Billi Pig: José Eduardo Belmonte vacila em primeira investida em comédia
Filme inicia bem, mas se perde em meio a um grande número de coadjuvantes e uma sobrenaturalidade absolutamente dispensável e sem graça.
Avaliação: NOTA 5
Antes focados em realizar dramas, alguns bons cineastas nacionais andam agora se arriscando em comédias. E os resultados não têm sido dos mais favoráveis. Primeiro foi Alain Fresnot, antes responsável por “Desmundo”, que lançou “Família Vende Tudo”, um filme divertido até a sua metade.
Há algumas semanas foi a vez de “Reis e Ratos”, de Mauro Lima, chegar aos cinemas e decepcionar os que esperavam uma produção do nível de “Meu Nome não é Johnny”. Desta vez, é José Eduardo Belmonte quem desvia do caminho brilhante de “Se Nada Mais Der Certo” e busca o rumo das risadas, conseguindo até arrancar algumas do público. Mas “Billi Pig” se perde no meio da estrada em meio a um grande número de coadjuvantes e uma sobrenaturalidade dispensável.
A produção inicialmente conta a história de Marivalda (Grazi Massafera) e Wanderley (Selton Mello), um casal de classe média baixa dono de objetivos distintos na vida. Se ela sonha em se tornar uma estrela de cinema, o seu marido concentra-se em continuar a enganar outros por meio de sua empresa de seguros. Na mesma rua também vive o falso padre Roberval (Milton Gonçalves), um milagreiro dos mais picaretas. Um pouco mais adiante, Boca (Otávio Muller) domina o tráfico de drogas local. Mas é apenas após um tiroteio que deixa a filha deste em coma que os destinos desses quatro personagens se encontram, ocasionando uma série de situações que deveria ser mais engraçada do que realmente é.
A proposta de Belmonte é realizar um filme descontraído, uma grande brincadeira com a realidade brasileira. A seriedade, por isso, é deixada de lado para que um tom de descomprometimento domine, permitindo que objetos de estimação, como o próprio porco que dá nome ao longa, falem e contracenem com os atores. No entanto, o roteiro do próprio Belmonte, em parceria com Ronaldo D’Oxum, extrapola a imaginação, recorrendo demasiadamente a Billi Pig, quando jamais justifica sua presença e suas intenções, devendo o “personagem” permanecer apenas como delírio de Marivalda e companhia.
O pior é que a sobrenaturalidade se acentua com o passar dos minutos, cada vez mais perdendo o tom cômico. Por meio de Roberval, a trama mergulha em um raso e falho drama com direito a fantasmas e lembranças que nunca dizem a que vieram. Aliás, o roteiro se perde exatamente quando deixa o casal principal de lado e se concentra na história sem graça deste falso padre sem castidade nenhuma. Demasiadas cenas também são dedicadas a outros coadjuvantes, como às fofoqueiras secretarias de Wanderley, bem como à interesseira dona da funerária e seu ajudante, interpretados respectivamente por Preta Gil e Milhem Cortaz.
Sobra espaço ainda para Otávio Muller, seus capangas e sua filha. Mas nenhum deles é capaz de superar a inocência retratada pela relação entre Marivalda e Wanderley. É acompanhando a intenção daquela em realizar os seus sonhos e deste em oferecer os seus questionáveis serviços que “Billi Pig” alcança suas melhores notas. Nestes momentos é que José Eduardo Belmonte consegue captar a mesma natural comicidade do subúrbio brasileiro retratada por Alain Fresnot em sua última produção. Lastimável, então, que hilárias sequências de audições e treinamentos para futuras entrevistas sejam substituídos por entraves e correrias em torno de um milagre que nada tem de engraçado.
Mesmo assim, a atuação do elenco ainda proporciona algumas risadas extras. Com interpretações que prezam pelo improviso e que, nada artificialmente, retratam a falta de instrução educacional dos personagens, os atores são a grande atração de “Billi Pig”, com destaque para os três principais: Grazi Massafera (em desempenho notável para uma estreante nos cinemas), Selton Mello e Milton Gonçalves, este impagável nas sequências em que imita o jeito de falar de um negro norte-americano. Por mais que a direção dinâmica de Belmonte conceda o devido crédito ao trabalho do elenco, o roteiro, porém, impede que o filme não passe de mais uma decepcionante comédia comandada por um bom cineasta de dramas nacionais.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.
Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.
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