Os quadrinhos franco-belgas, campeões de vendas em seu mercado literário, ainda permanecem, salvo algumas exceções, ilustres desconhecidos no Brasil. Fora Tintim, Luke Luke, Asterix e algumas tentativas esporádicas de se trazer a produção europeia pra cá, o nosso mercado segue mesmo dedicado aos heróis norte-americanos e mangás orientais. Assim, é com surpresa que foi recebida a notícia do lançamento nos cinemas brasileiros de Les Aventures extraordinaires d'Adèle Blanc-Sec, adaptação das histórias em quadrinhos de Jacques Tardi para as telonas.
A mistura feminina do citado Tintim com Indiana Jones é estrelada por Louise Bourgoin, que interpreta a intrépida repórter Adèle Blanc-Sec, heroína da série em nove volumes publicados de 1976 a 2007. Ela é o tipo de personagem forte e ao mesmo tempo sexy que o cineasta Luc Besson, que adaptou o álbum e dirigiu o filme, aprecia.
Na trama, Adèle, depois de várias aventuras arqueológicas, parte em uma missão pessoal: encontrar a tumba de um médico egípcio. Sua intenção é ressuscitá-lo para, com seus poderes curativos, salvar sua irmã catatônica. Enquanto isso, na Paris do início do século XX, um pterodátilo de 136 milhões de anos, sai de um ovo que estava no museu de história natural e passa a assombrar a cidade... e cabe também a Adèle a missão de parar a criatura. Está tudo relacionado, afinal.
O nível técnico da produção de Besson é inegável. A recriação da Paris de 100 anos atrás é impecável, assim como os efeitos especiais do longa. Espere só para ver o estilo das múmias criadas para o filme... são diferentes de tudo o que já foi feito até aqui e muito divertidas. O diretor, sabiamente, também retoma a parceria com o diretor de fotografia Thierry Arbogast, com quem realizou filmes como O Profissional (1994), O Quinto Elemento (1997), Nikita - Criada Para Matar (1990) e Joana d'Arc (1999), garantindo a qualidade estética da fantasia de época.
O problema do filme é o tempo do humor, caricato demais, às vezes gratuito (a piada com excrementos de pterodátilo poderia ser evitada) e que geralmente exige uma dispensável narração em busca de algumas risadas. Besson já foi melhor diretor de atores. Agora parece sempre desequilibrado no sentido dos efeitos especiais e técnicos. O excesso de personagens com pouco - ou nada - a fazer nas telas também incomoda. Parece que Besson empolgou-se com as HQs e tentou transportar para as telas o máximo de referências possível, esquecendo-se de dar a esses personagens relevância na trama. Há também um outro grande problema, mas esse totalmente localizado: a expectativa criada pelo título nacional. As Múmias do Faraó não poderia estar mais distante da premissa original - As Aventuras Extraordinárias de Adèle Blanc-Sec, já que tais criaturas sobrenaturais demoram mais da metade da produção para aparecer.
Ao menos a história é contada de maneira menos convencional que o habitual. Besson não tem pressa para revelar os por quês das aventuras de Adèle e relacionar todos os acontecimentos. As respostas, quando chegam, são satisfatórias. E tem aquela piadinha final, do Louvre, que é ótima (as múmias realmente são o ponto alto do filme... só não deveriam estar no título).
Érico Borgo
28 de Outubro de 2010 5
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