De forma extremamente técnica, Paul Greengrass nos apresenta uma emblemática farsa americana mediante a ameaça de armas químicas no Iraque.
O diretor Paul Greengrass possui uma linguagem única. Faz de seus filmes verdadeiros conglomerados de informações e situações que mais parecem documentários reais do que uma obras de ficção. Isso se deve aos seus 10 anos de coberturas de conflitos globais para o canal inglês ITV, onde viu de perto países devastados pela guerra, ganhando assim experiência com histórias carregadas de realidade.
Em “Zona Verde”, ele volta a usar o ficcional com o pé na realidade e nos apresenta esta interessante história que acompanha os primeiros trabalhos de buscas das tais “armas químicas do Iraque” que tanto ouvimos falar. Como ponte para os fatos temos o subtenente Roy Miller (Matt Damon), que em 2003 lidera uma das equipes encarregadas de achar os esconderijos das armas de Saddam Husseim. Com uma aparente farsa em suas mãos, o soldado se vê entre a cruz e a espada, e acaba entrando de cabeça em uma investigação muito mais instintiva do que planejada. Miller quer fazer a diferença e tem o talento e os contatos necessários para isso. Sem entregar muita coisa, posso afirmar que as reviravoltas e a adrenalina insana são os pontos altos desta trama.
O roteiro é de Brian Helgeland, que já escreveu os ótimos “Sobre Meninos e Lobos” e “Los Angeles – Cidade Proibida”. Juntamente com Greengrass, analisou as ideias inicias para o longa, até o diretor ler livro de não ficção de Rajiv Chandrasekaram, que se chama “A Vida Imperial na Cidade Esmeralda”, se tornando assim a inspiração final para o filme. Chandrasekaram era ex-chefe da sucursal do Washington Post de Bagdá e tinha uma visão privilegiada dos acontecimentos da época.
Como todo filme dirigido pelo britânico, a câmera frenética e as cenas muito bem elaboradas são sua marca registrada. O tom documental se encaixa perfeitamente ao ritmo da trama, que possui diversos núcleos, todos muito bem fundamentados, com informações que fervilham a todo instante. Como em sua bem sucedida participação na franquia “Bourne”, ou mesmo em sua obra prima “Domingo Sangrento”, em nenhum momento nos sentimos perdidos em meio aos acontecimentos, por mais complexos que eles sejam, o que demonstra a capacidade genial do diretor de apresentar temas profundos de uma forma diferenciada e com muita coesão.
É interessante analisar que o contexto apresentado em “Zona Verde” nos direciona ao primeiro contato contundente do exército americano com a população iraquiana. Tudo é feito com tanta naturalidade, que podemos chegar perto de vislumbrar a realidade do que foi esta verdadeira “invasão” por assim dizer. As diferenças de costumes aliada à falta de entendimento nas informações e no modus operandi dos americanos revelam todo o real perigo envolvido em uma ocupação estrangeira. Mulheres que buscam informações de seus maridos após um tiroteio ou mesmo um iraquiano que apenas dirige a palavra a um fuzileiro e tem sua cara “Esfregada no chão” (como ele próprio diz) nos dá essa dimensão.
O time de atores está muito bem escalado, com Matt Damon encabeçando novamente o papel principal em uma obra de Greengrass. Seu Roy Miller é aquele soldado especial que busca a verdade e acredita estar fazendo sempre a coisa certa, mesmo que sua ingenuidade (típica do povo americano) muitas vezes o deixe sem respostas. Claramente disposto a encontrar os culpados em meio a todo o jogo de cena que criaram em volta do evento “armas químicas”, podemos perceber o amadurecimento quase obrigatório de seu personagem que, mediante o tamanho engodo, consegue então enxergar o quão longe uma atitude errada de seu governo pode ir.
Como vilão da história temos Greg Kinnear (em excelente atuação) na pele do agente da inteligência Clark Poundstone, líder daquela operação. O ator entrega humanidade para este inimigo de Miller, misturando muito bem ansiedade, medo e aquele sentimento de “Já que tudo está errado, vamos errar mais ainda”. Em um lado oposto está o ator Brendam Gleeson como o agente mocinho da CIA Martin Brown. Sendo uma novidade nos filmes de Greengrass alguém da CIA não ser o vilão, Brown é o elo forte que mantém Miller em suas investigações. Gleenson não está na melhor de suas atuações e por vezes exagera em certos cacoetes, mas no geral seu personagem é consistente o bastante para se posicionar sempre em um local neutro da trama, não revelando por completo suas reais intenções, mérito obviamente do roteiro muito bem elaborado. Esta divisão entre departamentos nos EUA, apesar de comum, é muito bem explorada no filme, demonstrando como é sempre tudo é um jogo de quem tem mais poder.
Entre os coadjuvantes está Amy Ryan interpretando a repórter Lawrie Dayne, do Wall Street Journal, que é peça chave na trama, devido a seus textos bombásticos sobre as possíveis armas químicas no Iraque. Suas fontes são com certeza os motivos da guerra, assim como suas matérias. Temos também o iraquiano Freddy (uma abreviação americanizada que o próprio personagem oferece), vivido por Khalid Abdalla, que já trabalhou com o diretor em “Vôo United 93” e participou também da famosa adaptação de “O Caçador de Pipas”, de Marc Forster. Finalizando, Jason Isaacs, o eterno Lucius Malfoy da franquia “Harry Potter”, faz o truculento Sargento Briggs, e o ator Yigal Naor interpreta o General “Ás de Paus” Al Rawi.
“Zona Verde” é uma aula de cinema. Ação, tensão, trama elaborada, tudo trabalhado de forma muito eficiente pelo diretor Paul Greengrass. Com um final inusitado para alguns e possivelmente improvável para outros, o diretor claramente utiliza um simbolismo universal, mostrando que o alimento da guerra é principalmente a confusão na mente daqueles que estão envolvidos nela. Mesmo sem responder a pergunta “por que algo tão absurdo tinha que acontecer?”, podemos afirmar que quaisquer fossem os motivos, nada seria justificado, mesmo que esta resposta jorre nos deserto daquele continente por mais 100 anos e que a indústria armamentista americana continue lucrando alto com sua guerra.
O diretor Paul Greengrass possui uma linguagem única. Faz de seus filmes verdadeiros conglomerados de informações e situações que mais parecem documentários reais do que uma obras de ficção. Isso se deve aos seus 10 anos de coberturas de conflitos globais para o canal inglês ITV, onde viu de perto países devastados pela guerra, ganhando assim experiência com histórias carregadas de realidade.
Em “Zona Verde”, ele volta a usar o ficcional com o pé na realidade e nos apresenta esta interessante história que acompanha os primeiros trabalhos de buscas das tais “armas químicas do Iraque” que tanto ouvimos falar. Como ponte para os fatos temos o subtenente Roy Miller (Matt Damon), que em 2003 lidera uma das equipes encarregadas de achar os esconderijos das armas de Saddam Husseim. Com uma aparente farsa em suas mãos, o soldado se vê entre a cruz e a espada, e acaba entrando de cabeça em uma investigação muito mais instintiva do que planejada. Miller quer fazer a diferença e tem o talento e os contatos necessários para isso. Sem entregar muita coisa, posso afirmar que as reviravoltas e a adrenalina insana são os pontos altos desta trama.
O roteiro é de Brian Helgeland, que já escreveu os ótimos “Sobre Meninos e Lobos” e “Los Angeles – Cidade Proibida”. Juntamente com Greengrass, analisou as ideias inicias para o longa, até o diretor ler livro de não ficção de Rajiv Chandrasekaram, que se chama “A Vida Imperial na Cidade Esmeralda”, se tornando assim a inspiração final para o filme. Chandrasekaram era ex-chefe da sucursal do Washington Post de Bagdá e tinha uma visão privilegiada dos acontecimentos da época.
Como todo filme dirigido pelo britânico, a câmera frenética e as cenas muito bem elaboradas são sua marca registrada. O tom documental se encaixa perfeitamente ao ritmo da trama, que possui diversos núcleos, todos muito bem fundamentados, com informações que fervilham a todo instante. Como em sua bem sucedida participação na franquia “Bourne”, ou mesmo em sua obra prima “Domingo Sangrento”, em nenhum momento nos sentimos perdidos em meio aos acontecimentos, por mais complexos que eles sejam, o que demonstra a capacidade genial do diretor de apresentar temas profundos de uma forma diferenciada e com muita coesão.
É interessante analisar que o contexto apresentado em “Zona Verde” nos direciona ao primeiro contato contundente do exército americano com a população iraquiana. Tudo é feito com tanta naturalidade, que podemos chegar perto de vislumbrar a realidade do que foi esta verdadeira “invasão” por assim dizer. As diferenças de costumes aliada à falta de entendimento nas informações e no modus operandi dos americanos revelam todo o real perigo envolvido em uma ocupação estrangeira. Mulheres que buscam informações de seus maridos após um tiroteio ou mesmo um iraquiano que apenas dirige a palavra a um fuzileiro e tem sua cara “Esfregada no chão” (como ele próprio diz) nos dá essa dimensão.
O time de atores está muito bem escalado, com Matt Damon encabeçando novamente o papel principal em uma obra de Greengrass. Seu Roy Miller é aquele soldado especial que busca a verdade e acredita estar fazendo sempre a coisa certa, mesmo que sua ingenuidade (típica do povo americano) muitas vezes o deixe sem respostas. Claramente disposto a encontrar os culpados em meio a todo o jogo de cena que criaram em volta do evento “armas químicas”, podemos perceber o amadurecimento quase obrigatório de seu personagem que, mediante o tamanho engodo, consegue então enxergar o quão longe uma atitude errada de seu governo pode ir.
Como vilão da história temos Greg Kinnear (em excelente atuação) na pele do agente da inteligência Clark Poundstone, líder daquela operação. O ator entrega humanidade para este inimigo de Miller, misturando muito bem ansiedade, medo e aquele sentimento de “Já que tudo está errado, vamos errar mais ainda”. Em um lado oposto está o ator Brendam Gleeson como o agente mocinho da CIA Martin Brown. Sendo uma novidade nos filmes de Greengrass alguém da CIA não ser o vilão, Brown é o elo forte que mantém Miller em suas investigações. Gleenson não está na melhor de suas atuações e por vezes exagera em certos cacoetes, mas no geral seu personagem é consistente o bastante para se posicionar sempre em um local neutro da trama, não revelando por completo suas reais intenções, mérito obviamente do roteiro muito bem elaborado. Esta divisão entre departamentos nos EUA, apesar de comum, é muito bem explorada no filme, demonstrando como é sempre tudo é um jogo de quem tem mais poder.
Entre os coadjuvantes está Amy Ryan interpretando a repórter Lawrie Dayne, do Wall Street Journal, que é peça chave na trama, devido a seus textos bombásticos sobre as possíveis armas químicas no Iraque. Suas fontes são com certeza os motivos da guerra, assim como suas matérias. Temos também o iraquiano Freddy (uma abreviação americanizada que o próprio personagem oferece), vivido por Khalid Abdalla, que já trabalhou com o diretor em “Vôo United 93” e participou também da famosa adaptação de “O Caçador de Pipas”, de Marc Forster. Finalizando, Jason Isaacs, o eterno Lucius Malfoy da franquia “Harry Potter”, faz o truculento Sargento Briggs, e o ator Yigal Naor interpreta o General “Ás de Paus” Al Rawi.
“Zona Verde” é uma aula de cinema. Ação, tensão, trama elaborada, tudo trabalhado de forma muito eficiente pelo diretor Paul Greengrass. Com um final inusitado para alguns e possivelmente improvável para outros, o diretor claramente utiliza um simbolismo universal, mostrando que o alimento da guerra é principalmente a confusão na mente daqueles que estão envolvidos nela. Mesmo sem responder a pergunta “por que algo tão absurdo tinha que acontecer?”, podemos afirmar que quaisquer fossem os motivos, nada seria justificado, mesmo que esta resposta jorre nos deserto daquele continente por mais 100 anos e que a indústria armamentista americana continue lucrando alto com sua guerra.
Ronaldo D`Arcadia
cinemacomrapadura.com.br
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