Holocausto de animais
Indicados ao Oscar de melhor documentário, filmes denunciam males da indústria de alimentos americana
Louie Psihoyos, fotógrafo americano de 52 anos, passou 15 horas escondido numa floresta à beira do abismo, de frente para uma enseada no interior do Japão, camuflado, de rosto pintado e todo de preto.
Indicados ao Oscar de melhor documentário, filmes denunciam males da indústria de alimentos americana
Louie Psihoyos, fotógrafo americano de 52 anos, passou 15 horas escondido numa floresta à beira do abismo, de frente para uma enseada no interior do Japão, camuflado, de rosto pintado e todo de preto.
Treze meses depois, Psihoyos continua de preto, mas sem maquiagem e à beira da piscina de um hotel de Los Angeles.
É que agora Psihoyos é um premiado diretor de cinema e um dos favoritos a ganhar o Oscar de melhor documentário por "The Cove" (algo como enseada ou esconderijo, em inglês). E foi nesse lugar que ele gastou 15 horas para registrar um dos piores pesadelos para qualquer ativista ambiental.
Em Taiji, pequena cidade repleta de homenagens a golfinhos, a água cristaliana do mar vira um banho de sangue todas as manhãs num certo período do ano, quando os animais são abatidos após serem encurralados na tal enseada.
"A razão principal disso é dinheiro", diz Psihoyos. "Carne de golfinho é tóxica. Podem dizer que é uma tradição, ainda que minha mãe seja mais velha que isso. Mas a tradição está envenenando pessoas!"
O documentário -que não tem distribuição no Brasil, mas foi lançado em DVD nos EUA- vai além da matança dos simpáticos mamíferos. Após treinadores de parques aquáticos do mundo inteiro comprarem golfinhos por US$ 150 mil, os restantes são mortos e vendidos como carne nobre de baleia ou distribuídos em lanches escolares, embora a prática tenha sido interrompida graças ao documentário.
Golfinhos, assim como peixes de grandes proporções, absorvem a poluição humana dos oceanos e retêm até 5.000 vezes mais mercúrio do que o permitido em comidas.
Para filmar o estrago, o diretor gastou mais da metade do orçamento de US$ 4 milhões em equipamentos, como 14 câmeras, entre elas uma subaquática e outras cinco escondidas entre pedras falsas, todas instaladas por seis pessoas em incursões noturnas à enseada.
"Não queria fazer parte do filme, não queria ser um Morgan Spurlock [diretor de "Super Size Me - A Dieta do Palhaço] ou Michael Moore", diz Psihoyos. "Mas vi que era um jeito de contar a história de forma mais pessoal e interessante."
No centro do filme também está Ric O'Barry, um ativista que luta há 35 anos pela libertação dos golfinhos. Uma certa culpa impulsiona seu trabalho, já que foi ele quem capturou e treinou, nos anos 60, os cinco golfinhos que estrelavam o seriado "Flipper", responsável por criar a indústria multimilionária dos parques aquáticos.
No começo do filme, ele aparece de máscara para não ser reconhecido pelos caçadores de golfinhos. "Íamos ao spa do hotel e lá estavam agentes da polícia nos seguindo, de robe", conta Psihoyos. "Até a Yakuza. Você via às vezes esses caras de ternos brilhantes, com carros enormes, como gângsteres. Todo mundo ficou paranoico."
Enquanto espera pelo Oscar, Psihoyos começou a rodar um filme, com ajuda de agentes federais dos EUA. "A diferença com os astros de cinema é que "The Cove" não é sobre nós. É sobre dar uma voz ao oceano. Esses prêmios amplificam a voz", diz. "Sinto que estou no negócio de salvar o mundo, e não no de fazer cinema."
FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES
F.S.P.
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