Albert Nobbs: longa de época traz Glenn Close como homem na Irlanda
Projeto pessoal da atriz rende indicação ao Oscar e discute identidade sexual no conservadorismo do século 19.
Avaliação: NOTA 8
É inegável que mudanças na aparência garantem um empurrãozinho nas indicações ao Oscar para muitos atores. Os casos são inúmeros, como os vencedores Nicole Kidman na pele de Virginia Woolf em “As Horas”, Hillary Swank em “Meninos Não Choram”, Charlize Theron em “Monster – Desejo Assassino” e Robert De Niro em “Touro Indomável”, só para citar alguns.
Em “Albert Nobbs”, é impressionante assistir Glenn Close no papel-título de uma mulher que se traveste de homem em plena Irlanda conservadora do século 19. Atuando como um mordomo no hotel de luxo da sra. Baker (Pauline Collins), ela convive harmoniosamente com outros empregados com seu segredo escondido no jeito sério, discreto e cavalheiresco.
Com o sonho de abrir uma tabacaria, ela economiza todas as moedas que recebe para concretizá-lo, realizando com invejável competência seu trabalho. Internamente, porém, sua identidade sexual entra em conflito ao conhecer o pintor Hubert Page (Janet McTeer), que esconde o mesmo segredo. É a deixa para criar uma relação de segredos compartilhados, amizade e amor.
Dirigido pelo colombiano Rodrigo García, o filme é um sonho antigo de Close, que já havia interpretado o papel no teatro no início da década de 1980 e passou mais de década tentando levá-lo para as telonas. Além de produtora e colaboradora do roteiro (escrito a oito mãos e baseado no conto de George Moore), é dela a autoria da canção original do longa, “Lay Your Head Down”.
Com toda a pompa de filme de época europeu, com comportamentos refinados, hipocrisia velada e ganância pelo dinheiro, é impossível não se emocionar com a história de Nobbs, vítima de abutres de olho em seu dinheiro e sufocado por um segredo que carrega há décadas. Apesar de uma afetação por ora incômoda de certos personagens, é inegável o duelo de interpretação de Close e McTeer, que nos levam a crer que estamos diante de dois personagens masculinos, tamanha a meticulosidade no trabalho de ambas.
Com ritmo lento em história redonda, acompanhamos o cotidiano dos empregados do hotel em um constante desconforto diante do segredo das duas, especialmente de Close, que transparece nos olhos de Nobbs o medo, em um jeito frio e distante, mas que intimida e causa compaixão nos espectadores.
Impressionante enxergar Close neste papel, especialmente para quem tem na lembrança personagens como a inescrupulosa Marquesa de Merteuil de “Ligações Perigosas” ou a vilã Alex Forrest, que mostrou ao mundo – e a Michael Douglas – em “Atração Perigosa” que ter uma amante pode ser mais arriscado do que se imagina.
Além disso, “Albert Nobbs” toca no conflito interno de uma sexualidade ambígua, levando a trama para uma curiosa abordagem do lesbianismo em uma época na qual a orientação sexual homossexual era considerada um distúrbio psicológico e que ia contra os dogmas religiosos.
Antagônico aos sonhos de Nobbs, somos colocados na trama paralela do romance da gananciosa Helen (a sempre insossa Mia Wasikowska) e do inescrupuloso Joe (Aaron Johnson), que serve apenas para dar um final ao destino do submisso personagem, em um epílogo irregular, mas que não chega a prejudicar o resultado geral.
Indicado ao Oscar 2012 de Atriz (Glenn Close), Atriz Coadjuvante (Janet McTeer) e Maquiagem, o filme tem recebido indicações nas três categorias e saído de mãos vazias dos principais prêmios. Previsível, de certa forma, pois, em sua sexta indicação ao prêmio, Close tem todo o cacife de levar a estatueta, mas tem batido de frente com a favoritíssima Meryl Streep, em interpretação primorosa – também debaixo de uma impressionante maquiagem – como a ex-primeira-ministra britânica Margareth Tatcher em “A Dama de Ferro”, que certamente tem tirado o sono de todas as atrizes que disputam a estatueta dourada.
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Léo Freitas formou-se em Jornalismo em 2008 pela Universidade Anhembi Morumbi. Cinéfilo desde a adolescência e apaixonado por cinema europeu, escreve sobre cinema desde 2009. Atualmente é correspondente do CCR em São Paulo e desejaria que o dia tivesse 72 horas para consumir tudo que a capital paulista oferece culturalmente.
Léo Freitas formou-se em Jornalismo em 2008 pela Universidade Anhembi Morumbi. Cinéfilo desde a adolescência e apaixonado por cinema europeu, escreve sobre cinema desde 2009. Atualmente é correspondente do CCR em São Paulo e desejaria que o dia tivesse 72 horas para consumir tudo que a capital paulista oferece culturalmente.
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