O Pacto: o retorno fracassado de Nicolas Cage à violenta Nova Orleans
Ator integra filme mal dirigido, atuado e escrito que foge, com todas as suas forças, das reflexões que sua polêmica temática poderia provocar.
Avaliação: NOTA 4
Há pouco mais de dois anos, Nicolas Cage chegava aos cinemas com a melhor produção com a qual esteve envolvida em cerca de uma década. Em “Vício Frenético”, o ator, sob o comando do sempre inspirado diretor Werner Herzog, estrela uma digna refilmagem que revela uma parcela desprezível de uma Nova Orleans pós-Katrina. Violento, intenso, sensual e prazerosamente alucinatório, o longa tem exatamente as qualidades contrárias deste “O Pacto“, o mais novo filme de Cage.
Com história também passada na maior cidade da Luisiana, a produção tenta, insiste e quase consegue destruir uma das poucas boas e recentes lembranças de um ator em plena decadência.
Desta vez, Cage interpreta Will Gerard, um professor de português de índole inquestionável, funcionário de uma escola pública cheia de alunos problemáticos. Bem casado, ele, de repente, se vê obrigado a lidar com o fato de que sua esposa Laura (January Jones) acaba de se tornar vítima da violência em Nova Orleans. Assaltada e estuprada, a moça é internada no hospital enquanto seu marido recebe uma inusitada proposta: aceitar que o maníaco que vitimou Laura seja assassinado.
O acordo é idealizado por uma organização secreta que busca “limpar” a cidade. A compensação para o serviço, porém, inclui atividades que Will tem dificuldades éticas de exercer.
No entanto, jamais é sobre o ponto de vista ético ou da moralidade que “O Pacto” se autoenxerga. Apesar de sua temática, o roteiro de Robert Tannen parece ter medo de encará-la de frente, sempre buscando péssimas estratégias e caminhos para permanecer no campo raso do suspense e da ação. Nem sequer um diálogo é dedicado a refletir sobre o trabalho do grupo de justiceiros que tenta fazer da cidade americana, mesmo que de maneira ilegal e errônea, um local minimamente habitável.
Para tanto, transforma seus personagens em pessoas desinteressantes, sem nenhum atrativo especial ou definição de personalidade, que fazem da denúncia da ação do grupo de extermínio algo longe de uma prioridade.
A trama até que inicialmente busca exibir Will Gerard como um homem correto e profissionalmente dedicado, mas a interpretação no piloto automático de Nicolas Cage e a falta de sensibilidade do script no decorrer da história impossibilitam que o conheçamos melhor. Pior ainda acontece com o vilão do filme, Simon (Guy Pearce, ainda assim o melhor do elenco), o líder da organização secreta. Não há qualquer mínimo grau de complexidade nele. Não chegamos sequer a saber os motivos que o levaram a agir de forma tão impulsiva e desmedida. Surgindo apenas para provocar a ação, o personagem parece idealizado por um republicano dos mais fervorosos.
Mas nem mesmo como escopo para boas perseguições e trocas de tiros, Simon serve. Tudo porque o diretor Roger Donaldson (do ótimo “Efeito Dominó”) é incapaz de construir sequências de ação respeitáveis. Falta ritmo e originalidade a suas tomadas, as quais ficam ainda piores quando saem em busca de instalar o clima de suspense. A ausência de uma trilha sonora mais marcante por parte de J. Peter Robinson, tradicional parceiro do diretor, também é sentida. Ora transformando gente comum em suspeitos (como na cena em que um policial espia Will tirar chocolates de uma máquina), ora fazendo dos suspeitos pessoas nada assustadoras, Donaldson parece completamente perdido.
Estaria mais confortável caso o roteiro não fosse tão previsível e tivesse tantos “furos”. Mas como se não bastasse transformar temática polêmica em produção comercial de mau gosto, Robert Tannen retira o pé e a cabeça de “O Pacto”. Seja ao esquecer um personagem importante durante dezenas de minutos, seja ao conceder a capangas um grau de imbecilidade acima do aceitável, seja ao nunca explicar por completo a atuação do grupo de extermínio (haveria um líder maior do que Simon? De quem se trata o tal tenente que insiste em salvar Will?…), o roteiro pode ser considerado o maior culpado por aumentar a lista de fracasos de Nicolas Cage, desta vez machando até um anterior sucesso.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.
Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.
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