Reitman [filho de Ivan Reitman, diretor de Os Caça-Fantasmas] chegou bem descontraído, cumprimentou a todos e, sem muita cerimônia, puxou seu celular e começou a tirar fotos de cada um dos repórteres presentes. Ninguém entendeu nada até que uma colega australiana, pouco antes de ser vítima da lente atrevida do cineasta, se constrangeu e pediu para ficar de fora. Afinal, para que um diretor de sucesso como ele precisaria, ou faria, com fotos de um bando de correspondentes? Pergunta válida e o surpreendeu.
Ele começou a se justificar que ninguém precisava participar, enquanto continuava fotografando os demais. Até que foi novamente interrompido. Constrangido, resolveu explicar. “Estou fazendo um vídeo na qual vou inserir todos os rostos que conheci durante a divulgação desse filme, que é algo descomunal”, disse, enquanto fotografava nossos gravadores. O estrago já estava feito. E de modo justificado. Quando um jornalista arrisca pedir para algum entrevistado tirar uma foto, a assessoria trabalha rápido e barra a tentativa. Mas, nesse caso, a situação relativamente inusitada – se ele está fazendo isso com todos, devia ter fotografado um mundaréu de gente antes do incidente, começando em Toronto, onde Amor Sem Escalas foi exibido pela primeira vez – era de se esperar que ele repetisse a dose.
Curiosamente, Reitman notou a mesma tendência exagerada do circo da mídia que este correspondente [leia o artigo Panela de Pressão: Hollywood, na Sci-Fi News e aqui no
Quando Sacha Baron Cohen solicitou perguntas por escrito semanas antes das entrevistas para Brüno – pois coreografaria todas elas previamente e apareceria como o personagem para os jornalistas – alguns integrantes da imprensa televisiva exigiram da Sony o comprometimento de que suas imagens não fossem inseridas na campanha de marketing. Havia receio de que o comediante utilizasse as entrevistas para tirar sarro dos jornalistas. Desejo respeitado, todo mundo saiu feliz.
No caso de Reitman, a fronteira foi cruzada sem aviso prévio. Há uma noção velada de que lugar de jornalista impresso é longe das câmeras, “nosso papel é fazer perguntas, não opinar ou aparecer” e alguns países levam isso bastante a sério. Especialmente colegas alemães e, depois desse, australianos. Em alguns casos, como em visitas aos sets de filmagem, os estúdios se preocupam com isso e distribuem autorizações de uso aos presentes. Assinar, ou não, é opcional, mas todo mundo acaba concordando.
E o que mais incomoda é o fato de que, de alguma maneira, Reitman pode fazer dinheiro com isso, ou ganhar mais fama, ou ser novamente elogiado. E nenhum dos envolvidos terá lucro com a situação. Afinal de contas, o que importa é o retorno: financeiro ou para o ego.
Fui o último – estava sentado ao lado direito do diretor, que começou a fotografar no sentido anti-horário – e gostei da idéia. Não reclamei da foto e quero só ver onde meu rosto vai parar [veja o resultado abaixo]. Agora fica a pergunta: se nós não podemos tirar fotografias por sermos meros jornalistas, quem disse que um entrevistado pode sem pedir ou se justificar? A fama ou uma noção dúbia de total liberdade por conta da hierarquia do momento?
A panela de pressão continua a soltar vapor sem sinais de diminuir o ritmo. Uma hora explode.
Fábio M. Barreto
Nenhum comentário:
Postar um comentário