Educação
Seguindo os passos do amadurecimento da garota Jenny, o filme surpreende em todos os quesitos. Jogando-nos de forma abrupta em meio a uma família de classe média inglesa dos anos sessenta, o longa tece sua interessante história em torno da eterna questão do certo e errado, quem tem a razão?
Seguindo os passos do amadurecimento da garota Jenny, o filme surpreende em todos os quesitos. Jogando-nos de forma abrupta em meio a uma família de classe média inglesa dos anos sessenta, o longa tece sua interessante história em torno da eterna questão do certo e errado, quem tem a razão?
“Educação” nasceu para chamar atenção. Há muito tempo não temos um exemplar tão criativo e revigorante como o filme em questão. Abordando de forma inteligente os anseios de uma garota dividida entre uma boa faculdade e o amor proibido, o filme mexe com nossas convenções, oferecendo diversos ângulos para uma mesma realidade.
A história começa nos apresentando Jenny, uma bela inglesinha que se dá muito bem na escola, muito bem mesmo. Conduzida pelos seus pais a um comportamento disciplinado e correto, a garota tem como objetivo único ingressar na renomada universidade Oxford. Claramente que algo, ou melhor, alguém, entrará em seu caminho fazendo com que a jovem questione suas escolhas para o futuro. Esse alguém é o sedutor David, homem mais velho, que se mostra um perfeito cavalheiro e que, aparentemente, tem intenções honestas e honradas.
Primeiramente os pais de Jenny se sentem incomodados com este possível envolvimento da filha, mas diante do pretendente os dois se rendem mediante aos argumentos quase sempre irrefutáveis do homem. A relação entre o casal se desenvolve, mas David possui algumas surpresas que podem colocar em cheque esta relação.
Dirigido de forma impecável pela diretora dinamarquesa Lone Scherfig, “Educação” é um grande candidato a clássico instantâneo. Já nos inspirados créditos inicias percebemos que a experiência será proveitosa, tudo isso aliado a uma trilha sonora excelente (nada melhor do que um rock n’roll sessentista, não é?). Muito bem escrito, o texto mexe com temas complicados. Explorando de forma impiedosa todas as falhas dos padrões ingleses de comportamento de outrora, o filme sempre se posiciona em um local a prova de balas, onde o correto e o errado andam de mãos dadas, em uma linha tênue, que pende junto com o pensamento do público. Como um soco no estomago, as reviravoltas conseguem surpreender de forma excepcional, nos colocando por diversas vezes na lona. Nossa torcida por algo que parecia muito provável, se torna banal mediante ao balde de água fria chamado realidade.
Flertando com o conhecido fetichismo por garotas jovens, o filme é de um contra ponto brilhante, pois age como um “Lolita” moderno que ambienta no passado o tema. Enquanto o “Lolita” original (do mestre Kubrick) é marcado pela sensualidade exagerada de uma jovem garota em uma época onde o público tradicionalista ainda dava passos largos, “Educação” faz seu jogo trazendo este tema as avessas, tanto cinematograficamente como culturalmente, pois nos dias de hoje, tais convenções que visam a honra de uma filha já foram esquecidas há tempos e são até incompreensíveis para muitos jovens. O filme trabalha então como um revitalizador dos bons costumes, sejam eles para o bem ou para mal, certos ou errados.
Carey Mulligan, que interpreta Jenny, está excepcional no papel principal. Muito inteligente e antenada no mundo artístico, a personagem se vê fascinada por um homem culto e cativante. Sua rebeldia, por assim dizer, parece totalmente acertada mediante as expressões tristes e vazias, com ares de inveja, das mulheres que a desaprovam. Toda cultura e felicidade que ela tem acesso ao lado de seu prometido se mostra justa. Mulligan, que tem vinte e cinco anos, interpreta a adolescente de forma grandiosa, e assim como a obra está entre os dez indicados para melhor filme, a jovem atriz está entre as cinco escolhidas para concorrer a estatueta de melhor atriz, disputando diretamente com nomes de peso como Meryl Streep e Sandra Bullock. Uma vitória improvável, mas uma indicação merecida.
Como o carismático David temos o excelente Peter Sarsgaard, que tem bons filmes em seu currículo e alguns nem tanto. O ator está excelente como este facetado personagem que a todo momento instiga a desconfiança de quem o vê. Aparentemente um homem bom e articulado, David parece não compreender o tamanho da situação em que está se envolvendo.
Vivendo os amigos boêmios de David estão: Dominic Cooper, como o bon vivant Danny, e Rosamund Pike como a sonsa Helen. Cooper, que fez o musical “Mamma Mia”, perde o tom em alguns momentos, mas não chega a comprometer nenhuma cena. Já a linda atriz Pike se sai muito bem com sua personagem inusitada que é dona de um intelecto duvidoso e parece constantemente anestesiada pela vida fácil e banal que leva.
Alfred Molina entrega uma interpretação incrível do inusitado pai Jack. Típico britânico muquirana, Jack transpira medo. Preso de forma absurda as convenções e padrões rígidos da época, o homem tem um bom coração, mas não sabe lidar direito com as emoções, por isso fala pelos cotovelos como se fosse um maluco. Cara Seymor também alcança a cumplicidade exata para a mãe Marjorie. Mulher de olhar triste, ela vê nas realizações da filha uma vida plausível longe de toda a regularidade britânica de um casamento. Fechando com chave de ouro temos Emma Thompson como diretora da escola de Jenny e Olivia Williams que faz a correta e compreensiva professora Miss Stubbs.
“Educação” é um filme incrível, que explora os erros e acertos das opções tomados pela jovem Jenny. A obra não escolhe lados e demonstra que, seja como for, os caminhos que tomamos sempre encontrarão dificuldades que pareceram maiores do que nós. O importante é fazer aquilo que é certo no determinado momento, mesmo que no final tudo de errado. É preciso se machucar para conhecer a dor, é um processo natural da vida.
Ronaldo D`Arcadia
cinemacomrapadura.com.br
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