a minha voz com efeitos.
Virgula-Música – Se tivesse que escolher uma faixa do disco que traz todo o significado deste trabalho, qual seria?
Mau Mau – É difícil escolher porque é um trabalho que funciona no todo. Um disco que deve ser ouvido faixa por faixa, pois ele tem uma sequência, as músicas vão crescendo, evoluindo.
Virgula-Música – Ser chamado de melhor DJ do país já te incomodou?
Mau Mau – Não porque nunca desejei isso. Veio como consequência. Me esforço pra fazer um bom trabalho mas não para ser chamado de melhor DJ. Nunca me importei com isso.
Virgula-Música – Em relação ao exterior, o Brasil tem boas casas noturnas e DJ’s bem preparados?
Mau Mau – Nós não ficamos atrás. Temos muitos DJs com trabalhos de qualidade e casas noturnas que estão entre as melhores do mundo pela revista DJ Mag, como a The Edge e Aroung. O único porém é que essa cena é recente no Brasil, então estamos um pouco atrasados em relação a Europa. Quando eu viajo e descobrem que sou brasileiro as pessoas ficam loucas pra conhecer o Brasil, dizem que aqui é a nova Ibiza. Bacana não?
Virgula-Música – Você trabalha com outras artes. Quando foi que a música dominou você?
Mau Mau – Desde o primário. Eu estava sempre gravando fitinhas cassetes para os meus amigos, mas me envolvi com desenho, pintura e depois com a dança. Cheguei a ser b-boy da São Bento e montei grupos de street dance, ainda na adolescência. Chegou uma hora que fazer música falou mais alto.
Virgula-Música – Quem promete na cena eletrônica?
Mau Mau - Ana Flávia, uma DJ de potencial e qualidade no trabalho. Eu me preocupo muito com a qualidade do trabalho e a personalidade de um DJ no set. Não dá pra ser só mais um que copia coisas que já existem. Ela mistura minimal e eletro house, às vezes dá mais ênfase a um, mas ela tem um repertório bem diferente e logo logo vai explodir.
Virgula-Música – O que faz um DJ ser um bom DJ? Um curso de como aprender a mixar faz um bom DJ?
Mau Mau – O lado técnico que os cursos oferecem é super importante, mas mais ainda e a personalidade. Muitos DJs novos acabam caindo no óbvio, tocando aqueles hits que todos tocam. A personalidade é o que vai dar base ao DJ, fazer com que a carreira seja duradoura.
Virgula-Música – Tem uma música que, por mais que passe o tempo, tem espaço garantido em seu repertório? O funk tem ou terá espaço nesse repertório?Mau Mau – High-tec Jazz, do projeto Galaxy to Galaxy. Essa música foi gravada ns início dos anos 90 mas não envelhece. Ela é totalmente diferente do que era feito na época. Quanto ao funk, assim como outros estilos, eu costumo misturar bastante coisa nos meus sets.
Virgula-Música – Tem uma música que, por mais que passe o tempo, tem espaço garantido em seu repertório? O funk tem ou terá espaço nesse repertório?Mau Mau – High-tec Jazz, do projeto Galaxy to Galaxy. Essa música foi gravada ns início dos anos 90 mas não envelhece. Ela é totalmente diferente do que era feito na época. Quanto ao funk, assim como outros estilos, eu costumo misturar bastante coisa nos meus sets.
Virgula-Música – Em Arts, Plugs and Soul você disponibiliza quatro faixas bônus para MP3. O que você acha desse lance de baixar músicas de graça, até onde isso vai?
Mau Mau – O impacto da globalização mudou nossa vida. Estão aparecendo caminhos novos e com o tempo vamos nos adaptando, criando novas regras e leis. Mas é um caminho sem volta, e qualquer meio que divulgue arte é válido. As regras virão por causa das multinacionais que querem lucrar, mas para o artista, o interessante é alcançar mais e mais pessoas. Pelo menos pra mim.
(matéria publicada em 14.02.2007 no Portal Virgula)
(matéria publicada em 14.02.2007 no Portal Virgula)
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