Avaliação: NOTA 5
 
 


A franquia “Anjos da Noite” começou quase como uma ode aos RPGs da White Wolf, dando um enfoque mais aristocrático aos vampiros e mostrando suas batalhas contra os lobisomens (ou lycans). Após dois episódios iniciais que, se não excelentes, ao menos entretinham, e um terceiro capítulo com um prelúdio decepcionante (para dizer o mínimo), a série volta nesta nova encarnação com a heroína de seus primeiros filmes, a vampira Selene (Kate Beckinsale).

Dando uma guinada inesperada na franquia, a existência de vampiros e lycans foi revelada ao mundo, causando uma guerra de extermínio às duas raças. Selene passa 12 anos em um gélido cativeiro e, misteriosamente liberta, se vê em um mundo que não conhece e sem seu amante, Michael. Misteriosamente ligada a uma criança sem nome (India Eisley), as duas são caçadas impiedosamente pelo geneticista Jacob Lane (Stephen Rea), cujas ações podem mudar o balanço de poder entre as raças existentes.

Essa nova direção tomada pela história gera um problema sério para o seu desenrolar. Ora, as tramas das películas anteriores se focavam em trágicos romances proibidos e como estes afetavam as relações entre os clãs de vampiros e lycans, com os humanos mal sendo citados, gerando um necessário distanciamento entre “nós” e as criaturas sobrenaturais.

No entanto, com a inclusão dos humanos como parte essencial da trama, nos vemos “torcendo” por alguém que, em tese, é uma inimiga da humanidade. Enquanto o script tenta se desviar dessa bala como pode, aos poucos isso se torna um fator mais e mais proeminente do plot. Ademais, mesmo com toda essa revolução e com nada menos que quatro roteiristas creditados, inclusive o conceituado J. Michael Straczynski e o co-criador da franquia Len Wiseman, este quarto capítulo parece ter tido seu roteiro rasgado ao meio.

Há uma profusão de novos personagens na série surgindo aqui, com motivações pouco explicadas e quase nenhum desenvolvimento. Ora, a relação entre Selene e a menina sem nome (que surge nos créditos com o nome de Eve), que deveria ser o centro emocional do filme e justificar todos os atos da “heroína”, só é bem explorada em uma única cena. Não há tempo daquelas figuras dizerem a que vieram, considerando que o longa tem apenas 88 minutos de duração e ainda tem de lidar com suas cenas de ação.

Sobra para elas, portanto, o trabalho de sustentar o interesse do público, falhando em fazê-lo justamente pelos diretores Måns Mårlind e Björn Stein serem incapazes de dar qualquer ar de novidade às sequências de combate, que jamais impressionam o público e caem em uma tediosa mesmice. Desprovidos de um senso estético mais apurado, os cineastas apresentam alguns momentos que beiram o constrangedor, como aquele no qual “Eve” desperta em um covil de vampiros que, de tão brega, mais parece cenário de clipe de banda de metal gótico dos anos 1980.

Também temos a auto-sabotagem do “3D”. Uma das coisas que marcam a identidade visual da franquia “Anjos da Noite” foi justamente sua fotografia em tons escuros, além de uma paleta de cores mais sombrias em seus figurinos e criaturas, não sendo esta quarta fita uma exceção. Escurecer mais ainda a tela com os óculos 3D para a visualização de efeitos tridimensionais praticamente inexistentes é um verdadeiro tiro no pé, o que resulta em trechos inteiros do filme em borrões pretos.

Por mais que ainda seja bastante agradável ver Kate Beckinsale em roupas de couro chutando bundas, “Anjos da Noite – O Despertar” não convence jamais e falha ao mergulhar o espectador em seu universo graças a um roteiro extremamente problemático, personagens superficiais que jamais dão espaço para os atores trabalhar (o desperdício de Stephen Rea é quase um crime), cenas de ação burocráticas e um visual destruído pela própria ganância do estúdio em lucrar mais em cima do 3D. De fato, o futuro parece sombrio para Selene e seus aliados…
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.