Avaliação: NOTA 7
 


O primeiro filme da saga de um super-herói nos cinemas deveria ser o melhor dos episódios. É quando há mais história a ser contada. É quando a fantasia deveria estar mais presente, especialmente no processo de transformação de um homem comum em outro mega poderoso.

 É quando o protagonista aprende a lidar com as suas limitações (ou falta de) e enfrenta as primeiras ameaças.  Mas Hollywood soa demasiadamente infantil e previsível em suas estreias do gênero. Que o diga “Homem-Aranha” e “Batman Begins”, filmes que ganharam continuações reconhecidamente superiores.

Diferente das franquias citadas, porém, “Poder sem Limites” não tem um rico material de origem para se basear. Por outro lado (este sim positivo), não possui uma legião de fãs exigindo respeito com o personagem e seu criador. Por esses motivos, a produção permite-se ousar e arrisca-se em um estilo documental marcante que ainda possibilita a problematização da temática que aborda, dando aos seus heróis um aspecto humano ainda maior que desagua em um desfecho surpreendentemente pouco comercial que afasta quaisquer comparações com outros longas de trama semelhante.

A história centra-se em três adolescentes de uma metrópole americana, Andrew Detmer (Dane DeHaan), seu primo Matt Garetty (Alex Russel) e o colega Steve Montgomery (Michael B. Jordan). Durante uma noitada que poderia ser de bebedeira e zoação, o trio encontra um misterioso buraco escondido em meio a uma área arborizada. Curiosos, eles adentram o local, mantendo contato com um luminoso e desconhecido material, que dias depois lhes concede poderes. De jovens comuns, eles, então, se transformam em garotos capazes de mover objetos apenas com o poder da mente. No entanto, à medida que seus poderes crescem, eles passam a ter mais dificuldade de controlá-los, especialmente Andrew.

Dirigido pelo estreante na função Josh Trank, a produção tem como grande diferencial sua proposta documental, a qual é mais comum em suspenses sobrenaturais, como “A Bruxa de Blair” e “Atividade Paranormal”. Cabe ao verdadeiro protagonista, Andrew, registrar o seu dia-a-dia com uma incansável câmera, não só captando momentos marcantes, como outros de maior irrelevância, seja ao filmar o primo dançando e cantando no carro ou a apresentar sua escola detalhadamente.  A opção narrativa não só surge como novidade, como também ajuda a mexer com o imaginário do público.

Sem exageros, Trank transforma seus heróis em pessoas ainda mais comuns, que podem morar na casa ao lado. Dessa forma, torna-se bastante interessante vê-los aprender a lidar com suas novas capacidades e fazer delas motivo de brincadeira. Com uma montagem esperta, o filme evita, em seu início, um didatismo que contrariaria sua proposta, exibindo seus personagens mexendo legos com o pensamento para pouco depois mostrá-los voando pelos céus.  A edição, porém, perde ritmo a partir do segundo ato, fazendo o filme parecer mais longo do que seus 83 minutos. A falta de trilha sonora contribui consideravelmente para tal sensação.

Josh Trank vacila ainda tecnicamente em seu desfecho ao fazer das câmeras quase objetos  de vida própria, que devem estar necessariamente presentes, desviando dos prédios da cidade, assim como Andrew e Matt. Na ânsia de registrar o ápice de sua trama, o diretor perde realismo. Na verdade, as justificativas para fazer da filmadora um item essencial na experiência de seus personagens principais jamais soam inteiramente naturais. Por outro lado, o cineasta destaca-se ao mudar diversas vezes seu ponto de vista. Dessa forma, quando a câmera principal falha ou está distante do acontecimento, está lá o circuito interno de algum estabelecimento ou o celular de um desconhecido registrando o possível.

Outros pontos positivos de “Poder sem Limites” devem ser creditados ao roteiro, sob responsabilidade de Max Landis. Universalizando e problematizando a condição dos rapazes, a história jamais idealiza-os. Aqui não temos verdadeiros heróis nem vilões, apenas garotos (mais especificamente um, Andrew), assim como quaisquer outros, cheios de problemas particulares, os quais buscam sanar da forma que julgam mais correta. O problema está nesse julgamento. E a imaturidade desses adolescentes impossibilita um percurso pacífico. Nesse sentido, a produção surpreende com seu ato final tortuoso, que poderia ser ainda melhor se capaz de aprofundar suas discusões e relações entre personagens.

Com efeitos especiais que supreendem para uma produção de US$ 15 milhões e um elenco de pouca experiência que não se destaca, o filme é uma diversão juvenil passageira que, mesmo diante de algumas visíveis falhas, apresenta um caminho diferente para películas sobre super-heróis, ou melhor, rapazes comuns de capacidades atípicas. Uma novidade que vale assistir!
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.