quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Verdade Nua e Crua, A


































Existe uma máxima de que as mulheres são sentimentais, enquanto os homens são carnais. Mito ou não, esta guerra dos sexos já foi levada aos cinemas diversas vezes e é o tema de mais uma comédia, que ganha pontos pelo carisma de seus protagonistas.




Os créditos iniciais, conduzidos pela música "Hot N' Cold", da cantora pop Katy Perry, indicam que o "A Verdade Nua e Crua" vem para questionar o que os homens e as mulheres querem um do outro. O coração das mulheres está na cabeça, enquanto o dos homens está mais embaixo. A música indica que os altos e baixos de qualquer relação sempre existem pela mudança de pensamento, comportamento e vontade dos relacionados. Cada casal está em uma constante busca de se compreender, mas os jeitos de ambos acabam exigindo algumas entregas e tolerâncias para que um relacionamento dê certo. Então hoje em dia não tem mais como estabelecer que a guerra entre os sexos se resuma a quem tem mais sentimento e quem pensa mais em sexo. A guerra dos sexos está no desafio em manter uma relação saudável que evolua de forma adequada para as duas pessoas.




O roteiro de Nicole Eastman, Kirsten Smith e Karen McCullah Lutz dispõe de conceitos antigos sobre relacionamentos. A produtora de televisão Abby Richter (Katherine Heigl) não faz sexo há muito tempo porque não consegue ter um encontro amoroso decente, justamente por ter uma lista de dez qualidades que um homem deve possuir para que ela possa se relacionar. Um dia, ela assiste ao programa televisivo de Mike Chadway (Gerard Butler), um canastrão machista que dá dicas de como funciona a cabeça dos homens. Logo depois, eles começam a trabalhar juntos. Como não se aturam, eles fazem um pacto: Mike ajuda Abby a conquistar o galã Colin (Eric Winter), enquanto Abby produz com boa vontade os programas de Mike. Nesse meio tempo, eles descobrem que as regras do amor e da atração não são tão simples assim.





Aí está o primeiro erro do roteiro. Ditar regras em um relacionamento é uma conclusão que certamente quem já teve uma relação séria sabe que não tem como acontecer. Os melhores filmes de relacionamento são aqueles que, mesmo insinuando uma disputa entre os sexos, os egos e as tendências, usam de boa argumentação, não somente de situações típicas e caricatas. Entre os exemplos de experiências bem desenvolvidas estão "Closer - Perto Demais" e "2 Dias em Paris", que discutem a estrutura dos relacionamentos sem ditar o que é certo e errado. Em "A Verdade Nua e Crua", Mike até fala algumas verdades sobre o universo masculino, mas ele não se comporta como se existissem exceções. Ainda, a personagem de Abby, que é vista como o lado romântico da trama, logo passa a aceitar as canastrices de Mike, como se ele fosse o dono da verdade e isso fosse inquestionável.



Temáticas que correm dessa forma já foram desenvolvidas antes e o desafio é trazer novos elementos para diferenciá-las. No caso de "A Verdade Nua e Crua", tais elementos são as tentativas de piadas um pouco mais pesadas, mas que, no final, acabam não tendo valor algum. Dessa forma, os clichês acontecem aos montes: eles se detestam, passam a conviver juntos, fazem um pacto para, no final, se renderem à paixão. A trama acaba funcionando em partes devido ao carisma de Katherine Heigl e Gerard Butler, mesmo com seus personagens estereotipados. A dupla oscila entre uma química boa e ruim do começo a fim da projeção, o que acaba alimentando os personagens com uma maior naturalidade por se encaixar na ideia do roteiro. Além de bela, Heigl traz uma mulher um tanto quanto neurótica, enquanto Butler faz o tipo de que enxerga as coisas com maior frieza, e muitas vezes verdade, devido aos relacionamentos de sua vida que já fracasaram.




Assim, o longa caminha sem muita novidade no gênero, mas ainda traz alguns momentos cômicos, que acontecem mais em alguns diálogos do que em piadas físicas. Os personagens coadjuvantes não possuem tanto espaço para desempenharem bons papéis, como Cheryl Hines e John Michael Higgins, que interpretam um casal de âncoras da tevê que são mal aproveitados e poderiam servir como contraponto para interferir na relação dos protagonistas. O diretor Robert Luketic não amarra bem o que possui em mãos para trazer um diferencial ao filme, fazendo o básico no cargo e, muitas vezes, tendo um olhar pouco apurado às sequências. A trilha sonora, um dos pontos fortes de comédias românticas, traz hits atuais que deixam o longa atrativo.



"A Verdade Nua e Crua" é mais uma comédia sem diferenciais, a não ser por seus protagonistas. Heigl e Butler se tornaram dois queridinhos não só pela beleza, mas também pelo talento. Ainda assim, o longa continua se baseando em regras amorosas ultrapassadas, registrando que, se fosse lançado há uns dez anos, seria melhor recebido pelo público. Ao final da sessão, o máximo que a película pode gerar é discussão cômica entre os casais que assistiram juntos à exibição. Uma comédia que apenas entretém.

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