sexta-feira, 19 de novembro de 2010

SÃO PAUL

McCartney, em julho de 1968, e seus colegas de trabalho na última fase dos Beatles: Yoko Ono e John Lennon






Sir McCartney é um santo: desde os anos 60, ele apanha e dá a outra face; foi assim com Lennon, Yoko Ono, Michael Jackson e com sua ex-mulher



Paul McCartney tem 68 anos e, há meio século, ele é o maior astro pop do mundo.

Mas, apesar de toda a pressão da fama e dos conflitos, raramente se viu McCartney perdendo a esportiva. Ninguém é Sir à toa.

Philip Norman, autor de "Shout", uma das melhores biografias dos Beatles, descreve assim a personalidade de McCartney: "Paul, embora tão individualista quanto John, não possuía nada da rebeldia temerária deste. Tinha uma aversão profunda a toda agressão e confrontação aberta, preferindo dobrar os outros à sua vontade usando a simpatia, a diplomacia e a inocência por vezes enganosa de seus grandes olhos castanhos".



JOHN & YOKO

O momento mais marcante no processo de ruptura dos Beatles foi o romance entre John Lennon e Yoko Ono. No fim dos anos 60, Lennon passou a levar Yoko para o estúdio durante as gravações da banda. "O mais inacreditável era que, ao final de cada tomada de gravação, era para Yoko, não para Paul ou George Martin (produtor), que ele se voltava em busca de um comentário", escreveu Philip Norman.

Apesar dessa interferência rude no trabalho da banda, Paul tentou ser diplomático. Diferentemente de George Harrison, que insultou Yoko, acusando-a de "transmitir vibrações negativas". Lennon acusou McCartney de escrever "Get Back" para Yoko: "Toda vez que ele cantava "Volte para o lugar de onde você veio", ele olhava para Yoko".

Depois do fim dos Beatles, Lennon não perdeu uma chance de achincalhar McCartney. Em 1971, lançou a rancorosa faixa "How Do You Sleep?" ("Como você dorme?"), um ataque direto a Paul, em que dizia: "Um rostinho bonito dura um ano ou dois" e "a única coisa que você fez foi "Yesterday'".

Dois anos depois dessa briga pública, Lennon estava separado de Yoko e passando por um período difícil, afundado em álcool e drogas. E quem saiu em socorro do ex-parceiro e ajudou o casal a se reconciliar?

"Eu quero que o mundo saiba que foi uma coisa muito tocante o que Paul fez por John", disse Yoko. "Ele ouviu boatos de que John estava com problemas e ficou genuinamente preocupado com seu velho parceiro. John sempre dizia que não entendia por que Paul tinha feito isso por nós, mas ele fez."

A admiração de Yoko por Paul, entretanto, não durou muito. Certa vez, comparou Lennon a Mozart e McCartney a Salieri, o rival menos talentoso de Mozart. E quando McCartney pediu a Yoko que os créditos de algumas canções, como "Yesterday", fossem mudados para "McCartney/Lennon", ela recusou. "A princípio, ela concordou. Mas ligou algumas horas depois, mudara de ideia", disse McCartney.



MICHAEL

Outra megacelebridade com quem McCartney entrou em conflito foi Michael Jackson. No início dos anos 80, McCartney e Jackson gravaram juntos as músicas "Say Say Say" e "The Girl Is Mine". A parceria entre os dois tinha tudo para durar.

Até que McCartney casualmente contou a Jackson que estava ganhando muito dinheiro com edição musical. O ex-beatle, que havia comprado o catálogo das canções de Buddy Holly, disse a Jackson que a melhor maneira de faturar com música era comprar os direitos de edição de canções famosas.

Jackson não titubeou: em 1985, comprou por 47 milhões de dólares cerca de 200 músicas dos Beatles, vencendo o próprio McCartney, que também havia feito uma oferta. "Isso não está certo", disse McCartney, comentando o caso. "Toda vez que eu faço um show e toco "Hey Jude", preciso pagar". Quando McCartney procurou Jackson, este respondeu: "Ah, Paul, mas são apenas negócios!".

Em 2008, para piorar um pouco as coisas, Michael Jackson lançou o "remix" de seu álbum mais famoso, "Thriller", e simplesmente apagou os vocais de McCartney da faixa "The Girl Is Mine", substituindo o ex-beatle por Will.I.am, do Black Eyed Peas.

Pouco mais de um ano depois, em junho de 2009, Jackson morreu. McCartney, sempre diplomático, foi só elogios ao ex-parceiro: "É muito triste e chocante. Me sinto privilegiado por ter conhecido e trabalhado com Michael. Ele era um menino-homem incrivelmente talentoso e com uma alma gentil".



HEATHER

Mas nenhum conflito de McCartney foi tão feio quanto seu divórcio da ex-modelo e ativista Heather Mills. Eles se casaram em 2002 e tiveram uma filha, Beatrice, em 2003. O relacionamento deteriorou rapidamente, e o casal se separou em 2006. Os detalhes da vida conjugal viraram um banquete para os tabloides sensacionalistas ingleses.

Logo após a separação, Heather Mills foi à imprensa e destruiu McCartney: culpou sua filha, a estilista Stella McCartney, pela separação, ameaçou divulgar fitas de McCartney em sessões de análise e acusou o marido de ser viciado em drogas e álcool.

Em março de 2008, um juiz de Londres concedeu o divórcio. Heather Mills saiu do tribunal com R$ 84 milhões.

Desta vez, ele desabafou, ainda que timidamente: "Não vai haver mais tumulto, nem caos, nem Heather. Enfim, eu tenho paz!".





ANDRÉ BARCINSKI

CRÍTICO DA FOLHA

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