Vinte e quatro anos depois de lançar seu último longa-metragem, “Eu Sei que Vou te Amar” – que deu a Fernanda Torres a Palma de Ouro de Melhor Atriz no Festival de Cannes e levou 4,5 milhões de pessoas aos cinemas – Arnaldo Jabor faz as pazes com seu ofício original ao lançar “A Suprema Felicidade” (veja o trailer). O longa, que narra as descobertas de Paulo entre os 8 e os 18 anos no Rio de Janeiro do pós-guerra, abriu o Festival do Rio no último dia 23 e tem estreia prevista para 29 de outubro. Comandando um elenco de peso, que inclui Dan Stulbach, Marco Nanini, Mariana Lima, Maria Flor, Elke Maravilha, Ary Fontoura, João Miguel e Emiliano Queiroz, Jabor conta o que o manteve afastado do cinema durante tanto tempo e o que o fez voltar aos sets.
Nem o grande sucesso de “Eu Sei que Vou te Amar” (1986), seu último filme, impediu que você parasse de filmar por conta da dificuldade de captação e do baixo retorno financeiro do cinema no Brasil. O que mudou no setor 24 anos depois?
Parei de filmar em 90 porque era impossível uma profissão que só gerava angústia e frustração. A equação não fechava mais. Tudo melhorou com a Lei do Audiovisual que Fernando Henrique Cardoso fez, o que permitiu a retomada com a obra-prima de Carla Camuratti, “Carlota Joaquina”. Hoje melhorou a tecnologia, mas os preços subiram muito. Os filmes ficaram muito caros, mas a qualidade é internacional.
Você diz que o cinema é muito frustrante porque o cineasta passa anos fazendo um filme que, ao ser lançado, pode fracassar. Por que então voltar a filmar?
Voltei a filmar porque não dependo mais do cinema para comer. Trabalho como jornalista em rádio, TV e jornais. Isso me permitiu fazer um filme pelo puro prazer de criar arte. Arte, essa palavra tão esquecida. Cinema, para mim, tem de ser poesia e arte. O resto é fábrica de salsichas para manipular plateias.
Quais são as diferenças entre o cineasta das décadas de 70 e 80 para este que o público reencontrará agora?
Na década de 70, havia mais clareza de objetivos ideológicos. Agora, ninguém sabe o que vai acontecer ao Brasil e ao mundo. Nem sabíamos antes, mas havia a ilusão de que sabíamos. Hoje, eu fiz um filme sobre as coisas que vivi porque é ridículo ficar deitando regra sobre um mundo que não existe. O público de hoje está muito viciado no mundo do clipe e do videogame. Os planos dos filmes não duram mais do que três segundos. A indústria não quer perder mais tempo nem com os enredos. Bastam as porradas, efeitos e música violenta.
Você diz que comentar a política brasileira diariamente faz mal à alma, mas que a sensação de estar prestando um serviço ao público é muito boa. Você acredita que poderia prestar o mesmo serviço através do cinema, talvez até de forma mais leve?
Cinema é arte. A arte deve ser exaltante. Deve celebrar o mistério e a vida. O jornalismo político demanda crítica e visão dos erros, e, ao contrário da arte, deve tirar o mistério dos fatos.
Muitos de seus filmes retratam experiências suas e o período do pós-guerra, no qual “A Suprema Felicidade” se passa, é exatamente aquele em que você passou a infância e a adolescência. Até que ponto o filme é autobiográfico?
Você tem nostalgia dessa época?
O filme não é autobiográfico no sentido realista. Nem “de época”. Passa-se no tempo em que eu era adolescente e o que tem de biográfico é inconsciente. Eu diria que é um filme de vivências pessoais. Digo, como Felllini, que a única objetividade que conheço é a subjetividade.
http://paginadocinema.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário