Diretora de Laurel Canyon expõe a hipocrisia de mais uma parcela liberal de Los Angeles
Se Laurel Canyon (2002), o filme mais conhecido da roteirista e diretora Lisa Cholodenko, apontava um pouco da hipocrisia no círculo artístico de Los Angeles, em Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right, 2010) ela amplia seu olhar sobre o universo liberal da cidade, até uma família não tradicional.
Casadas há quase 20 anos, Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore) conceberam os seus dois filhos, Laser (Josh Hutcherson) e Joni (Mia Wasikowska), por inseminação artificial. Joni vai completar 18 anos, está na hora de se mudar para o campus da faculdade, e por legislação já tem idade para solicitar à clínica médica os dados do homem que doou o esperma. É Laser quem implora a Joni para procurá-lo. Os adolescentes descobrem então Paul (Mark Ruffalo), e a ordem na família entra em desarranjo.
O retrato começa caricatural, e antevê um filme muito mais propenso à comédia do que ao drama. Todos os clichês liberais da Costa Oeste estão lá: o casal lésbico bem resolvido na cama, com seus vinhos e seu carro não poluente. Paul é o típico self-made man, adepto do amor inter-racial e dono de um restaurante que tem a sua própria horta de orgânicos. Já com Laser e Joni, como diz o título, "está tudo bem" - eles ainda não criaram para si uma persona de êxito e felicidade.
É com a entrada de Paul na equação, desregulando as diferenças entre Nic e Jules, que a diretora começa a revelar a complexidade da escolha que o casal fizera 18 anos atrás. Todo casamento é complicado, mas um casamento no formato de Minhas Mães e Meu Pai é ainda mais. A certa altura, o que mais se escuta é desabafo, fuck-yous generalizados, e pequenas hipocrisias afloram (é óbvio que vai sempre sobrar para latinos e negros).
Apontar o dedo para a aparente normalidade da família americana - neste caso, o modelo moderno de família - não é novidade no cinema independente de Hollywood. O trunfo de Minhas Mães e Meu Pai é o seu elenco. Annette Bening encontra o tom certo da lésbica masculinizada e Julianne Moore, como sempre, traz fragilidade para a composição de sua personagem. É Julianne o norte do filme, enquanto Ruffalo nunca fez tão bem o seu recorrente papel de homem sensível ideal.
Com as crianças continua tudo bem. Filmes como Minhas Mães e Meu Pai, onde se entra com leveza e sai-se com a alma lavada, flertam com a ruptura mas estacionam na discussão de relacionamentos - o que não deixa de ser uma postura de conforto.
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