quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

'Abraços partidos', Almodóvar faz retrospectiva de sua própria obra



























Melodrama reúne elementos dos principais filmes do diretor.
Longa também faz homenagem aos ídolos Fellini e Visconti.



O cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que completou 60 anos em setembro, realiza em "Abraços partidos", seu 17º filme, um claro retorno aos temas e admirações que lhe são mais caros. O filme estreia nesta sexta-feira (4/12/2009) em circuito nacional.



Estão na história o melodrama, o noir e referências expressas a diretores que Almodóvar assumidamente cultua - como Federico Fellini, Luchino Visconti, Nicholas Ray e Jules Dassin. Nem por isso, o filme se resume a uma coleção de citações.



Nesta que é sua quarta parceria com a atriz Penélope Cruz (vista também em "Volver", "Tudo sobre minha mãe" e "Carne trêmula"), o diretor exercita um jogo de duplicidade - que começa com o protagonista, que usa alternadamente os nomes de Harry Caine e Mateo Blanco (ambos interpretados por Lluís Homar, de "Má educação").



No tempo presente, ele só é conhecido como Harry Caine, pseudônimo do roteirista cego que, apesar da deficiência, vive com relativa independência e sucesso profissional. No dia-a-dia, ajudam-no em suas tarefas sua produtora, Judit (Blanca Portillo, de "Volver"), e o filho desta, Diego (Tamar Novas, de "Mar adentro").



Seu nome verdadeiro, Mateo Blanco, remete a um passado que ele não quer recordar, no qual era um cineasta de prestígio. Antes que se esclareçam as causas de sua cegueira, sucessivos flashbacks informam sobre a identidade de Lena (Penélope Cruz), a atriz do último filme dirigido por Blanco e sua musa.



Ao conhecer Blanco, Lena era amante de um milionário, Ernesto Martel (José Luis Gómez), um homem a quem era grata por tê-la ajudado financeiramente na grave doença de seu pai.



Escolhida para o novo filme de Blanco, a comédia "Garotas e malas", Lena inicia um caso com o diretor, cujos desdobramentos serão trágicos em mais de um sentido.



Não é mera coincidência que este filme dentro do filme, "Garotas e malas", se pareça tanto, em termos de personagens, cenários e figurinos, com "Mulheres à beira de um ataque de nervos" (1987) - que foi o primeiro sucesso internacional de Almodóvar e deu início à sua consagração ao redor do mundo, ao ganhar a indicação ao Oscar de melhor roteiro original, cinco prêmios Goya (o principal da Espanha) e os troféus de melhor atriz (Carmen Maura) e melhor filme jovem da Academia Europeia, entre outros.



Para realizar "Abraços partidos", o diretor teve que lidar com um problema crônico de saúde, sua enxaqueca. Em entrevistas, ele admitiu que começou a filmar sem ter plena certeza se conseguiria concluir este trabalho, tão fortes eram duas dores de cabeça.



No final, o cineasta disse que o trabalho o ajudou a superar o problema, ainda que provisoriamente. Nem por esse detalhe, nem pelo fato de que se trata de uma de suas obras mais complexas, o diretor esqueceu-se do humor.



São puro deleite cômico as cenas em que uma mulher (Lola Dueñas, de "Volver") faz a leitura labial das imagens do making of de "Garotas e malas", filmado pelo filho de Martel (Rubén Ochandiano) a pedido de seu ciumento pai - um recurso que lhe permite recuperar diálogos em que Lena manifesta seu desprezo por ele.



(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

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