Deus, Sexo & Katy
Como a filha de um pastor apocalíptico se tornou a estrela pop mais sexy do momento
Há alguns dias, Katy Perry estava procurando por seu próprio nome no Google. "Qualquer artista que diz que não faz isso é um baita mentiroso", afirma. Katy é astuta com relação à sua imagem online, com 3.979.330 seguidores no Twitter e uma longa amizade com o blogueiro-celebridade Perez Hilton. Ela está ligada no laptop em seu escritório - não tem nenhum outro computador, nem mesmo em casa, um triplex no bairro de Los Feliz, em Los Angeles, que limpa obsessivamente - quando nota vários sites de fofoca dizendo que ela chamou de "Britney Spears de novo" o visual da cantora Miley Cyrus na cerimônia do MuchMusic Awards, no Canadá. "É pior do que isso. Olha para essa roupa, é horrível."
Só que Katy não falou nada disso - pelo menos não era para ninguém ter ouvido. Isso exigiu uma ação imediata. Rapidamente, postou no Twitter: "Nunca falei merda sobre minha amiga Miley. Amo aquela vadia". Ela explica: "Quando você vê o Twitter de outras celebridades e elas escrevem que leem sobre si mesmas, é aquela coisa: 'Bem, talvez seja melhor você parar de dar um Google em si mesmo todo dia, o mundo não gira à sua volta'".
Mas Katy é viciada em atenção, assim como seu noivo, o ator Russell Brand, era em injetar heroína (e agora é em atenção), então ela achou toda essa interação profundamente interessante. Não só centenas de sites de fofoca noticiaram seu comentário no Twitter, como também ela conseguiu chamar publicamente Miley Cyrus, de 17 anos, de "vadia".
Na verdade, em uma manhã em Santa Barbara, sua cidade natal, há muitos momentos como esse, enquanto Katy leva um copo de café gelado para baixo e para cima, grita como um papagaio boca-suja e fala que seu nome de estrela pornô seria "Peaches Mountain", porque é o nome de seu primeiro cachorro e da primeira rua onde morou. Está usando uma roupa extravagante que chama de "uniforme de drag queen": um sapato Louboutin salto cinco com estampa de leopardo, um vestido roxo tão justo que não dá para usar lingerie por baixo e jóias dignas de uma noite do Oscar, incluindo um anel de noivado com a frase "the one that I've been waiting for" [aquela por quem estava esperando], gravada na parte interna. Uma equipe internacional de filmagem a está seguindo hoje para uma matéria sobre bairros de celebridades e, enquanto checa o áudio, o diretor inclina-se para dar dicas sobre como aparecer na câmera - embora Katy claramente não precise delas. "Converse com a câmera como uma amiga", diz, com o rosto concentrado e tenso. "Não a melhor amiga, mas uma amiga."
Katy inclina a cabeça. "Como uma amiga do Facebook?", ela indaga. "Alguém cujo perfil você vê de vez em quando, mas com quem nunca transa?"
O dia transcorre inteiro assim, com Katy dizendo frases de filmes ruins e gritando "oi" a um pedestre curioso enquanto fala sobre sua adolescência, a qual passou surfando, andando de skate, indo para a igreja e realizando bazares na frente de casa. Fala sobre entrar de penetra em um show do Radiohead quando estava no colégio, ensaia um "giro de Mulher Maravilha" e dá algumas informações sobre sua visão positiva da vida: "Não importa quem alguém seja ou qual sua reputação na mídia. Eu tento dar o benefício da dúvida, e cabe a essa pessoa estragar tudo". Entre as cenas, ela é a mais amigável possível, improvisando com a equipe de filmagem e tricotando com as produtoras, mas, mesmo durante este tipo de papo casual, ela não consegue evitar - Katy precisa de sua dose de atenção.
"Uma vez, pintei meu cabelo de loiro tipo o [filme estrelado por Madonna] Quem É Essa Garota? e ficou um horror", ela conta, rindo. "Preto simplesmente faz sentido para mim. Meu tom natural é tipo..." Katy olha ao redor, mas não vê ninguém com a mesma cor de cabelo, então começa a levanter a saia. "Dá para ver aqui!"
Felizmente, ela abaixa a saia antes de levantá-la totalmente. Mas, por um segundo, não houve dúvida de que faria isso.
Há alguns anos, parecia que Katy Perry seria uma moda passageira, com franja, sutiãs dos anos 50 e músicas comerciais sobre beijar uma garota, acordar de ressaca em Las Vegas e rapazes que não se decidem. Só que, em algum ponto no meio do caminho, ela descobriu uma forma de prender a atenção do mundo - mesmo que isso signifique espirrar chantili dos seios. No fim de agosto, ela lançou Teenage Dream, um consistente segundo disco com músicas românticas, dançáveis e cheias de reclamações sobre caras que já a fizeram se sentir mal no passado. "O disco veio muito fácil, em seis meses", conta. Além disso, o primeiro single, "California Gurls", uma música bobinha com a participação bizarra de Snoop Dogg, se tornou um dos hinos do verão norte-americano. "Ok, 'California Gurls' não é genial", ela admite. "Não é minha obra-prima, mas é contagiante pra caramba."
Assim é Katy Perry, sempre tentando divertir e entreter, mas, depois de passar alguns dias com ela, sua insolência começa a desaparecer. No fundo, é uma boa garota. Teve poucos namorados, diz que sexo casual lhe "dá nojo" e quase não bebe ou experimenta drogas. "Comi cogumelos uma vez quando estava vestida de robô em um show do Daft Punk e depois tive de entrar no chuveiro de roupa e tudo", ela diz.
Na verdade, embora alguns possam considerar sua música um pop meramente processado, para ela é a arte mais ousada e perigosa que consegue fazer. Diferentemente de algumas estrelas pop, Katy não está vendendo uma falsa rebelião fabricada existente em uma esfera separada de suas esperanças e desejos reais, enterrados a serviço de uma imagem de marketing. Talvez não haja ninguém, além das adolescentes - o grupo de fãs que ela parece mais interessada em atingir - que ache a música de Katy Perry mais radical do que ela mesma.
Isso acontece porque Katy Perry adotou uma versão de feminilidade mais inocente do que qualquer outra estrela pop, exceto Taylor Swift. Seu trabalho é sobre a busca do amor verdadeiro e os erros no meio do caminho, mesmo jogando a palavra "pau" ou "pênis" aqui e ali. Na verdade, quando lançou seu primeiro sucesso, "I Kissed a Girl", ficou tão nervosa sobre confessar que havia beijado uma garota que jurou depois nunca ter feito isso. "Havia uma garota que era minha melhor amiga aos 15 anos, e eu era obcecada por ela. A menina tinha as roupas mais legais e era tão culta e estilosa. Ficava olhando ela passar protetor naqueles lábios maravilhosos. Acho que tive um negócio por ela."
Você lê esta matéria na íntegra na edição 49, outubro/2010
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