Avaliação: NOTA 5
 


As comédias românticas tomam conta da indústria cinematográfica e as mais variadas histórias já vistas tantas vezes tentam se reciclar em filmes quase sempre pouco inspirados. Apenas tentam. Como já é de costume, exigir originalidade ou mesmo técnica primorosa na concepção dessas películas é um tiro no pé, já que elas são feitas apenas para entretenimento rápido e garantir bilheteria por meio de seus atrativos, que quase sempre são os atores envolvidos.

Em “Guerra é Guerra” não é diferente. A trama conta a história de Lauren, interpretada pela oscarizada Reese Witherspoon, uma mulher que não tem uma vida sentimental regular. Ao se deparar com o ex-namorado e sua atual noiva, ela percebe que já está passando do tempo de conseguir um relacionamento estável. É quando sua amiga Trish, vivida pela ótima Chelsea Handler, sugere que ela entre no universo online e busque um namorado.

Apesar da resistência em caçar na internet, Lauren se depara com um perfil dela criado por Trish e logo conhece Tuck (Tom Hardy), um agente secreto que está suspenso. Após uma missão mal sucedida ao lado de seu companheiro FDR (Chris Pine), os dois passam por períodos ociosos no escritório onde trabalham. Em uma festa de família, eles também são alfinetados por serem solteiros. Corre tudo bem durante o primeiro encontro de Tuck e Lauren, mas o que eles não esperavam é que FDR também se esbarrou com a garota acidentalmente em uma locadora. A partir de então, os amigos tentam conquistar o coração de Lauren e se transformam em rivais, o que compromete a parceria profissional.

Nada de novo no front. Comédias românticas com pitadas de ação têm aparecido aos montes nas salas de cinema, como os recentes “Par Perfeito” e “Encontro Explosivo”. O diferencial de “Guerra é Guerra” é a tentativa de mostrar a mulher como fruto de uma disputa, potencializando seu poder feminino e dando a ela a chance de escolher com quem ficar sem se rastejar por homem algum. Dessa forma, Tuck e FDR se tornam meras crianças que tentam a todo custo conquistá-la, inclusive usando suas equipes de investigação para conhecer melhor a moça.

O conjunto de situações que o roteiro monta para mostrar essa disputa retoma os clichês do gênero, mas que são bem conduzidos devido à química e empatia do elenco. Witherspoon, Pine e Hardy levam um pouco de personalidade àqueles conflitos quase sempre superficiais. E conseguem. Não fossem por eles, o filme estaria fadado ao completo fracasso, já que os roteiristas Timothy Dowling e Simon Kinberg não dão profundidade ao argumento e se contradizem com facilidade. São os atores que pegam o roteiro vazio e conseguem nos fazer rir pontualmente durante a projeção, com o público dando um desconto aos exageros e às impossibilidades.

Se Lauren é para ser o objeto de desejo, então seria a oportunidade perfeita para ela se transformar em uma mulher alfa. Mas o roteiro mostra um poder feminino doce e confuso, colocando a personagem em situações bobas, como a dúvida se vai para a cama com Tuck e FDR para ver quem tem o melhor desempenho. Há uma inconstante desconstrução do machismo, mas que sempre cai novamente na visão da mulher romântica, o que já não é mais tão divertido assim.

Outro deslize é que nunca os companheiros de investigação dos rapazes questionam o monitoramento da vida de Lauren, se contentando apenas com o motivo de que ela pode estar envolvida com o paradeiro de um criminoso russo. Aliás, a trama paralela deste bandido é totalmente descartável, já que acrescenta apenas a previsibilidade de que a mocinha certamente correrá perigo no terceiro ato da película, para que os dois agentes possam se unir novamente e recuperar a parceria profissional.

O diretor McG também não ajuda para a composição daquele universo. Experiente com cenas de ação, em “Guerra é Guerra” ele parece estar muito mais à vontade conduzindo Pine e Hardy em tiroteios e explosões do que trabalhando os conflitos dos seus personagens. Mas tudo bem, não é novidade que o cineasta não tem um histórico de direção de elenco. Dessa forma, McG desaparece em seu próprio filme, não deixando nada positivo na comédia. A péssima dupla de edição Nicolas De Toth e Jessie Driebusch quebram o ritmo do longa em vários momentos e acentuam os problemas de continuidade.

Sem grandes inspirações, “Guerra é Guerra” se junta às comédias que devem ser apreciadas apenas pelo bom entretenimento que, acima de todas as falhas, ainda acontece devido ao elenco competente que resolveu emprestar seu talento para um filme ordinário e sem diferenciais. E ao fim da projeção, a escolha da protagonista é óbvia e confirma que não tinha necessidade de fazer tanta cerimônia para resolver aquele impasse amoroso.
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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), é especialista em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e arte educador na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.