Com a intenção de homenagear a produção clássica de 1941, o longa não alcança um patamar memorável, mas não faz feio.
Em 1941, o diretor George Walker realizou aquele que é considerado um dos marcos do cinema de terror. O filme contava a história de um triste homem amaldiçoado que, com a chegada da lua cheia, se transformava em uma criatura terrível e assassina, meio homem e meio lobo, um Lobisomem. Muitos anos depois, esta criatura fantástica continua mais atual do que nunca, e é novamente o tema central de uma grande produção cinematográfica.
A história começa com a chegada de Lawrence Talbot à sua cidadezinha natal, uma aldeia vitoriana chamada Blackmoor. Ele foi informado por meio de uma carta de sua cunhada que o irmão acabara de morrer. Um fato misterioso ronda esta morte, pois a vítima se encontrava em um estado lastimável. Todos suspeitam na região de um animal, outros acham que foi um homem.
Uma investigação é iniciada e o recém chegado se envolve nela, contrariando seu pai, Sir John. Sua cunhada Gwen se mostra interessada em ajudar e o convívio entre os dois acaba despertando certo apego inesperado. Talboat fica ferido gravemente com uma mordida. Em meio a estes acontecimentos bizarros, ele vê que estranhas lembranças do passado eram realidade. A loucura, que antes era infundada, finalmente se revela a mais pura verdade.
“O Lobisomem” é um filme esteticamente muito bonito de se ver. Sua feição pálida e cinza dá o tom certo para esta história de suspense e terror. O diretor Joe Johnston se mostra competente e corajoso em suas escolhas. Usando de forma correta uma violência brutalmente realista, o filme ganha também com o terror de velha guarda e suas maquiagens tradicionalistas, mas, ao contrário do que muitos pregam, o filme não se intimida em usar um C.G (Computação Gráfica) de qualidade, em prol do resultado.
O encarregado da tarefa de transmutar homens em lobisomens é Rick Baker, que já venceu o Oscar seis vezes e tem um extenso e respeitável currículo. Já trabalhou em “Um Lobisomem Americano em Londres”, “HellBoy”, “Homens de Preto”, “O Professor Aloprado” , “ Star Wars IV- Uma Nova Esperança” e muitos outros. Já o figurino conta com a excelente Milena Canonero, que também já ganhou o Oscar, três vezes, e já trabalhou em ótimos filmes como “Maria Antonieta”, “Carruagens de Fogo”, “Dick Tracy”, “O Poderoso Chefão 3”, e destaque para os clássicos kubrickianos: “Barry Lyndon”, “O Iluminado” e “Laranja Mecânica”.
Ainda assim, alguns defeitos são visíveis em seu andamento. Com um primeiro ato impecável, somos envolvidos pela história e nos apegamos aos personagens e suas motivações. Já do segundo ato para frente, o decorrer lento acaba, em muitos momentos, sendo ligeiramente incômodo, e o desfecho se dá de forma um pouco apagada, enquanto poderia ser mais retumbante, por se tratar de um filme que faz um paralelo aos clássicos. Existem também alguns momentos nitidamente forçados, quase caricatos aos filmes de terror, como quando a criança que foge para a floresta escura onde está a terrível besta. Mas, novamente lembramos que, se considerarmos o fato de que a obra age como uma homenagem, tais exageros se tornam irrelevantes, não influenciando tanto o resultado final.
O time de atores é muito competente. Benicio Del Toro sempre entrega atuações no mínimo interessantes. Homem de poucas palavras, mas de fisionomia sofrida, Talbot é ator na cidade de Londres, local para onde foi mandado depois de um surto mental que teve em sua infância. Ele presenciou algo perturbador envolvendo sua mãe e pai, e nunca mais se recuperou totalmente. Del Toro capta perfeitamente o espírito do personagem, trazendo a normalidade que apenas os espectadores podem entender. Ao trabalhar muito com suas expressões, o ator prende a atenção do espectador, jogando com a dualidade de mocinho e vilão.
A jovem Gwen, interpretada pela atriz em ascensão Emily Blunt, é pura bondade. Viúva jovem, a moça se vê atraída por seu cunhado, e seu ímpeto de ajudá-lo, mesmo ele sendo um estranho, acaba desafiando a razão. Blunt é uma revelação. Seu talento e vontade de entregar bons papéis com certeza à ajuda no momento em que suas motivações podem se mostrar um pouco dúbias. No papel de Sir John Talboat temos o sempre excêntrico Anthony Hopkins. Vivendo de forma isolada após a morte de sua mulher há muitos anos, Sir John é um homem perturbado. Como sempre, Hopkins alcança um resultado excelente interpretando alguém que não bate bem da cabeça. Mas com seu Sir John, o ator explora camadas diferentes de emoções, usando de contrapontos de personalidade para incrementar seu papel, mas ou menos como Del Toro.
Por fim temos o detetive Aberline, vivido por Hugo Weaving. Homem irônico e oportunista, ele se vê no meio de uma vila onde existe um verdadeiro devorador de homens que precisa ser impedido urgentemente. A pergunta que fica é: como ele poderá lidar com algo tão além de sua realidade? Weaving também capta bem o espírito de seu personagem, mesclando em seu sarcasmo periódico, certa admiração mediante a revelação da besta.
“O Lobisomem” pode não entrar para história ou ser lembrado por todos como um marco do gênero, mas certamente conquistou seu lugar ao sol. Muito bem produzido e dirigido, é um filme belo e conceitual, que aprimora a linguagem utilizada em clássicos de terror. Apesar de alguns defeitos, é uma ótima opção em uma tarde chuvosa digna de um conto de terror europeu.
Ronaldo D`Arcadia
cinemacomrapadura.com.br
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