sábado, 27 de novembro de 2010

Você Vai Conhecer O Homem dos Seus Sonhos



You Will Meet a Tall Dark Stranger, 2010



Desta vez o incansável Woody Allen erra ao entregar um desinteressante conto de fadas moderno



Woody Allen não pára. Aos 75 anos de idade, um dos mais consagrados diretores norte-americanos leva seu 41º filme aos cinemas, apenas meses depois da estreia de seu trabalho anterior, mantendo a média impressionante de cerca de um lançamento por ano neste novo século. O período, aliás, deve ser celebrado por Allen. Mesmo não produzindo obras-primas como nos anos 70, quando presenteou o público com “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, “Manhattan” e “Zelig”, o cineasta se recuperou do mau momento vivido na metade final dos anos 90, entregando longas de ótima qualidade, como ao mergulhar no drama de “Match Point” e fazer gargalhar como há muito tempo não conseguia com “Tudo Pode Dar Certo”.
 
 



Para ele, os anos 2000 também significam uma internacionalização de suas películas. Saiu dos Estados Unidos, se instalou na Inglaterra, passou pela Espanha, voltou para sua querida Nova York, para agora retornar a Londres, com este “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”. O solo britânico, porém, parece acanhar a comédia de Woody Allen, assim como já havia acontecido em “Scoop – O Grande Furo”. Com um mosaico de histórias desinteressantes, um dos mais queridos diretores do mundo decepciona desta vez.





A trama apresenta inicialmente Helena (Gemma Jones), uma senhora inglesa que acaba de ser deixada pelo companheiro de mais de 40 anos, o disposto Alfie (Anthony Hopkins). Desolada, ela dá início a uma série de encontros com uma vidente fraudulenta que, no entanto, fala tudo que ela precisa ouvir. A indicação da “auto-ajuda” veio da própria filha, a bela Sally (Naomi Watts) que também passa por instáveis momentos em seu casamento. Tudo graças à teimosia de seu marido Roy (Josh Brolin), que insiste em querer escrever uma segundo grande sucesso literário depois de anos.





Além da falta de inspiração, Roy também passa a ter um agradável contratempo: as paqueras com a vizinha de janela Dia (Freida Pinto), uma jovem mulher de vermelho que adora tocar violão. Enquanto isso, Alfie encontra na juventude da atriz-prostituta Chermaine (Lucy Punch) a companhia perfeita para o momento que está passando. O destino também ameaça trazer aventuras para a vida de Sally quando o seu chefe Greg (Antonio Banderas) parece querer ir além da mera relação profissional com ela.





Com tantos personagens e núcleos, “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” pretende ser uma sátira dos românticos contos de fada em que o príncipe encantado sempre surge, como já ironiza a música “When You Wish Upon a Star”, que abre e fecha o longa. Aqui, porém, não há príncipes nem princesas, e sim garotas de programa, velhos viúvos e impotentes, musas comprometidas e chefes adúlteros. Estamos diante de um filme de Woody Allen e ninguém seria inocente o suficiente para achar que ele deixaria a típica leve acidez de seus roteiros de fora desta vez.






A desconstrução de gênero, entretanto, não traz consigo histórias atraentes e muito menos um humor eficiente. Allen não parece confortável com tramas múltiplas e entrega situações pouco originais, como o caso de Roy com Dia (o mais fraco núcleo de todos) ou o crescente envolvimento de Sally com Greg. Mais do que profundidade, faltam carisma e humor aos personagens. A comicidade segue mais ou menos a mesma receita de “Vicky Cristina Barcelona”, apostando no inusitado. Mas o resultado é bastante inferior.






Quem destoa é Helena, interpretada com delicadeza por Gemma Jones. É ela a principal atração de todo o filme, fazendo-nos rir graças às suas inseguranças e temporárias certezas. As visitas a vidente Cristal rendem situações hilárias, que se tornam ainda melhores quando debatidas com a filha e o grande desafeto de sua vida, o genro. As inserções do espiritismo entre suas mais novas crenças e de um nascente relacionamento afetivo são um ótimo complemento para o destino dessa bonita personagem.





No entanto, as melhores coadjuvantes dos filmes de Woody Allen costumam trazer na insanidade, mesclada com uma certa inocência, sua principal característica. Foi assim com Penélope Cruz (“Vicky Cristina Barcelona”), Mira Sorvino (“Poderosa Afrodite”) e Dianne Weist (“Tiros na Broadway”), todas premiadas. Deveria ser assim com Lucy Punch, mas a sua Chermaine é dona de um destino muito previsível, apesar de possuir lapsos de bons momentos cômicos, principalmente devido a boa performance da atriz.



O restante do elenco parece meio perdido com seus papéis limitados em originalidade. Naomi Watts e Josh Brolin são um casal sem química nenhuma. O mesmo Brolin também não convence como par de Freida Pinto, a eterna Latika de “Quem Quer Ser um Milionário?”. Anthony Hopkins não compromete, enquanto Antonio Banderas segue com o sotaque espanhol carregado que prejudica sua atuação.





E assim, com um desempenho decepcionante, Woody Allen dá o ponta inicial pé em sua filmografia nesta nova década, parecendo que vai demorar para deixar de dirigir e roteirizar longas-metragens com incrível intensidade. Próxima parada: França, com “Midnight in Paris”, com direito à própria primeira-dama francesa no elenco principal. Que ele retorne a sua melhor forma mais uma vez, como já provou que é capaz de fazer!


NOTA:
5/10

Darlano Didimo
cinemacomrapadura.com.br

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