Avaliação: NOTA 5
 
 


Primeiramente foi a vez do dia dos namorados e Los Angeles se unirem para receber as múltiplas e péssimas tramas escritas por Katherine Fugate e dirigidas por Garry Marshall em “Idas e Vindas do Amor”. Agora Nova York, ainda ornamentada pelos enfeites de Natal, serve como cenário para uma “Noite de Ano Novo” (que, na verdade, é um dia inteiro) recheada de atores famosos em papéis majoritariamente medíocres, cujas histórias, em algum momento, sentem a necessidade de dialogar. Sem fazer rir ou emocionar, o filme se sustenta em escassos momentos de boas escolhas do roteiro, que mais parecem deslizes que deram certo.

Desta vez, dentre eles estão Michelle Pfeiffer, Robert De Niro e Hilary Swank. Isso mesmo, o hall de atores de calibre cresceu inexplicavelmente, enquanto outros bons nomes merecem também ser citados, como Halle Berry, Sarah Jessica Parker, Katherine Heigl e Abigail Breslin. Já a lista dos jovens metidos a adultos, mas que não conseguem negar sua infantilidade, é novamente mal liderada por Ashton Kutcher e Jessica Biel, que agora contam com a companhia de Zec Efron e Lea Michelle (nomes do momento, claro, não poderiam faltar). Pronto? Que nada. Porque ainda há espaço para Jon Bon Jovi atuar, cantar e provar que jamais deveria deixar o microfone de lado.

O roteiro de Katherine Fugate opta por ignorar o primeiro filme e trazer tramas novas, que até contam com interpretações dos mesmos atores, como Kutcher e Biel. O que não se repete também é a hierarquia explícita de “Idas e Vindas”, que destacava núcleos em detrimento de outros, o que facilitava e ajudava a edição. Aqui todos são classificados, aparentemente, com a mesma importância. Não por acaso as quase duas horas de duração soam bem mais longas. Por outro lado, “Noite de Ano Novo” é beneficiado pelo seu próprio título, que não limita sua temática em histórias de amor marido-esposa e namorado-namorada. Desta vez, as relações pais-filhos ganham destaque, amadurecendo, mesmo que pouco, a narrativa.

Ainda assim, o público é obrigado a acompanhar uma dia no mínimo estranho na vida de Ingrid (Michelle Pfeiffer), uma mulher independente que entra em crise depois de uma mera queda e decide cumprir uma lista de desejos até a meia-noite, a qual inclui ir até Bali, aproveitar o embalo e dar a volta ao mundo. A situação ficaria menos pior se um tal de Paul (um Zac Efron duro de assistir) não se intrometesse no seu caminho, trapaceasse seus sonhos em prol de entradas para uma festa e, mesmo assim, ainda fosse capaz de agradá-la. E dessa forma, sem conseguir explicitar as angústias e os medos de seus personagens e fazendo os mesmos sentimentos desaparecerem porque, afinal, “é ano novo”, o filme demonstra que ainda está longe de atingir a maturidade.

A mesma sensação se repete com os respectivos núcleos de Hillary Swank, cujo dilema é fazer a bola de réveillon da Times Square não descumprir uma tradição, Katherine Heigl, como uma chef de cozinha que não sabe se aceita ou não o pedido de desculpas do cantor famoso que já foi seu namorado, e, óbvio, de Ashton Kutcher, como um mimado rapaz que odeia o fim de ano por motivo medonho e que se vê obrigado a repartir o elevador quebrado com uma garota (Lea Michelle) que parece ser o seu oposto. Não é spoiler dizer que os dois, posteriormente, se apaixonam, e têm o primeiro beijo interrompido por outro fato que é ainda mais vergonhosamente previsível. Mas é novidade afirmar que Michelle é forçada a cantar em pleno elevador, enquanto Bon Jovi cantarola em outro palco, apenas para que a música sirva de trilha para aquela clássica passagem simultânea por todas as histórias. Não estranhe se também achar, por um momento, estar assistindo a um horroroso musical.

Felizmente, os maus momentos são, em parte, compensados por outros que têm na simplicidade sua principal característica. Uma mera tradição familiar é o que motiva Stan Harris (Robert De Niro) a manter-se vivo, mesmo que sua saúde não coopere. Ele é tratado por Aimee (Halle Berry), uma enfermeira que não pode estar fisicamente ao lado de seu amado. Já Kim (Sarah Jessica Parker) é a dedicada mãe da adolescente Hailey (Abigail Breslin), que deseja passar a virada de ano ao lado do paquera, mesmo sem autorização. Claro que a simplicidade não dura muito e é, ao final do longa, substituída por aquela necessidade que Fugate tem de ligar todas as tramas, transformando novamente o longa num jogo de adivinhação de extremo mau gosto.

Mas nada supera as falhas tentativas da roteirista em incluir comédia, bem representada por uma Sofia Vergara padrão “Modern Family” e pelo núcleo estrelado por Jessica Biel, como uma grávida que, ao lado do marido, disputa com outro casal um prêmio em dinheiro para quem primeiro der a luz em 2012. E dessa forma, sem graça e sem lágrimas, também devido a um Garry Marshall novamente em piloto automático, “Noite de Ano Novo” monta seu palco para que mais e mais atores desfilem em uma disputa por popularidade, que está ficando cada vez mais acirrada e, nem por isso, melhor.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema