Não Sei Como Ela Consegue: nada de novo no front deste longa
Sarah Jessica Parker estrela filme que patina entre os gêneros e não consegue ser nem comédia, nem drama e nem romance. E sua falta de propósito é positiva.
Avaliação: nota 6
Lá está Sarah Jessica Parker, correndo de salto alto pelas calçadas da metrópole e com um sobretudo que arranca suspiros de desejo de todas as meninas da sessão. Ela abre um sorriso brilhante, que reluz sob o sol, para falar com sua amiga e, de repente, percebe que está com piolhos. Seu casaco também está sujo com os restos da torta que preparou na noite anterior. E se ela corre, é para não chegar atrasada ao trabalho. Definitivamente não é de Carrie Bradshaw, sua personagem em “Sex and the City”, que estamos falando. Aqui ela é apenas uma consultora do ramo de negócios e também dona de casa, babá, esposa, cozinheira, conselheira e todos aqueles atributos da mulher moderna.
Mesmo soterrada por pilhas de mamadeiras, brinquedos de apito e tabelas financeiras, Kate arruma tempo para estar bonita – embora um tanto despenteada – e com bíceps de matar de inveja qualquer rapaz de academia. É o efeito Carrie Bradshaw impregnado em suas personagens. A vida atribulada de Kate é o mote principal de “Não Sei Como Ela Consegue” e suas reflexões – embora um tanto rasas – tentam traçar um comentário sobre a situação da mulher depois da sua efetiva inserção no mercado de trabalho e a forma pela qual ela busca conciliar vida profissional e familiar. Nada muito sério, é claro, mas o filme deve satisfazer mulheres independentes financeiramente que lidam com os mesmos dilemas todos os dias.
E para nossa felicidade, o longa não escorrega para o didatismo barato ao propor soluções e impor escolhas. Pelo contrário, embora seu roteiro seja raso como um prato, o filme não defende a ideia de que a mulher deve escolher uma das opções para ter uma vida plena, e muito menos que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal pode salvar sua pele. A mensagem de “Não Sei Como Ela Consegue” é: você é uma mulher do século XXI e não vai ter a vida tranquila que sempre sonhou. Então faça malabarismos com o seu tempo, diminua suas horas de sono e tente equilibrar todos os âmbitos envolvidos. As crises continuarão, mas é isso mesmo.
O longa é dirigido pelo pouco conhecido cineasta Douglas McGrath, cujo último filme de destaque, “Confidencial”, foi lançado em 2006. Seu projeto mais famoso talvez seja a participação no roteiro de “Tiros na Broadway”, de 1994, ao lado de Woody Allen. Aqui, McGrath fez um filme sem grandes traços de originalidade, mas ganha pontos ao mesclar a trama principal com os comentários em primeira pessoa de alguns personagens, como uma espécie de documentário informal. A coisa funciona assim: depois de cada sequência importante na história de Kate, são inseridos os depoimentos de algumas pessoas, em primeiro plano, sobre as atitudes da protagonista e as possíveis consequências que enfrentará. E esses momentos são, de longe, os mais interessantes e engraçados do longa. Esteja atento aos comentários construtivos e inteligentes da senhora na academia e aos pensamentos frios e descompensados da assistente de Kate.
Nesse ponto, fica nítido que quase todo o humor do longa foi transferido para os personagens secundários, enquanto Kate funciona como vitrine-alvo dos comentários e piadas. Talvez se tais coadjuvantes recebessem um tratamento mais adequado e ganhassem algum destaque, o filme se tornaria mais divertido. Mesmo assim, como foi dito acima, a estratégia de “Não Sei Como Ela Consegue” é ter uma trama que opta por não se definir de acordo os gêneros mais tradicionais para um filme com aquelas características. Ele não é comédia, nem romance e passa longe do drama. Assim, com um equilíbrio meio torto, temos espaço para acompanhar um pouco de cada situação.
Não vá ao cinema imaginando que está diante de um tratado cinematográfico em defesa do feminismo ou de uma ode ao caráter ambivalente da mulher moderna. Também não espere por risadas de doer a barriga e nem por lágrimas sentimentalóides. A mensagem de Kate é a busca do equilíbrio, por mais chato que ele possa ser. O formato do filme também aposta nisso.
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Jáder Santana é crítico do CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.
Jáder Santana é crítico do CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.
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