Desde a saída de Augusto Licks e de Carlos Maltz, os Engenheiros do Hawaii serviram como uma espécie de carreira-solo de Humberto Gessinger. Talvez o compositor gaúcho tenha cansado de ser o centro das atenções. Após o anúncio do hiato dos Engenheiros, em 2008, Gessinger disse que se juntaria a Duca Leindecker (do Cidadão Quem) para formar o duo com o (sugestivo) nome de Pouca Vogal. Demorou um pouco, mas, finalmente, a dupla lança o seu álbum de estreia, que leva o mesmo nome do conjunto. E a conclusão é gritante: o trabalho em dupla fez muito bem a Humberto Gessinger, que, havia muito, estava variando sobre o mesmo tema com os seus Engenheiros.
Gravado ao vivo em Porto Alegre em março do ano passado, "Pouca Vogal" apresenta generosas 20 faixas (tanto no CD quanto no DVD). O repertório conta com sucessos dos Engenheiros, do Cidadão Quem, além de faixas inéditas compostas especialmente para o projeto.
Centrado em instrumentos acústicos, Gessinger mostra que a sua fissura pelo violão e pela viola caipira - tão presentes nos dois últimos trabalhos dos Engenheiros do Hawaii - permanecem. E isso é um bom sinal. Ele e Leindecker se revezam em quase uma dezena de instrumentos (do violão ao bombo leguero), com eventuais participações especiais de Luciano Leindecker (baixista do Cidadão Quem) e do maestro Fernando Cordella, que rege a mini-orquestra POA Pops, em algumas faixas.
Para o fã dos Engenheiros (e que torceu o nariz para o novo projeto do mentor da banda), vale a pena conhecer o Pouca Vogal pelas músicas dos... Engenheiros. "Até o Fim", "Somos Quem Podemos Ser", "Toda Forma de Poder", "Refrão de Bolero" e "A Montanha" ganharam versões nuas e cruas, com uma delicadeza que estava escondida nos discos dos Engenheiros do Hawaii. "Somos Quem Podemos Ser", por exemplo, está em sua versão definitiva, com a voz quase sussurrada de Gessinger ao final. A boa "Até o Fim" foi pelo mesmo caminho, e ganhou força com a gaita de Gessinger, que deu uma moldura dylanesca à canção.
Já as canções do Cidadão Quem, apesar de pouco conhecidas pelo público acima da região Sul do Brasil, são cantadas a plenos pulmões pela plateia no teatro CIEE. E alguns dos melhores momentos de "Pouca Vogal" estão exatamente nessas músicas, especialmente "Girassóis" (uma das canções mais deliciosas do rock gaúcho), "Dia Especial" ("Se alguém / Já lhe deu a mão / E não pediu mais nada em troca / Pense bem, pois é um dia especial / Eu sei / Que não é sempre / Que a gente encontra alguém / Que faça bem / E nos leve desse temporal") e a animadinha "Música Inédita".
Curioso notar que somente quatro canções são parcerias entre Duca Leindecker e Humberto Gessinger, incluindo "A Força do Silêncio", que já havia sido gravada pelo Cidadão Quem. As outras inéditas foram compostas por um ou por outro. A melhor das inéditas, contudo, foi composta pelos dois. A faixa de abertura, "Depois da Curva", tem uma sonoridade leve e singela, além de uma letra que mistura o estilo mais complexo do Engenheiro e a simplicidade do Cidadão. "Breve", outra parceria também vai pelo mesmo caminho da simplicidade, ao contrário de "Tententender", que, a despeito da letra de amor, ganhou um arranjo mais complexo, com a participação da POA Pops.
Das outras cinco inéditas, apenas a grave "Na Paz e Na Pressão" foi composta exclusivamente por Leindecker. As outras ("Além da Máscara", "Pra Quem Gosta de Nós", "Pouca Vogal" e "O Voo do Besouro") têm a assinatura do Engenheiro. Dentre elas, vale destacar a abstrata faixa cujo título dá nome à dupla e ao álbum: "Pouca vogal / Polka tri-legal / Meridional / Na serra, no vale / Oriundi alles blau / Samba sem know how / Pouca vogal". Ou então a deliciosa "Pra Quem Gosta de Nós", cuja letra pode ser um recado para os (novos) fãs do Pouca Vogal: "Pra quem gosta de nós é um prato cheio / Vento vai veloz vamos sem receio / Tudo amarrado... Caminho do meio".
A banda Engenheiros do Hawaii é uma das mais importantes do Rock Brasil. Nem Humberto Gessinger sabe dizer se haverá algum retorno. Mas, se houver, será muito bom observar até que ponto os Engenheiros podem se reformular após um trabalho tão interessante quanto esse "Pouca Vogal".
Cotação: ****
Gravado ao vivo em Porto Alegre em março do ano passado, "Pouca Vogal" apresenta generosas 20 faixas (tanto no CD quanto no DVD). O repertório conta com sucessos dos Engenheiros, do Cidadão Quem, além de faixas inéditas compostas especialmente para o projeto.
Centrado em instrumentos acústicos, Gessinger mostra que a sua fissura pelo violão e pela viola caipira - tão presentes nos dois últimos trabalhos dos Engenheiros do Hawaii - permanecem. E isso é um bom sinal. Ele e Leindecker se revezam em quase uma dezena de instrumentos (do violão ao bombo leguero), com eventuais participações especiais de Luciano Leindecker (baixista do Cidadão Quem) e do maestro Fernando Cordella, que rege a mini-orquestra POA Pops, em algumas faixas.
Para o fã dos Engenheiros (e que torceu o nariz para o novo projeto do mentor da banda), vale a pena conhecer o Pouca Vogal pelas músicas dos... Engenheiros. "Até o Fim", "Somos Quem Podemos Ser", "Toda Forma de Poder", "Refrão de Bolero" e "A Montanha" ganharam versões nuas e cruas, com uma delicadeza que estava escondida nos discos dos Engenheiros do Hawaii. "Somos Quem Podemos Ser", por exemplo, está em sua versão definitiva, com a voz quase sussurrada de Gessinger ao final. A boa "Até o Fim" foi pelo mesmo caminho, e ganhou força com a gaita de Gessinger, que deu uma moldura dylanesca à canção.
Já as canções do Cidadão Quem, apesar de pouco conhecidas pelo público acima da região Sul do Brasil, são cantadas a plenos pulmões pela plateia no teatro CIEE. E alguns dos melhores momentos de "Pouca Vogal" estão exatamente nessas músicas, especialmente "Girassóis" (uma das canções mais deliciosas do rock gaúcho), "Dia Especial" ("Se alguém / Já lhe deu a mão / E não pediu mais nada em troca / Pense bem, pois é um dia especial / Eu sei / Que não é sempre / Que a gente encontra alguém / Que faça bem / E nos leve desse temporal") e a animadinha "Música Inédita".
Curioso notar que somente quatro canções são parcerias entre Duca Leindecker e Humberto Gessinger, incluindo "A Força do Silêncio", que já havia sido gravada pelo Cidadão Quem. As outras inéditas foram compostas por um ou por outro. A melhor das inéditas, contudo, foi composta pelos dois. A faixa de abertura, "Depois da Curva", tem uma sonoridade leve e singela, além de uma letra que mistura o estilo mais complexo do Engenheiro e a simplicidade do Cidadão. "Breve", outra parceria também vai pelo mesmo caminho da simplicidade, ao contrário de "Tententender", que, a despeito da letra de amor, ganhou um arranjo mais complexo, com a participação da POA Pops.
Das outras cinco inéditas, apenas a grave "Na Paz e Na Pressão" foi composta exclusivamente por Leindecker. As outras ("Além da Máscara", "Pra Quem Gosta de Nós", "Pouca Vogal" e "O Voo do Besouro") têm a assinatura do Engenheiro. Dentre elas, vale destacar a abstrata faixa cujo título dá nome à dupla e ao álbum: "Pouca vogal / Polka tri-legal / Meridional / Na serra, no vale / Oriundi alles blau / Samba sem know how / Pouca vogal". Ou então a deliciosa "Pra Quem Gosta de Nós", cuja letra pode ser um recado para os (novos) fãs do Pouca Vogal: "Pra quem gosta de nós é um prato cheio / Vento vai veloz vamos sem receio / Tudo amarrado... Caminho do meio".
A banda Engenheiros do Hawaii é uma das mais importantes do Rock Brasil. Nem Humberto Gessinger sabe dizer se haverá algum retorno. Mas, se houver, será muito bom observar até que ponto os Engenheiros podem se reformular após um trabalho tão interessante quanto esse "Pouca Vogal".
Cotação: ****
Luiz Felipe Carneiro Resenhas 28/01/2010 11:24
Muito boa a análise. No começo eu tinha ficado receoso com o Pouca Vogal, mas ficou bem legal, no final.
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