Por David Piraino
Durante sete temporadas (1966/73) os telespectadores de todo o mundo ouviram, por meio de um gravador de rolo analógico, mensagens que invocavam muita ação, aventura e suspense, nunca vistas antes na tevê.
Trata-se da série clássica Missão: Impossível, um programa que foi além de seu tempo, mesmo sem efeitos digitais, baseados apenas em efeitos de trucagem cinematográfica. Com um excelente trabalho de seus atores, diretores, produtores e do criador Bruce Geller, a série se tornou um ícone do século XX, influenciando em outras séries de tevê e também na indústria do cinema.
Assistir a Missão: Impossível em pleno século XXI é como beber whisky de qualidade: quanto mais envelhecido melhor.
Esta matéria é dedicada a todos os fãs, à memória de Bruce Geller, e a todos aqueles que trabalharam direta ou indiretamente em
Missão: Impossível.
O Início
Espionagem na tevê! Era isto que o "pai" de Missão: Impossível, o escritor e produtor teatral Bruce Geller desejava. Antes da fama por Missão: Impossível, Bruce apenas escrevia roteiros de séries de tevê, como Flash Gordon (1954), O Paladino do Oeste (1957), O Homem do Rifle (1958), Johnny Yuma (The Rebel, 1959) e Couro Cru (1959). Como produtor, depois de Missão: Impossível, Bruce produziu as séries Mannix (1967, também fruto de sua criação) e Bronk (1975) com Jack Palance.
Bruce era natural de Nova York e desejava criar e produzir algo inovador para a promissora televisão a cores, tendo por base que ele era muito influenciado pelos filmes de ação dos anos 50 e pela febre "James Bond" do início dos anos 60.
Naquela época, o que havia de similar eram as séries Agente 86 - uma comédia de espionagem - e o Agente da UNCLE, basicamente uma sátira da espionagem. Mas não havia nenhum programa que tinha o espírito de James Bond na tevê, com ação, suspense, equipamentos e lugares exóticos.
Com estes ingredientes, Bruce criou o primeiro esboço do novo programa de televisão. Batizado de "Brigg’s Squad", um grupo chefiado por Daniel Briggs recebia ordens do serviço secreto americano e realizava missões perigosas, para assegurar a paz mundial e a segurança nacional.
Em seu grupo, haviam especialistas responsáveis por tarefas definidas para a realização da trama: um especialista em eletrônica, mecânica e metalurgia; um especialista em disfarces e dialetos; uma mulher sexy; e um homem musculoso, um faz-tudo.
Com isto pronto, Bruce começou a visitar os escritórios das redes de tevê e uma delas - a CBS - se interessou pelo projeto. Com algumas sugestões feitas pelos executivos da emissora, o nome da série passou a ser Missão: Impossível. As missões seriam realizadas pelo IMF (Impossible Mission Force [Grupo MI, de acordo com a dublagem da AIC no Brasil]), uma divisão do Serviço Secreto Americano.
A Mãe de Missão: Impossível
Em toda a concepção de um filho, obviamente são necessários um pai e uma mãe. Se o pai de Missão: Impossível é Bruce Geller, que seria a mãe? Bruce percorreu os estúdios de tevê da época procurando alguém que se interessasse pelo projeto. Bateu à porta da Desilu, um estúdio que, naquele ano de 1965, era o que mais produzia séries de televisão.
Sim, a mãe de Missão: Impossível é Lucille Ball!
A Desilu foi criada por Lucille e seu marido Desi Arnaz em 1953, para produzir seu show semanal I Love Lucy. Com a chegada da fama e dinheiro, Lucy e Desi compraram os estúdios da R.K.O., começando a produzir séries de tevê como Os Intocáveis, Wyatt Earp e muitas outras.
Mas na época em que Bruce Geller procurou a Desilu, o estúdio já não contava mais com Desi Arnaz como sócio. Era um estúdio decadente que produzia muitos "pilotos" para séries de tevê. Muitos deles eram fracassados. Alem disto, a Desilu alugava seus vários estúdios para que companhias independentes produzissem suas próprias séries.
Portanto, a Desilu nunca recusava roteiros enviados, por acreditar na possibilidade de que algum deles pudesse tirar o estúdio do "buraco".
Voltando ao produtor Bruce Geller, ele apresentou o roteiro para Lucille e, como a Desilu estava em busca de roteiros com criatividade, encontrou uma grande oportunidade em "Missão". Lucille aprovou a produção do "piloto", mas confessou tempos depois que nunca entendeu muito bem a concepção da série.
Voltando ao produtor Bruce Geller, ele apresentou o roteiro para Lucille e, como a Desilu estava em busca de roteiros com criatividade, encontrou uma grande oportunidade em "Missão". Lucille aprovou a produção do "piloto", mas confessou tempos depois que nunca entendeu muito bem a concepção da série.
Lucille também aprovou na época a produção do "piloto" de uma nova série televisiva, escrita pelo novato Gene Roddenberry: Jornada nas Estrelas. Mas o profissionalismo de Lucille em chefiar um estúdio de tevê chegou ao fim em 1968, quando ela o vendeu para a Paramount Pictures, que ficava nos fundos de seu terreno.
O Elenco da 1ª Temporada
Com o "sinal verde" para o "piloto", o estúdio saiu em busca do elenco, sempre com o aval de Lucille Ball. Para o chefe Dan Briggs foi escolhido o ator Steven Hill, que já era um ator conhecido na tevê, mas que acabou não sendo uma boa escolha. Hill era judeu ortodoxo, não podendo trabalhar após o meio-dia das sextas-feiras até o pôr-do-sol do sábado. Como as filmagens se encerravam às 18h das sextas-feiras, por ordem do Sindicato dos Atores, muitos problemas aconteceram, como atrasos nas filmagens.
Com o "sinal verde" para o "piloto", o estúdio saiu em busca do elenco, sempre com o aval de Lucille Ball. Para o chefe Dan Briggs foi escolhido o ator Steven Hill, que já era um ator conhecido na tevê, mas que acabou não sendo uma boa escolha. Hill era judeu ortodoxo, não podendo trabalhar após o meio-dia das sextas-feiras até o pôr-do-sol do sábado. Como as filmagens se encerravam às 18h das sextas-feiras, por ordem do Sindicato dos Atores, muitos problemas aconteceram, como atrasos nas filmagens.
Hill foi suspenso no meio da 1ª temporada e, mais tarde, ficou sabendo através dos jornais que outro ator havia sido escolhido para o seu papel: Peter Graves.
Há aqueles que nem conhecem o personagem Dan Briggs, pois a primeira temporada de "Missão" nunca mais foi exibida na televisão, nem em sistema de syndication (emissoras independentes).
Anos mais tarde, Steven Hill ficou famoso novamente ao interpretar, por dez anos, o chefe da promotoria na série Lei & Ordem. Desta vez a suas gravações não duravam até a sexta-feira...
Anos mais tarde, Steven Hill ficou famoso novamente ao interpretar, por dez anos, o chefe da promotoria na série Lei & Ordem. Desta vez a suas gravações não duravam até a sexta-feira...
Para o papel do especialista em eletrônica Barney Collier, presidente da Collier eletronics, foi escolhido o ator Greg Morris. Greg era um ator já conhecido na tevê, com várias passagens em seriados diversos. Barney criava todos os equipamentos do Grupo MI e era especialista em quase tudo o que necessitava de tecnologia.
A participação do personagem de Barney foi decisiva e muito do suspense da série é creditado a ele. Greg participou de todas as temporadas de "Missão", e mais tarde conseguiu participar de uma outra série de sucesso, Vegas.
Greg faleceu em 1996, de um tipo raro de câncer.
Para o papel do mestre dos disfarces, Rolling Hand foi chamado Martin Landau. Martin era um ator coadjuvante de cinema, vindo do Actors Studio, e que havia trabalhado com diretores como Alfred Hitchcock. Viu em "Missão" uma grande oportunidade de expressar o seu talento. Não sabemos muito do passado de seu personagem, além de que foi um mágico famoso, especialista em disfarces e também em dialetos.
Para o papel do mestre dos disfarces, Rolling Hand foi chamado Martin Landau. Martin era um ator coadjuvante de cinema, vindo do Actors Studio, e que havia trabalhado com diretores como Alfred Hitchcock. Viu em "Missão" uma grande oportunidade de expressar o seu talento. Não sabemos muito do passado de seu personagem, além de que foi um mágico famoso, especialista em disfarces e também em dialetos.
Seu personagem criou um dos mitos de Missão: Impossível. Através da criação de mascaras de látex, Rolling Hand conseguia se passar por qualquer personagem da série, inclusive imitando suas vozes. Mesmo com este argumento simplista, algumas vezes meio impossível (!), rendeu excelentes episódios. Martin só permaneceu três temporadas em "Missão", mas a sua carreira cresceu muito depois disto, conseguindo um Oscar de Ator Coadjuvante pelo papel de Bela Lugosi em "Ed Wood". Martin continua ativo no cinema até hoje.
Bruce Geller criou uma agente sexy, atraente e também uma espiã astuta, como foi a famosa Mata Hari. Várias atrizes foram chamadas para o teste da personagem, onde Lucille Ball aprovou a atriz Barbara Bain, que assim como sua personagem, era modelo profissional.
Barbara conheceu Martin Landau - seu futuro marido - em 1955, na famosa escola de atores Actors Studio. Casaram-se em 1957 e em 1965, Barbara já era bem requisitada na tevê e no teatro. O casal tinha uma química tão grande que fizeram enorme sucesso juntos. Barbara chegou a ganhar três Emmy por suas participações em "Missão". Permaneceram casados ate 1993.
Em Missão: Impossível, Barbara viveu a personagem Cinnamon Carter, uma modelo profissional que fazia o contraponto erótico necessário na série. Na primeira participação, sua personagem aparece de toalha, mostrando que além de ser excelente atriz, tinha um belo corpo.
Em outros episódios, Cinnamon mostrou que tinha outros atributos alem de ser sexy e atraente: uma verdadeira espiã. No episódio do primeiro ano "A Spool There Was", os agentes Rolling e Cinnamon mostraram que eram mais do que colegas de trabalho. Barbara permaneceu junto com seu marido Martin apenas por três temporadas de Missão: Impossível. O casal ainda atuou junto na série Espaço 1999, na Inglaterra. Hoje Barbara está semi-aposentada e faz aparições esporádicas na tevê e no cinema.
Em outros episódios, Cinnamon mostrou que tinha outros atributos alem de ser sexy e atraente: uma verdadeira espiã. No episódio do primeiro ano "A Spool There Was", os agentes Rolling e Cinnamon mostraram que eram mais do que colegas de trabalho. Barbara permaneceu junto com seu marido Martin apenas por três temporadas de Missão: Impossível. O casal ainda atuou junto na série Espaço 1999, na Inglaterra. Hoje Barbara está semi-aposentada e faz aparições esporádicas na tevê e no cinema.
O último da lista é o fisiculturista Peter Lupus, no papel de Willy Armitrage, o faz-tudo da série. Peter também foi ator de alguns filmes de praia com a atriz Anette Funicello e Frankie Avalon, no começo dos anos 60. Peter ficou mais conhecido pelo seu trabalho como fisiculturista e possui uma academia com sua esposa até hoje.
Como em todo roteiro de "Missão", cada personagem tem uma tarefa definida. A de Willy era de carregar caixas, trocar lâmpadas e tudo o que fosse necessário para o cumprimento da missão. Uma característica de seu personagem era de falar pouco, quase nada. De tanto reclamar, os produtores deram uma chance a ele em alguns episódios, onde Willy salvou o dia. Sem sua presença, a missão estaria seriamente comprometida. Lupus ainda faz algumas participações esporádicas no cinema.
O piloto e as Marcas Registradas da Série
Definido o elenco, Bruce estabeleceu as características da série.
Definido o elenco, Bruce estabeleceu as características da série.
Abertura
A Desilu chamou o iraniano Reza Badiyi, especialista na criação de aberturas de séries de tevê e caracteres. Reza também acabou virando diretor de vários episódios de "Missão". Anos mais tarde, ele criou o que muitos consideram a melhor abertura de seriados de tevê: Hawaii 5-0.
Cena da abertura da série, criada pelo iraniano Reza Badiyi: a mão é do ator Greg Morris.
A abertura começa com uma mão (que era do ator Greg Morris) acendendo um pavio (foto ao lado), que enquanto queima, aparecem as cenas do episódio que será exibido, com o tema musical ao fundo.
Música
A Desilu chamou o argentino Boris "Lalo" Schifrin para compor a trilha de Missão: Impossível. Lalo já era compositor famoso no cinema e na tevê, e conseguiu ainda mais sucesso com este tema, que se tornou imortal.
Lalo ainda compôs vários temas de seus personagens e, em 1968, foram lançados dois discos em vinil: "Mission: Impossible" e "More Mission". Estes dois LPs foram compilados no CD "The Best of Mission: Impossible", já lançado aqui no Brasil.
Geller e Schifrin se reuniram mais uma vez em 1968, para compor a trilha de uma outra série de sucesso: Mannix.
Além de tilhas sonoras, Lalo Schifrin também compõe Jazz e já ganhou vários prêmios Grammy.
Além de tilhas sonoras, Lalo Schifrin também compõe Jazz e já ganhou vários prêmios Grammy.
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