segunda-feira, 7 de setembro de 2009

'Up', Pixar mergulha em cenários 'exóticos' da América do Sul

















































Nova animação do estúdio estreia nesta sexta (4/09/2009) no Brasil.



G1 participou de entrevista com o diretor Pete Docter




Paoula Abou-Jaoude Do G1,

em Los Angeles



Depois de levantar voo no Festival de Cannes e sobrevoar os Estados Unidos – onde estreou em junho passado –, a animação “Up – Altas aventuras”, da Disney/Pixar, aterrissa finalmente nos cinemas do Brasil nesta sexta-feira (4/09/2009).

Dirigido por Pete Docter (“Monstros S.A”) e Bob Peterson, o filme conta a história de Carl Fredricksen, um homem que passou a vida sonhando em explorar o mundo e conhecer lugares exóticos.

Mas aos 78 anos, depois de perder a mulher e prestes a perder também a casa, Carl percebe que as oportunidades passaram e que nunca chegou a realizar os seus desejos.


Frustrado, o personagem resolve dar uma reviravolta e parte para o que será uma das grandes aventuras de sua vida: viajar dos EUA à América do Sul levando sua casa pendurada em milhares de balões de festa.



O G1 esteve em uma entrevista com o diretor e roteirista Pete Docter, que também participa de outros sucessos da Pixar, como “Wall-E” e “Toy Story”.


Na conversa, ele fala sobre sua própria aventura durante a pré-produção do longa. “Foram três dias de expedição. Usamos três aviões, um helicóptero, um jipe e muita caminhada para entender 100% o que é estar nessa aventura.” Leia abaixo trechos do bate-papo.



Pergunta – Como foi o desenvolvimento da ideia de “Up – Altas aventuras”?



Pete Docter – Tudo começou com o meu desejo de dar uma sumida do mundo, o que é irônico porque, como diretor, meu trabalho é interagir com pessoas o dia todo, o que eu adoro. Mas, no fim do dia, tudo o que quero às vezes é me arrastar para debaixo da minha mesa e ficar sozinho. Portanto a ideia de sair do mundo sempre me atraiu, sabe, tipo ser um náufrago numa ilha. Assim, chegamos ao Carl, que, para escapar do mundo, flutua com sua casa por aí. Mas depois de um tempo, percebemos que não dá para viver sozinho. O desejo de todo ser humano é ser querido pelos outros, e Carl percebe isso. Não quero entregar muito do que acontece, mas a essência do filme não é a aventura de Carl, sua viagem para a América do Sul. É sobre os relacionamento que fazem a nossa vida.




Pergunta – O filme trata de dois conceitos importantes: superar a perda e criar novos sonhos.


Docter – A primeira ideia que vem à cabeça ao se ver a casa flutuado por ai é a ideia de deixar para trás, de não se apegar às coisas ou às pessoas. Uma ideia sensível. Os balões, para mim, são poéticos. Eu me lembro de quando era pequeno: se um balão que tinha nas mãos escapava, eu ficava triste, abalado. Então, para Carl, que era tão conectado à casa, deixar que ela se vá é entender que a conexão com sua esposa e a relação que eles tinham não se traduz em algo material. Isso faz com que ele se libere e, assim, volte a viver, com novos objetivos e novos sonhos.





Pergunta - Você acha que é obrigação do artista passar mensagens em filmes para o público?

Docter – Acho que as mensagens dos filmes têm mais a ver com a vida e reflexões dos envolvidos neles. Eu não faço filmes pensando em advogar um ponto ou outro. Tento capturar um pouco da realidade, como eu a vejo, e traduzi-lo para a tela de uma maneira em que o público possa se reconhecer. Não importa se o filme é sobre formigas, robôs ou brinquedos. O público quer ver [nas telas] os tipos de problemas que tem no seu dia-a-dia, em suas experiências emocionais. O mundo está mudando. Os bairros e as cidades estão crescendo e, com isso, a quantidade de pessoas vivendo a mesma experiência também esta crescendo. Isso faz com que mensagens como a desse filme e a de “Wall-E”, por exemplo, sejam ainda mais reais.





Pergunta – Você chegou a ir até a verdadeira Catarata Salto Angel, na Venezuela?


Docter - Sim, e foi fantástico. A gente escolheu ir até lá porque estávamos procurando um lugar que simbolizasse aventura – e Carl redefine a palavra aventura [risos]. Até os dias de hoje a gente escuta sobre novos lugares, novos animais exóticos que são encontrados nas selvas da América do Sul... Então, que lugar melhor para Carl viver a sua aventura? Mas, para trazer realismo às imagens e caricaturas, mandamos uma equipe de artistas para lá. Foram três dias de expedição. Usamos três aviões, um helicóptero, um jipe e muita caminhada para entender 100% o que é estar nessa aventura. Fomos até o Monte Roraima, que faz fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. De lá, fomos de barco até o Salto Angel, no qual baseamos a nossa Paradise Falls.



Pergunta – De onde veio a ideia do cachorro falante?


Docter – Eu não sei se você tem bicho de estimação ou não, mas nós temos um cachorro lá em casa e toda vez que ele aparece na nossa frente, nós inventamos um diálogo para ele. O que ele estaria dizendo e pensando a nosso respeito? Tipo, quando sentamos à mesa de jantar, ele olha para a gente com cara de quem esta falando: “você vai comer isso?” [risos]. Essas coisas. Bob Peterson (co-diretor), que também fez a voz, escreveu os diálogos do cão. Ele tem a cabeça perfeita para isso.




Pergunta – Foi criada alguma tecnologia especialmente para esta animção?


Docter - Sim, mais especificamente para os balões. O sistema de computação conseguia animar uma quantidade limitada - acho que até 10 mil elementos rígidos -, mas precisávamos de mais para as sequências com os balões. Então desenvolvemos um novo sistema que conseguiu incluir mais elementos e de uma maneira rápida, o que foi importante para que não atrasasse a produção. E tem também as penas. Mandamos a equipe de arte para o zoológico de Sacramento para estudar o faisão do Himalaia, que tem as penas resplandecentes. Eles são pretos, mas, quando abrem as suas asas, todas essas cores incríveis aparecem. É algo impressionante. Tentamos fazer algo parecido antes, mas era uma tecnologia que nós não tínhamos.




Pergunta- O plano sempre foi de fazer “Up” em 3D?

Docter - Na verdade, quando começamos a pensar no filme e a desenvolvê-lo, estávamos mais concentrados em como iríamos contar a historia do que no 3D propriamente dito. Afinal, 3D é uma técnica a mais, que cria o efeito “uau!” nas pessoas nos primeiros minutos, mas, depois disso, você precisa de uma boa história.






Pergunta- A Pixar sempre foi pioneira no que se refere à animação. O que vem por aí em relação a novas tecnologias?

Docter - Boa pergunta... 4D? [risos]. Não, a gente não sabe! O processo é inverso. Quando a gente tem uma história para contar como “Procurando Nemo” ou “Monstros S.A.”, a gente tem que ver como vai resolver tecnicamente certos aspectos da história – como o movimento da água ou do pelo do monstro. Assim é que a tecnologia vai se aperfeiçoando. Nesse filme, a escolha foi outra. Foi seguir o lado mais poético e não tão realista, já que é a história de uma casa que voa. Se não for algo mais caricato, não faz sentido, ninguém acreditaria. O mundo que você cria tem que ser um mundo possével e que seja aceito pelo público. Se o que você quer é realismo, melhor fazer “live action”, com atores de verdade que são mais baratos e mais efetivos. Se vamos para a animação, vamos usar toda a fantasia que ela oferece.

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